Chile: Ex-agentes da ditadura negociariam informação por regalias

A oferta de ex-agentes da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) de prestarem informação sobre o paradeiro de cadáveres, em troca de benefícios na prisão, gerou a rejeição de diversas setores da sociedade no Chile. 

A proposta foi apresentada pelo advogado René López, representante do general da reserva Manuel Contreras, que foi o chefe da Direção de Inteligência Nacional (Dina), sentenciado a 360 anos de prisão pelos assassinatos dos quais participou à frente da polícia secreta de Pinochet.

No último fim de semana, o advogado de Contreras assegurou que tanto o general como outros ex-agentes da Dina estavam dispostos a entregar informação sobre os locais onde se encontram os restos de pessoas desaparecidas, em trocas de regalias na prisão.

Uma das primeiras que reagiu contra a oferta foi Michelle Bachelet, candidata presidencial pela segunda vez, que considerou que não se pode negociar com os repressores que tanto dano causaram a milhares de famílias chilenas.

"Os crimes contra a humanidade não se negociam. Se alguém tem maiores informações, tem que entrega-las. Não fazê-lo é manter a dor dos familiares das vítimas, é manter a ferida que tem nosso país", expressou a ex-presidenta.

Por sua vez, a presidenta do Agrupamento de Familiares de Detentos Desaparecidos (AFDD), Lorena Pizarro, qualificou como hedionda a manobra dos militares da reserva, que cumprem longas penas na penitenciária de Ponta Peuco.

"Parece-me que estamos diante de uma ofensiva muito sinistra e perigosa", exclamou Pizarro aos repórteres. A dirigente e candidata a deputada considerou ainda que se está jogando com a busca de uma verdade que a AFDD reivindica há muitos anos.

Mais de três mil pessoas foram executadas durante a ditadora Pinochet, e delas se desconhece o paradeiro de mais de mil.

"Depende, fundamentalmente, que o presidente da República autorize, um cara-a-cara, uma mesa de diálogo, como queiram chamá-lo, e nos sentamos a conversar. E acho que ninguém vai sair enganado, desde que o presidente cumpra seu acordo conosco. Alguma vez terá que cumprir", manifestou López em entrevista à CNN Chile.

Pouco depois o filho do general Contreras, Manuel Contreras Valdebenito, negou que o advogado tivesse a autorização de fazer esta oferta em nome dos presos, e sobre o caso, disse que seu pai já entregou as informações que tinha ao tribunal de justiça.

Fonte: Prensa Latina