Ronald Freitas: Uma Opinião
Parte 2
O Partido é sem dúvida o fator dirigente e o organizador indispensável da luta política revolucionária que nos propomos a realizar. Mas nesse terreno também, o fim da experiência soviética também gerou consequências em conceitos e formas de organização partidária. O PCdoB, tem sido ousado em buscar dar respostas que os desafios de construir um partido moderno e contemporâneo ao Brasil atual. Os estatutos aprovados no 12º Congresso são a expressão desses esforços.
Por Ronald Freitas*
Publicado 15/10/2013 11:23 | Editado 13/12/2019 03:30
A compreensão de que tendo a ideologia como guia, o Partido se constrói a partir da política, da disputa do poder, abriu horizontes a construção e atuação partidária. A título de exemplo, cito a política de acolhermos em nossas fileiras, personalidades públicas, tais como intelectuais, professores, artistas, esportistas, etc., que sem uma militância política anterior em nossas fileiras, filiaram-se ao Partido, e desenvolvem sua atividade dentro de nossas fileiras, contribuindo para o nosso fortalecimento político. Tendo alguns sido eleito a mandatos parlamentares. Essa política, tem fortalecido o Partido junto a sociedade, pois ajuda a quebrar preconceito quanto aos comunistas. Nos torna mais próximo de setores de extração popular, como artistas e religiosos, bem como de setores acadêmicos e intelectuais, setores que se aproximaram do Partido por verem nele, uma força política séria e comprometida com os interesses nacionais e sociais de nosso país.
Outro desafio, que deriva da nossa atuação é o de como compreendemos o papel do Estado no processo de construção do socialismo. Baseados nas experiências históricas do campo soviético, desenvolvemos um entendimento de que socialismo é sinônimo de um Estado altamente centralizador do planejamento e da execução da atividade econômica, onde o mercado não tinha papel a desempenhar no processo de construção da base econômica do socialismo, e que o papel da esquerda no poder, é estatizar o maior número possível de ramos da economia. A experiência demonstrou que essa orientação para a construção da base econômica do socialismo, fracassou. Hoje naqueles países que se posicionam como socialistas, e que vivem processos de construção socioeconômica diversificados, uma coisa ressalta como denominador comum, todos desenvolvem políticas econômicas onde em maior ou menor grau, o Estado flexibiliza o planejamento central, e nas relações econômicas, ao lado de um forte setor estatal, existe um importante setor privado, que contribui para a construção da base econômica do país. Sob as mais variadas formas, o estabelecimento de parcerias entre o capital estatal e o privado, inclusive estrangeiro, passou a ser uma realidade nas experiências socialistas em curso no mundo.
Entre nós, o problema também se coloca, embora dentro de um contexto de país capitalista, governado por uma coalizão de centro-esquerda, sob hegemonia de um partido de feição socialdemocrata.
Deve esse governo abrir setores importantes da economia, que são estatais, ou que até recentemente foram, a participação do capital privado? Justificam-se as políticas de Parcerias Público Privadas (PPS); Concessões; Leilões etc.?
Entendo que sim. Um país como o Brasil, de desenvolvimento capitalista médio, mas ainda pobre e detentor de uma desigualdade social gigantesca, um dos elementos de acumulação de forças políticas e sociais, é a necessidade de um crescimento econômico expressivo e atingido rapidamente. Para isso necessitamos de uma taxa anual de investimento, da ordem de 25% do PIB. Atualmente giramos em torno de 16/17%. Para atingirmos esse patamar de investimento, necessitamos de mobilizar todas as fontes recursos disponíveis, de origem estatal, e privada, nacional e estrangeira.
O papel do Estado e do Governo, nesse processo é o de estabelecer regras claras de como esses recursos serão mobilizados e aplicados, em função da construção de um Brasil: Soberano, Democrático, Socialmente Justo. Onde a inescapável existência do lucro privado, não seja o principal vetor a orientar o processo de desenvolvimento, mas que a busca da elevação do padrão de vida dos trabalhadores e do povo em geral, a construção de um parque industrial moderno, com tecnologia avançada e sob controle nacional, o estabelecimento de políticas públicas universais e realmente aplicadas para a saúde, educação, moradia, transporte, sejam partes integrantes, de forma destacada, desse processo de desenvolvimento.
A árdua luta pela construção de um Brasil Socialista, passa necessariamente pelo processo de construção e fortalecimento da nação em todos os terrenos, e desafia os comunistas brasileiros, a desbravarem esses caminhos, com base nos postulados teóricos e políticos estabelecidos por Marx, Lenin e outros grandes revolucionários, e tendo os pés bem fincados em nossa realidade. O PCdoB está enfrentando esse desafio e tem obtido êxitos.
* Ronald Freitas é secretário nacional Institucional do PCdoB e Membro do comitê central.