Publicado 30/10/2013 21:49 | Editado 04/03/2020 17:16

Após o assassinato covarde pela polícia de mais um jovem trabalhador na Zona Norte, uma onda de quebra-quebras se espalhou do Jardim Brasil à Vila Medeiros, se estendendo do Jaçanã ao Parque Novo Mundo. Analistas apressados logo estabeleceram vínculo direto entre esses fatos e as ações dos black bloc. Os "black blocs", no Brasil DE HOJE, não são uma homogeneidade, portanto, não são em bloco inocentes úteis. Quem participou ativamente das manifestações e acompanha os acontecimentos dos últimos dias observa pelo menos estes grupos encapuzados: anarco-punks; mauricinhos e patricinhas; neo-nazistas, integralistas e skin heads; ocasionalmente bandidos aproveitando ocasião; P2; simpatizantes ou militantes do PSTU, PCO e PSOL; e marias-vai-com- as outras. Destes todos, apenas o último pode ser chamado de "inocente útil". As ações dos encapuzados criam o caldo de cultura do fascismo, não enxerga quem não quer. Os ataques e saques na Zona Norte, desde domingo passado, estão ligados ao oportunismo do crime organizado, que pegou carona no sentimento de dor e de justiça da população pelo assassinato vil do jovem Douglas Rodrigues, na tarde de domingo, em Jaçanã.
Porém, há mais de quarenta anos a população dessa região é vítima e refém tanto de criminosos quanto e políticos corruptos (e não menos bandidos) e da polícia – que nessa região de São Paulo historicamente tem setores importantes associados ao crime. Como nessa região há o entroncamento de duas rodovias federais por onde escoa tanto o tráfico de drogas e armas para o interior da capital e dela para o restante do país, quanto o roubo de cargas, há aí um mercado em que, com frequência, policiais, "empresários", políticos e bandidos estão associados.
Em 2009 lancei ZONA NORTE, da série Era uma vez no meu bairro, em que trato desse assunto. O Capítulo 9 que ofereço aqui ao leitor é resultado recolha de história oral. A já distante década de 1970 está em foco. O cenário é exatamente a região que hoje ocupa as páginas dos jornais do país inteiro: a confluências das vias Dutra e Fernão Dias. Nesse capítulo, um grupo de meninos presencia uma cena que, nessa região, não é novidade para ninguém. Tire o leitor suas próprias conclusões.
É membro do Comitê Municipal do PCdoB-SP, escritor, cineclubista e autor do blog Era uma vez no meu Bairro http://www.eraumaveznomeubairro.blogspot.com.br