Maduro afirma que fiscalização "não é nem a ponta do iceberg"

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou em discurso no último sábado (9) que o operativo iniciado para a inspeção de empresas para a fiscalização de preços não são nem “a ponta do iceberg” das medidas que tomará para “garantir ao povo seus direitos econômicos e sociais”.

Por Luciana Taddeo, de Caracas para o Opera Mundi

Maduro afirma que fiscalização "não é nem a ponta do iceberg"

Na semana passda, o chefe de Estado venezuelano ordenou intervenção à maior rede de eletrodomésticos do país, Daka, que segundo o governo vendia produtos a preços com até 1200% de distorção. Neste sábado, diversos estabelecimentos foram inspecionados, e alguns também sofreram intervenção. Dois donos de comércios foram colocados à disposição do Ministério Público do país acusados pelos crime de usura.

“Se não fizéssemos isso, o povo o faria por seus próprios meios”, disse durante o discurso, transmitido parcialmente por rede nacional de rádio e televisão, complementando: “Estamos dizendo há dois meses ou mais que estamos preparando uma ofensiva econômica. Não viram nada, porque isso não é nem a ponta do iceberg do que vamos fazer para garantir ao povo seus direitos econômicos e sociais, e a tranquilidade à nossa pátria”, expressou Maduro, afirmando que as iniciativas das últimas horas são só “a pontinha”.

Mencionando um episódio de saques a uma loja da rede Daka em Valencia, capital do estado de Carabobo, após o anúncio da intervenção, Maduro afirmou que este é um caso “em mil”, que está sendo analisado, e pediu que a população não caísse em desespero. “Isso está começando, vamos conseguir equilibrar a economia verdadeira, a economia real”, completou.

O presidente venezuelano qualificou empresários que importam produtos a preços oficiais e revendem a preços muito superiores como “bandidos”. “Quem saqueia quem? Quem rouba quem? O dono de um estabelecimento que põe o preço de 200 mil bolívares (31 mil dólares, no câmbio oficial), 1200% mais, a um produto que compraram com dólares preferenciais que o governo dá, ou o povo que vai comprar com seu governo a preço justo?”, questionou. “Isso não é liberdade econômica, isso é ditadura econômica da burguesia parasitária”, disse Maduro sobre a especulação com o preço dos produtos.

Reembolso

Ainda sobre as empresas que fixam preços altos em relação ao preço em dólares obtido pelo sistema oficial de dividas, Maduro disse que um método será definido para que os consumidores recebam o reembolso da diferença de compras efetuadas nos últimos meses. “Faço um chamado a todos aqueles que compraram com preço acima para que vão e peçam que devolvam seu dinheiro, temos que garanti-lo”, falou.

Paralelamente, novas inspeções a comércios foram reportadas pelo ministro da pasta, Alejandro Fleming, em conjunto com o Indepabis (Instituto venezuelano para a Defesa das Pessoas no Acesso a Bens e Serviços) e Sundecop (Superintendência Nacional de Custos e preços). Em uma das lojas, segundo Fleming, uma lavadora e secadora apresentou 1000% de aumento no preço desde março, fato que deveu ser explicado pelos gerentes do comércio.

Segundo o governo venezuelano, donos das lojas de eletrodomésticos JVG e Mundo Samira foram retidos e colocados à disposição do Ministério Público do país, por supostamente cometer usura. Para Fleming, este é o motivo da alta inflação no país. Em consonância com o argumento do ministro, Maduro afirmou que as medidas devem impactar nos índices inflacionários.

Durante a transmissão, o governo venezuelano também anunciou que páginas que registravam o preço de moeda estrangeiro no mercado paralelo de divisas estão sendo tiradas do ar. “Estamos procedendo através do ministério de Ciência e Tecnologia para proteger as redes e a internet do país”, afirmou, criticando a consulta a um “dólar fantasma, falso”, que segundo ele é imposto contra seu governo como parte do que denomina como uma “guerra econômica”.

Medidas

Nesta semana, o presidente pediu aos comerciantes para que não se juntem à “guerra silenciosa”, que, segundo ele, basicamente consiste em desatar a especulação, desrespeitar a legislação, esconder mercadorias e fixar preços aleatoriamente. “Digo à burguesia, o que anuncie e adverti bastante, que iríamos com tudo, mas as manchetes dos jornais desta sexta só me dizem que eles não querem se retificar e que buscam a fome do povo. Não vamos permitir que isso aconteça!”, disse.

Controlado em sua ampla maioria por grupos privados, os jornais venezuelanos estamparam ontem manchetes como “Inflação sacode os venezuelanos”, do Diario 2001 e “Escassez em outubro foi a mais alta em 5 anos”, do El Nacional. O governo venezuelano considera que esses veículos de comunicação também integram uma frente de desestabilização contra o país.

Na quarta-feira da semana passada (6), Maduro anunciou um pacote de medidas com o objetivo de estabilizar a economia do país e combater a “guerra econômica”. As ações incluem ajuste no sistema de regulação de preços de itens prioritários, inspeção de empresas e comércios para averiguar estocagem e comercialização e a criação de um Centro de Comércio Exterior para coordenar organismos de emissão de divisas e importações.

Para solucionar a questão da inflação, a qual qualificou como induzida, anunciou a criação de um fundo para a estabilização de preços de bens de consumo massivo, com arrecadação baseada em sanções aos “especuladores”, e a realização de um operativo para garantir a venda de produtos prioritários a "preços justos" durante os meses de novembro e dezembro.