Comissão da Verdade: Encontro faz balanço e colhe depoimentos

 

Com o objetivo de traçar um panorama dos trabalhos das Comissões da Verdade no Estado, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte sediou o Encontro “Verdades Cruzadas” nesta sexta-feira, 25 de outubro, no auditório Otto Brito de Guerra, localizado na Reitoria do Campus Central.

A mesa de abertura contou com a presença do jornalista Tarcísio Gurgel, representando no ato a reitora da UFRN, do assessor da Comissão Nacional da Verdade, Márcio Kameoka, do presidente da Comissão da Verdade da UFRN, Carlos Roberto Gomes, do presidente do Comitê Estadual da Verdade do RN, Antônio Capistrano, do presidente da Comissão da Memória e da Verdade da OAB/RN, Djamiro Acipreste, e o membro da comissão municipal da Memória, Verdade e Justiça, Horácio Paiva.

Com a participação da presidente do ADURN-Sindicato, Ângela Ferreira, e do professor Almir Bueno, membros da Comissão da Verdade da UFRN, de todo corpo acadêmico da UFRN, professores, alunos e técnicos-administrativos, além de estudiosos da área de Direitos Humanos, parentes e vítimas do Regime Militar de 1964, os debates integraram a programação da XIX CIENTEC.

Durante a realização da audiência pública, foram colhidos dois importantes depoimentos para elucidação de violações de Direitos Humanos dentro da Universidade: o do professor Aldo da Fonseca Tinôco e do advogado Marcos José de Castro Guerra, vice-presidente da OAB/RN.

Depoimentos

Aldo da Fonseca Tinoco era estudante do Atheneu Norte-rio-grandense quando despertou para a luta e participação política, defendendo a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial (1939-1945), contra o Eixo do nazi-facismo (Alemanha, Itália). “Nós acreditávamos que o nazismo era um grande retrocesso para a humanidade. A democracia a gente entendia como a participação do povo em benefício do povo, e não do privilégio de uma classe. Então, como estudantes nos engajamos na luta da esquerda, porque achávamos que a esquerda era a grande esperança para a humanidade”, avaliou.

O professor Aldo Tinoco sempre teve como referência política a bandeira nacionalista. Mesmo com o partido comunista na ilegalidade, continuou a participação em outras agremiações. “Getúlio foi esta grande liderança, no nosso entender, pelo fortalecimento econômico do país. A luta da Petrobrás e daí, hoje, a Petrobrás, essa potência, foi consequência daquelas lutas do povo e Getúlio à frente. Era a intervenção do Estado no campo do desenvolvimento econômico”, disse.

“Do alto dos seus oitenta anos”, como diz a canção, revelou a decepção com a maioria das siglas partidárias. No seu ponto de vista são siglas de aluguel que não apresentam um projeto de desenvolvimento para o Brasil, e se emocionou ao falar sobre o amigo Hélio Vasconcelos.

Já o advogado Marcos Guerra, que tem atuação em direito internacional, direito do desenvolvimento, cooperação internacional e investimentos estrangeiros, enfatizou a necessidade em se compreender a trajetória política dos exilados nordestinos na construção da memória do exílio, relatando fatos e histórias de vida desses personagens.

As situações vivenciadas por militantes, intelectuais, lideranças políticas e governantes, foram relatadas por Marcos como exemplo de contribuição ao trabalho realizado no Brasil, principalmente na divulgação de informações e fatos censurados no país.

Ao encerrar a mesa, o assessor da Comissão Nacional da Verdade, Márcio Kameoka, ressaltou a importância dos trabalhos das Comissões na tentativa de reestabelecer a Verdade Histórica não relatada. “Nos imbuímos deste esforço de examinar e esclarecer as violações de direitos humanos num tempo em que se criminalizava a luta e se colocava sob maldição a palavra Liberdade”.

Debates

O presidente da Comissão da UFRN, Carlos Gomes, abriu os debates com a exposição dos trabalhos que vem sendo realizados pela Comissão da Verdade da UFRN, com a coleta de depoimentos das experiências vivenciadas no período de repressão e exame de documentos. O professor foi seguido pelo presidente do Comitê Estadual pela Verdade do RN, Antônio Capistrano, que ressaltou o papel pedagógico das Comissões e Comitês formados em todo o país com o objetivo de efetivar o direito à memória e à verdade.

Já o presidente da Comissão da Memória e da Verdade da OAB/RN, Djamiro Acipreste, ressaltou a importância da completa Justiça de Transição no país. O último a falar foi o membro da Comissão da Verdade no âmbito do município de Natal, Horácio de Paiva, que apresentou a composição da comissão recém-formada mas ainda não instalada.

De Natal, Jana Sá