Granma: O destino da África depende somente dos africanos

Em setembro passado, uma delegação da Organização dos Povos do Sudoeste da África (Swapo), liderada por seu secretário-geral, Nangolo Mbumba, conversou com o jornal Granma sobre os desafios deste partido governante na Namíbia e os desafios dos povos africanos no caminho rumo ao desenvolvimento.

Por Claudia Fonseca Sosa, no Granma Internacional

Mbumba se define como um educador, embora tenha ocupado diferentes responsabilidades no governo de seu país, como ministro da Agricultura, Água e Desenvolvimento Rural; Finanças, Informação, Educação e Segurança. Em 2012, foi eleito para o cargo que ocupa atualmente.

"Recebemos o convite do Partido Comunista de Cuba recém ganhas as eleições. Durante nossa estada temos conversado com várias personalidades do governo e vou embora convencido de que continuaremos ajudando-nos mutuamente, fortalecendo nossos vínculos históricos", expressou Mbumba.

A Swapo é um movimento político de massas, surgido em abril de 1960, que contribuiu para libertar a Namíbia do colonialismo do apartheid e da opressão imposta pela África racista.

"Aqui nos encontramos com veteranos internacionalistas que participaram das guerras de Angola, Namíbia e África do Sul. Em Cuba temos muitos amigos e amigas, que juntamente com os negros africanos compartilharam seu suor no campo de batalha, sem esperar nada em troca", acrescentou.

Namíbia é hoje um Estado plurinacional, onde as diferentes etnias se mantêm unidas sob a direção da Swapo, desde sua independência, em 1990. Recentemente esta organização efetuou seu 5º Congresso, onde ratificou seu compromisso com a paz e com a incessante busca do desenvolvimento, em prol de melhorar o nível de vida de cada um de seus mais de dois milhões de habitantes.

"Na Namíbia temos que vencer os vestígios do colonialismo. Temos que incrementar o acesso à educação — que antes era proibida para os negros — bem como potencializar o estudo de carreiras técnicas e de engenharia, pois uma mão-de-obra especializada é essencial para avançar rumo ao desenvolvimento".

"Nestas últimas décadas, Cuba nos ajudou, treinando um número de profissionais em diferentes ramos. Dentro em breve inauguraremos uma segunda universidade, com professores nativos. Nossos governos compartilham o princípio de trabalhar para o povo e nesse sentido compartilhamos experiências, também agora que o Partido Comunista cubano leva a cabo a atualização de seu modelo econômico".

A propósito, Mbumba qualificou o bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba como "uma medida unilateral que tem privado o país dos recursos indispensáveis para o desenvolvimento".

África deve manter-se unida

"Como membro da União Africana (que completou 50 anos de fundada) consideramos que o continente não está muito unido como poderia estar. Apesar de que temos muitos países em paz, como a própria Namíbia, Angola… ainda existem pontos álgidos com conflitos entre as etnias, onde têm lugar tentativas golpistas. Africanos lutando contra os próprios africanos! Um exemplo disto foi o que aconteceu, recentemente, em um centro comercial no Quênia, ou o que acontece dia após dia na Somália, na República Democrática do Congo e no norte da Nigéria".

Segundo Mbumba, na África não só persistem os problemas infraestruturais, de saúde e educação. "Nossos principais desafios têm a ver com problemas na liderança. Ainda não estão claros os conceitos de independência (em todos os sentidos) e de democracia real. Temos que ganhar maior cultura da estabilidade, que é muito necessária para crescer como nação e como continente. A União Africana tem que desempenhar um papel mais ativo neste aspecto".

"A África foi abençoada com muitos recursos naturais, mas se os africanos não somos capazes de organizarmo-nos melhor, não poderemos atingir o desenvolvimento ao qual aspiramos. O destino da África depende somente dos africanos".

América Latina e Caribe fazem parte da nossa história

"Para a maioria dos países africanos os vínculos com a América Latina e o Caribe são naturais, devido ao grande número de escravos que foram trazidos para trabalhar aqui durante os séculos passados. Embora a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) seja ainda uma organização muito jovem, não vejo nenhum problema em estabelecer vínculos de cooperação, comerciais ou outros com a União Africana. Nossos continentes estão unidos pela história. Podemos estabelecer vínculos em patamares superiores".

Fonte: Granma Internacional