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Robson Silva: PCdoB; aumentar o protagonismo para avançar

A constituição de um Partido Comunista no Brasil não pode ser compreendida por seu grau de inserção na estrutura do Estado burguês, mas pelo seu grau de inserção entre as amplas massas da classe trabalhadora ou daqueles que não são possuidores de meios de produção, a não ser sua própria força de trabalho.
Por Robson Silva*

Sabemos que a participação institucional pode requisitar grandes energias de camaradas destacados para tal tarefa. Talvez o problema ainda não resida aí, pois quadros bem formados e imbuídos da luta política em cursos saberão compreender o seu verdadeiro papel. O contrário é degenerescência.

As teses do 13º Congresso colocam a nós comunistas grandes desafios na compreensão da realidade política do país, a leitura equivocada desta realidade pode nos afastar do desejo que eclode do povo por ampliação das condições básicas promovida pelo aumento da renda nesse mais de dez anos de governo Lula-Dilma.

Já a melhoria no padrão de consumo não pode ser colocado como um elemento absoluto, pois ainda há muitas carências estruturais. Há grandes contradições presentes e que precisam ser sanadas para que flua através dos poros da sociedade o debate sobre a constituição programática de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND). Para isso, é necessário compreender a correlação de forças no campo do pensamento econômico e social que determina a estratégia do governo atual para superar as deficiências infra-estruturais do país.

A contribuição de um partido marxista-leninista que atualiza constantemente a análise da realidade pode jogar um importante papel na construção de ideias que muito pode contribuir para a compreensão política do embate em curso. Daí decorre a crítica que a via institucional sem lastro consistente é um corpo sem osso, não tem como se firmar em pé.

Assim como Lenin nos ajuda a pensar que o processo revolucionário tem vias tortuosas, como ocorreu no Tratado de Brest-Litovsk. A seara atual remete grandes desafios e escolhas estratégicas que podem ser contraditórias em um primeiro momento, mas que somente o treino da lógica dialética na sua expressão concreta e histórica pode prover a percepção da realidade objetiva.

O povo brasileiro construiu um país que possui particularidades que destoam de determinados padrões de desenvolvimento, sobretudo quando nos confrontamos com as teses que diziam que o país teria que passar pelo subdesenvolvimento como precondição para estágio seguinte. Estes argumentos malandramente visavam produzir resignação acerca da condição de país subdesenvolvido. Então, uma pergunta: quais países desenvolvidos passaram pela condição de subdesenvolvimento? Países como a antiga URSS, a China tiveram que buscar a via de seu desenvolvimento autônomo sem se preocupar com taxonomias de plantão. É necessário pensarmos um modelo com característica brasileira se se aferrar a modelos que nada contribuem para o nosso processo civilizacional.

A crise europeia aponta para lições importantes. É possíveis as condições econômicas se degradarem a termo de sociedades tida como desenvolvidas retrocederem as condições econômicas e sociais de seu povo? Esta é uma pergunta que deve ser analisada cuidadosamente, pois indícios como o alto patamar de desemprego, recessão, retrocesso em direitos trabalhistas e alto custo de vida para padrões de regressão da renda e do PIB de sua economia. Resta aos estes trabalhadores lutarem ou sucumbirem, pois o capitalismo não será parcimonioso em fazer valer seus interesses.

As lições que o Brasil pode tirar desta crise econômica mundial são muitos. Mesmo com o ciclo de crescimento que o país vem usufruindo, é necessário dinamizar os setores onde já se adquiriu competitividade e produzir condições de produção de ciência, tecnologia e inovação e diversificar a matriz de composição do PIB. Sem investimentos estruturantes e uma visão de médio e longo prazo o país fica suscetível a contra-medidas que visam mantê-lo na posição de vendedor de matéria-prima, de país saqueado em suas riquezas e na posição subalterna na divisão internacional do trabalho. A National Security Agency (NSA) constitui-se em um desses instrumentos operados para manter a hegemonia dos EUA no mundo através de espionagem econômica e de autoridades do país.

A luta política que se trava nestes últimos dez anos, e que terá desfecho em 2014, está em jogo se o Brasil quer ser uma “global player” ou vender de commodities de alimentos controlado por grandes corporações de capital forâneo ad infinitum. A alternativa é fortalecer e impulsionar movimentos que visem lutar por reformas estruturantes.

Para travar este debate com os seus parceiros estratégicos, o PCdoB precisa se fortalecer entre os trabalhadores, na opinião pública, entre a intelectualidade, ou seja, no chão por onde as ideias são efetivamente travadas. A via institucional não pode ser a centralidade de todas as ações partidárias, uma vez que a infra e super-estrutura do Estado burguês também possui um lógica própria de seu funcionamento. Não quero dizer com isso que a institucionalidade não é importante na seara da luta política, mas é preciso ter sentido estratégico a tudo isso.

Em suma, a Tese é uma grande reflexão partidária sobre os desafios que se colocam aos comunistas na atualidade. Nem todas as variáveis estão em nosso controle, mas é por isso que precisamos ter um Partido comunista forte e influente e com grande espírito revolucionário. O Brasil precisa de um Partido comunista forte e enraizados no seio do povo e com capacidade de dialogar com as várias camadas de classe da sociedade brasileira.

*Robson Santos Camara Silva é professor da seção Escola Nacional do Distrito Federal.