Luciana Santos: O equilíbrio das frentes de acumulação de forças 

Há quem levante a opinião — neste profícuo debate que se estabeleceu na Tribuna de Debates do 13º Congresso do Partido Comunista do Brasil – de que existe uma supervalorização da chamada frente “institucional” em detrimento do investimento na frente de luta de massas e na luta de ideias.

Por Luciana Santos* 

Entretanto, o que se constata nos resultados políticos e propriamente eleitorais de nosso Partido durante estes últimos três decênios é que o PCdoB ainda carece de representação parlamentar, fazendo com que sua influência política não esteja suficientemente plasmada em espaços no parlamento e no governo da República, apesar de ter crescido sua força nas organizações de massas e de ter participado significativamente da luta de ideias.

Partimos da análise que o movimento comunista internacional sofreu uma grande derrota com o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, no início da década de 90 e com o abalo profundo na história do campo socialista que se seguiu. Essa constatação levou a uma imposição de defensiva estratégica em nossa posição. O PCdoB só não foi mais atingido pela onda de apostasia e negativismo que marcou a Queda do Muro de Berlim por ter levantado muito antes de 1989 – mais exatamente no início da década de 60 do século passado – críticas contundentes e consistentes ao rumo que estava sendo dado na condução do PCUS, o Partido Comunista da então URSS.

Dentro deste quadro desenhado de defensiva, o PCdoB ao longo do tempo estabeleceu um plano de acumulação de forças, no qual tem um papel importante os projetos de participação institucional e parlamentar no atual ciclo político inaugurado por Lula em 2003 de governos democráticos e progressistas agora continuado por Dilma Rousseff e de vários outros governos estaduais e municipais pelo Brasil afora. É bom lembrar que é bem recente esta decisão do Partido de participação em governos que ajudamos a tornar vitoriosos, se considerarmos o tempo histórico.

Ao lado deste esforço multifacético o Partido também se preocupou com a participação nos movimentos sociais, hoje sendo considerado uma legenda com ampla influência na juventude brasileira, inspirador da maior organização de juventude estruturada em todo o país, a UJS, União da Juventude Socialista, e que tem dado relevante contribuição na organização dos estudantes brasileiros através da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

Da mesma forma foi muito importante o protagonismo do PCdoB na construção da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, a CTB, que em poucos anos se tornou a terceira maior central sindical do Brasil, atuando sempre no sentido de unificar o movimento sindical para poder travar a luta pelos direitos dos trabalhadores brasileiros e assim elevar o seu nível de consciência.

Assim como no movimento sindical o Partido atuou nos movimentos sociais, organizando um Fórum dos Movimentos Sociais para uma atuação mais coordenada das frentes de luta pela emancipação das mulheres, da luta contra as discriminações raciais, de orientação sexual e outras de todo o tipo, da luta pelo movimento pela moradia popular e das sociedades amigos de bairro etc.

Na luta de ideias o Partido lançou como bandeiras da luta pela liberdade e pela democracia no período autoritário que se seguiu ao Golpe Militar de 1964 as consignas do Fim dos atos e leis de exceção, Anistia ampla geral e irrestrita e a luta por uma Constituinte livre e soberana, que se tornaram realidade dentro dos limites da correlação de forças. Já depois de conquistadas estas bandeiras, o PCdoB se notabilizou pela revelação e a denúncia do que ficou conhecido como o receituário neoliberal em nossa terra. Lutou com denodo por uma ampla frente política que se cristalizou na campanha Frente Brasil Popular, que deu sustentação política à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 1989. Depois em 1994 e 1998 defendeu ardentemente que somente uma ampla frente progressista e democrática é que poderia vencer as forças da reação e do conservadorismo, o que se concretizou em 2002, com a vitória de Lula.

Já participando do governo Lula, o PCdoB se preocupou em levantar ao lado da bandeira do avanço social que se mostrou notória no plano de governo inaugurado em 2003, a defesa da soberania nacional através de um Projeto Nacional de Desenvolvimento, questão que aos poucos foi influenciando setores importantes do governo como, por exemplo, na política externa. Atualmente o Partido se destaca na critica à orientação macroeconômica do governo, propugnando alterações na política de juros, na política cambial e no planejamento da política de comércio exterior.

Portanto, é preciso lutar por um equilíbrio entre estas três frentes de acumulação de forças, promovendo uma sinergia entre elas, fazendo com que uma frente contribua com as outras para que possamos avançar na construção de um Partido comunista forte e influente junto às massas que possa dar suporte a um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como está consagrado em nosso Programa Socialista.

*Luciana Santos é vice-presidenta nacional do PCdoB.