Banco da Espanha declara fim da recessão; empobrecimento continua

O jornal espanhol El País noticiou as declarações e análises feitas pelo Banco da Espanha, nesta quarta-feira (23), sobre um “fim da recessão mais comprida da democracia” no país, ou seja, desde a queda do regime autocrático de Francisco Franco, em 1975. Apesar do tom positivo, o país ainda testemunha níveis históricos de desemprego e empobrecimento, e lida com a adoção de medidas de austeridade impostas desde fora, com efeitos dramáticos para o povo.

25S Manifestações na Espanha - 25s

O jornal El País introduz a declaração do Banco da Espanha sobre o fim da recessão com o dado de que o Produto Interno Bruto (PIB) espanhol cresceu 0,1% entre julho e setembro, após nove trimestres de retrocesso.

Os efeitos devastadores do longo período de recessão e das medidas de austeridade ainda são bem visíveis e devem ter impacto de longo prazo, entretanto. Ainda há quase seis milhões de desempregados (cerca de 26% da população) e uma dívida gigantesca, após mais de cinco anos de depressão.

De acordo com El País, 3,7 milhões de empregos foram perdidos e há 7,5% menos atividade econômica na Espanha, além de um profundo legado de desigualdade e pobreza.

O ministro da Economia, Luis de Guindos, opta pela perspectiva positiva, entretanto, porque apresentaria “algo mais do que um dado pontual” à recuperação que se aproxima. “Ainda falta muito a fazer, nos resta muita crise à frente, mas esse é o primeiro passo”, disse o ministro, depois de admitir que se trata de um avanço “pequeno, tímido e limitado”.

Segundo El País, essa também é a sensação transmitida pelos mercados e investidores financeiros nos últimos meses, com a aposta pelo início de uma recuperação sem recaídas, como a que sofreu a economia espanhola em 2011. A análise do Banco da Espanha ainda deve ser confirmada pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

Por outro lado, diversos setores da sociedade espanhola, desde o centro até a esquerda, viram no período a necessidade fundamental de reestruturação do sistema e de reorganização social, política e econômica mais justa e solidária, em detrimento dos privilégios garantidos às grandes companhias e ao setor bancário.

Os resgates bilionários garantidos ao país pela troika Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) ataram o país a uma série de medidas de austeridade (condicionalidades desses credores) que representaram um duro golpe contra os direitos sociais e econômicos adquiridos pelos espanhóis.

Dramas como o desalojo forçado de famílias inteiras, o crescente desemprego, os cortes de salários, de serviços públicos e de assistências foram as marcas dessa crise que ainda deve ser transformada.

Neste sentido, a oposição vê os dados de crescimento de ângulo bastante distinto, e reitera duras críticas contra o presidente do Governo, Mariano Rajoy, do Partido Popular, de centro-direita. “Não se pode falar em recuperação da economia espanhola enquanto não se possa falar de recuperação da economia dos espanhóis”, afirmou Alfredo Pérez Rubalcaba, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe).

Rubalcaba lembra que somente na nova legislatura, um milhão de empregos foram perdidos e o país adquiriu mais 250 bilhões de euros em dívidas, em uma tendência que também puniu o Estado de bem-estar.

“Falar de crescimento beira o sarcasmo, os cidadãos vivem uma situação de desemprego massivo e depressão econômica”, disse também Gaspar Llamazares, deputado do grupo parlamentar Esquerda Unida, em sessão do Congresso.

Segundo o Instituto Flores de Lemus, citado pelo jornal espanhol, as taxas de desemprego devem ser reduzidas nos próximos anos, mas uma recuperação do nível de emprego antes da crise só deve ser alcançada perto do ano de 2026.

Com informações do El País,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho