Irã mantém proposta nuclear em segredo por proteção e seriedade

Após a conclusão das primeiras conversações nucleares entre o Irã e o Grupo 5+1 [EUA, Rússia, França, Reino Unido e China, como membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mais a Alemanha] desde a eleição do presidente Hassan Rohani, os rumores sobre os detalhes exatos do que ocorreu em Genebra [Suíça] são abundantes.

Grupo 5+1 e Irã - AFP

O conteúdo exato da proposta iraniana, formulada em uma apresentação de Power Point, intitulada “Encerrando uma crise desnecessária e abrindo um novo horizonte”, ainda não está claro.

Entretanto, têm aparecido notícias com supostos detalhes da posição iraniana. Entre elas, autoridades em Teerã, envolvidas nas negociações nucleares, continuam resolutas em sua insistência de que a proposta continuará embrulhada enquanto não houver acordo.

Em uma entrevista ao portal Al-Monitor, o ministro das Relações Exteriores do Irã e chefe da equipe persa nas negociações, Mohammed Javad Zarif, referindo-se às matérias sobre os alegados detalhes da proposta iraniana, negou categoricamente a sua autenticidade.

“Essas são especulações que têm pouco a ver com a realidade”, disse o chanceler persa, mantendo a posição de que “nossa recusa em revelar os detalhes da proposta é um sinal da nossa sinceridade e seriedade”.

Perguntado sobre o anonimato da fonte que alegou ter conhecimento sobre os detalhes da proposta iraniana, Zarif disse: “Nenhum dos nossos envolvidos nas negociações nucleares dão declarações não oficiais. Nós só falamos formalmente”.

Preservar o progresso das negociações

O vice-chanceler persa, Majid Ravanchi, que participou das conversações (inclusive da reunião bilateral com a delegação estadunidense) apoiou as declarações de Zarif.

Também em entrevista ao portal Al-Monitor, ele disse que “o que está na mídia é pura especulação e destoa da realidade. Dissemos no passado, e dizemos outra vez: nossa insistência em manter nossa posição secreta é um sinal da nossa seriedade”.

Horas depois da sua entrevista ao Al-Monitor, Zarif escreveu, em sua página do Facebook, em persa: “fontes confiáveis, para a mídia, não viram o pacote em primeira mão, e é melhor que eles não manchem a sua credibilidade com alegações sobre o conhecimento dos detalhes da proposta (…) manter secretos [os detalhes] das conversações não significa que estamos com medo de revelar o seu conteúdo. Pode-se ter certeza de que não nos preocupamos com tornar público o que resultou das negociações, mas o seu objetivo é alcançar um entendimento, e não vitórias passageiras na mídia”.

A insistência de Zarif sobre nenhum membro da sua equipe dar declarações informações vem uma semana depois do seu anúncio bastante midiatizado sobre não falar mais em particular.

O anúncio, por sua vez, seguiu a alegação do jornal Kayhan de que Zarif havia feito comentários negativos sobre o contato extraordinário com os estadunidenses em Nova York, em uma sessão a portas fechadas, com uma comissão parlamentar.

Apoio popular à diplomacia

As especulações sobre o conteúdo exato da proposta iraniana emergiram entre as reações aparentemente positivas no Irã sobre as conversações em Genebra. Em uma pesquisa de opinião publicada pela agência de notícias Isna, na semana passada, 75% dos iranianos disseram estar otimistas sobre os desenvolvimentos das negociações nucleares.

Além disso, o jornal Asr-e-Iran noticiou os resultados iniciais da pesquisa encomendada por Rohani, para entender o sentimento do público sobre uma relação diferente do Irã com os EUA, e 80 a 90% dos entrevistados se disseram favoráveis a esse desenvolvimento.

A positividade sobre o que aconteceu em Genebra também foi transmitida pelo representante do líder às universidades, que chamou as negociações de “vitória” para o Irã.

Considerando o sentimento generalizado dos iranianos sobre as conversações, e a postura da equipe nas negociações, a questão sobre quem fez os comentários sobre os detalhes da proposta iraniana e por que é colocada.

Especulações e sabotagem

Ainda na semana passada, o correspondente da agência Associated Press (AP) em Teerã, Mehdi Fattahi, postou no Twitter: “Os radicais organizaram protestos, exigindo que o governo seja ‘transparente’ e divulgue os detalhes completos das conversações com o G5+1”.

Fattahi disse ainda que os organizadores das manifestações, que aconteceu na sexta-feira (18), após as orações, na Universidade de Teerã, insistiram que “o fato de o secretário de Estado dos EUA não ter comparecido às negociações significa que a ‘diplomacia do sorrido’ falhou”.

Enquanto sinais apontam para os potenciais sabotadores como fontes dos comentários, alguns analistas políticos em Teerã sugerem que a história pode ser ainda mais controversa.

Quando perguntado sobre quem pode estar por trás do esforço para criar confusão sobre o conteúdo da proposta iraniana, ou apresentá-la como uma de concessões desproporcionais, um observador veterano na capital iraniana especulou: “Isso é, provavelmente, trabalho de figuras marginais que não têm mais influência na direção da posição iraniana”.

O observador disse ainda que “essas figuras sabem como usar a mídia e continuarão fazendo isso para alcançar seus objetivos. Zarif está insistindo em manter segredo para impedir esse tipo de sabotagem em uma forma mais aberta”.

Independentemente da origem do suposto vazamento, o episódio sobre o conteúdo exato da proposta iraniana sugere uma coisa importante: os obstáculos ao progresso nas negociações nucleares não estão apenas nas diferenças de opiniões entre o Irã e o G5+1, mas também dentro das capitais dos respectivos lados

Fonte: Al-Monitor
Tradução de Moara Crivelente, da redação do Vermelho