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Elza Campos: Investir mais no protagonismo das mulheres

Já faz muitos anos que o PCdoB colocou em maior destaque a necessidade de intensificar o trabalho partidário com as mulheres brasileiras, realizando conferências nacionais partidárias e criando um Forum específico para elaborar análises e proposições voltadas a essa parcela fundamental da população.
Por Elza Maria Campos *

Isso foi reflexo do entendimento de que não é possível se pensar em efetivo avanço revolucionário e civilizatório sem que as lutas por isso incorporem contingentes cada vez maiores de mulheres. A estratégia socialista do PCdoB não é factível sem participação não só expressiva, como decisiva, das mulheres nas lutas de classe em nosso país.

Pelos meandros da sociedade brasileira e de sua política, os movimentos de mulheres vão batalhando cotidianamente por igualdade de direitos, na remuneração do trabalho, no acesso aos postos de representação, nas oportunidades de ascensão e melhoria de qualidade de vida etc. Tais embates, no seio da sociedade capitalista brasileira, têm como norte a superação da opressão patriarcal e da exploração, que recaem com mais força sobre as mulheres, subjugadas por uma ideologia que trava a efetiva emancipação do gênero humano.

Alexandra Kollontai defendeu, no processo da revolução russa, como proposta dentro do programa do movimento da classe trabalhadora, os objetivos da luta feminista. Aquele movimento revolucionário propiciou a conquista de direitos para uma igualdade sexual, porém, na prática, velhas amarras culturais ainda continuavam a “enjaular” a mulher, confinando-a na esfera doméstica através da reprodução e das próprias tarefas “do lar”, condições que até hoje aprisionam muitas mulheres e as impedem de ter plena participação política.

Neste campo, o da participação nos espaços de elaboração e decisão políticas da esfera pública, em que pese muitos avanços, há que se reconhecer estarem as mulheres ainda bastante subrepresentadas. Nos parlamentos do Brasil, por exemplo, estamos em condições muito aquém do que já se andou em países como Equador, Costa Rica e Bolívia. Isso, num país que alçou-se ao patamar de sexta economia do mundo.

Em que pese a eleição da primeira presidenta na história da República brasileira, fato muito positivo e carregado de simbolismo estimulante às mulheres, prossegue ainda muito tímida e lenta a ocupação feminina de mais espaços de participação politica.

É necessário enfrentar isso com postura ativa, iniciativa, exemplo. O PCdoB possui intervenção destacada de mulheres militantes em mandatos parlamentares e posições executivas, e em seu Estatuto assegura a cota mínima de 30%, mas é preciso ousar mais. Dar mais demonstrações de que um partido comunista quer efetivamente incorporar muito mais mulheres à luta política e partidária.

A Reforma Política é uma das bandeiras estruturais inscritas em nosso Programa Socialista e, neste ano coalhado de manifestações de rua, ela foi novamente colocada com relevo na pauta nacional. Dentre importantes propostas para uma efetiva reforma política democrática, avulta para nós o chamado voto em lista partidária fechada. Proposta à qual foi acrescida a necessidade da alternância de gênero, que entendemos ter sido encampada pelo PCdoB. A lista fechada com alternância de gênero admite, implicitamente, uma representação meio a meio entre os gêneros.

Ora, se um partido avançado admite compor uma instância representativa tão importante como uma bancada parlamentar com 50% de homens e 50% de mulheres (claro, cuja resultante eleita dependerá do voto popular), por que não pode ele, em suas direções principais, a começar o Comitê
Central, admitir a mesma composição, que reflete, aliás, a composição percentual da população brasileira?

Concretamente, propomos avançar além do percentual de 30% de mulheres nas direções nacional e estaduais do PCdoB, rumo à paridade, a partir deste 13º Congresso. Isso demonstrará a vontade política das (os) comunistas de efetivamente se lançarem ao esforço de trazer mais mulheres ao processo dirigente, de apoiar, educar e formá-las para as lutas. Isto também requererá o concurso maior da política de quadros e da área de formação, mas acreditamos que os frutos serão positivos no sentido de um PCdoB ainda mais extenso entre as mulheres brasileiras, buscando investir ousadamente em maior protagonismo das militantes à frente do partido.

O grau de emancipação das mulheres é o termômetro
através do qual se mede a emancipação de toda a sociedade”

Charles Fourier

*Elza Maria Campos é Membro da Coordenação do Fórum Nacional Permanente Sobre a Emancipação da Mulher do PCdoB.