RJ: pré-candidata ao Governo, Jandira segue exemplo de Dilma

A pré-candidata ao governo do Rio de Janeiro, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) concedeu entrevista ao jornal O Dia e o Portal Vermelho reproduz abaixo: 

Pré-candidata ao Governo do Rio, Jandira se mira em Dilma - Carlo Wrede/Agência O Dia

Jandira diz que seguirá o exemplo da presidenta Dilma Rousseff para concorrer ao cargo pelo PCdoB. O partido conta com apenas uma cadeira na Assembleia Legislativa (Enfermeira Rejane) e Jandira é sua única representante na Câmara dos Deputados eleita pelo Rio. A comunista rompeu com Sérgio Cabral há um mês, acusando o governo estadual de ‘criminalizar’ os movimentos sociais. Ela diz que nunca teve cargos no governo estadual e que é preciso entender a voz das ruas para dar ao país um “tom mais à esquerda” e vencer o debate contra a despolitização da sociedade.

O Dia: O que motivou sua candidatura após seis mandatos em Brasília?
Jandira Feghali: O Rio tem uma distância entre o que a sociedade almeja e o que o governo responde. E precisa de uma energia capaz de, democraticamente, integrar este estado. Nossa ideia é construir uma proposta que responda a esse novo momento dentro de um campo político que é o da reeleição da Dilma e apresentar não só meu nome como uma proposta. Vamos fazer no dia 28 um seminário de construção desta proposta para aglutinar e viabilizar esta candidatura.

O Dia:
O PCdoB esteve ao lado do governo Cabral desde o início. A sua candidatura não pode parecer oportunista, num momento em que a avaliação do atual governo despencou? Parecer que na hora em que desandou o PCdoB pulou fora?
JF: Não tem oportunismo. É preciso lembrar que a eleição do Cabral tem uma ligação direta com a reeleição do Lula. Ele era o único candidato a governador do Sudeste que apoiava o Lula, e essa relação levou a esquerda a apoiar o PMDB naquele momento. Em 2006, lançamos o Vladimir Palmeira (PT). Eu fui candidata ao Senado com o Vladimir, perdemos a eleição, e a polarização se deu entre oposição ao Lula e ao Cabral. Apoiamos o Cabral. Mas é bom dizer que nunca tivemos nenhuma secretaria, não tivemos interferência nos rumos do governo. Esta discussão de permanecer ou não com Cabral já vem de algum tempo dentro do partido. A gente não nega a aliança e não se arrepende. Mas o partido já vem avaliando a relação há algum tempo, e ela se agudizou no momento em que o governo não conseguiu resolver democraticamente os problemas do estado, a violência policial cresceu, e houve a criminalização dos movimentos sociais.

O Dia: E como você analisa o momento atual, com os protestos que tomaram as ruas?
JF: Os protestos correspondem a uma observação de que é preciso avançar mais. Avançamos em muitas coisas no Brasil, sobretudo neste ciclo iniciado por Lula, mas é um momento de mudanças mais estruturais na Saúde e Educação, por exemplo. E tem a vida nas cidades, que está complicada mesmo. A questão da mobilidade urbana acabou puxando as manifestações. Por isso a nossa visão de que a esquerda tem que dar mais o tom. Precisamos de mudanças mais profundas. No início, foram manifestações pedindo mais Estado, não menos Estado e mais mercado. Elas começaram muito bem e tivemos alguns resultados: a votação dos royalties do pré-sal para a Educação e Saúde, o arquivamento daquela história de cura gay. Derrotamos a PEC 37 e os municípios recuaram no preço da passagem, mas ainda não avançaram num novo modelo de mobilidade urbana. As manifestações foram uma reconquista, no sentido de fazer da rua novamente um território de luta. As pessoas perderam o medo de ir pra rua e reivindicar.

O Dia: E os pontos negativos?
JF: A negação da política organizada. É um debate que precisamos enfrentar. Tenho visto nas redes sociais a negação da política e vi campanhas que vão levar a um retrocesso. Um crescimento da abstenção não afeta quem é latifundiário. Deixar de votar ajuda o poder econômico, não a renovação. Você dificulta a possibilidade de uma mudança qualitativa. O outro ponto negativo é a violência, de um lado da polícia e de outro a infiltração organizada e despolitizada que queima bandeira do Brasil, que descaracteriza a manifestação e coloca a violência no centro da questão. E aquela vitória simbólica que foi conquistada está sendo perdida porque as pessoas passaram a ter medo de ir à rua. Mas a população não se sente mais representada por partidos, nem mesmo os tradicionais de esquerda, como o PCdoB. A grande comunicação nivela a política por baixo e acaba desqualificando. A gente nunca vai para a mídia com o que faz de bom. Nem os partidos, nem o parlamento. Quando tem um Donadon, é manchete em todo lugar. E tem que ser. Mas penso em quantas leis já aprovei e nunca foram divulgadas. A imagem é sempre negativa. Este é um problema grave e por isso defendo a democratização dos meios de comunicação porque a pluralidade é que tem que valer.

O Dia: Você acha que a violência nas manifestações fará a população preferir os partidos, nem que seja como opção menos pior?
JF: Não tenho dúvida. Me dá pena dos professores que fizeram grandes manifestações e foram muito prejudicados por isso. Pela polícia e pela infiltração organizada da violência. Acho que a questão partidária se repõe.

O Dia: Mas você não espera uma enxurrada de votos nulos?
JF: Se não enfrentarmos esse debate da despolitização e da negação de política e qualificarmos o debate, pode crescer a abstenção e acho isso um retrocesso. Outro dia ouvi o Lula dizer “nos troquem, mas participem. Quer substituir, substitua, mas façam isso no campo da política, onde se resolvem as questões de saúde, educação, emprego”. Tudo é no campo político, não no individual. Individualmente não se resolve nada.

O Dia: Com o PCdoB tendo apenas uma cadeira da Alerj e nenhuma na Câmara, é viável sua candidatura?
JF: Sim. Vamos lançar as propostas e testar na sociedade até junho para ver a viabilidade, mas estamos jogando a vera. Nossa pouca representatividade no Parlamento tem a ver com o tipo de eleição que temos. O poder econômico joga muito pesado. Trezentos deputados da Câmara gastaram fortunas hollywoodianas nas campanhas. Nós não temos ligação com o poder econômico, e a gente não compra voto. Não temos como jogar o mesmo jogo, por isso defendemos o financiamento público de campanha. O financiamento por empresas distorce muito as representações sociais. Quantos negros, mulheres, trabalhadores rurais e operários temos na Câmara?

O Dia: Como fazer o povo, descrente dos partidos, abraçar a ideia de financiamento público de campanha?
JF: Tudo é a forma como você aborda a questão. Quem é contra diz que o governo vai tirar dinheiro da saúde e da educação, e isso não é verdade. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. É dinheiro de fundo partidário, outro orçamento. Mas se a gente disser que vai tirar as empresas e o financiamento privado, todo mundo concorda. As pessoas entendem o que você está dizendo, que a entrada do poder econômico distorce o processo eleitoral.

O Dia: Você disse que tem até junho para viabilizar sua candidatura. Isso não pode soar como tentativa de se cacifar em troca de cargos ou para a eleição proporcional?

JF: Não preciso desta manobra para uma eleição para deputado federal. Tenho serviços prestados. A candidatura vem da compreensão de que é necessária uma renovação qualificada e mais à esquerda. Não é cacifar, acho que isso é primário. Seria lícito, mas não é o caso.

O Dia: E os demais pré-candidatos (Pezão, Lindbergh, Garotinho, Crivella, Romário…) irão até o fim?
JF: Difícil avaliar. Todos enxergam que é preciso mudar e cada um quer traçar seu caminho. Todos têm credencial.

O Dia: São vários caciques da política fluminense. O debate político promete.
JF: Espero que seja de alto nível (risos).

O Dia: Mas, pelo perfil de cada um de vocês, talvez isso seja difícil (risos).
JF: É um debate que tem condição de ser bom, mas acho que este risco de a gente ir no fígado do outro em vez do pescoço a gente corre mesmo.

O Dia: E a Copa do Mundo, de que forma pode influenciar as eleições? Deve haver protestos pelo país.
JF: Vamos ter manifestações questionando valor de estádios e cobrando saúde e educação no padrão Fifa, mas o clima de Copa será maior e acabará dominando o sentimento das pessoas. Mas que a Copa pode alimentar o debate, é bem possível.

O Dia: Com o PCdoB também no centro do debate, uma vez que o ministro do Esporte (Aldo Rebelo) é do partido e as políticas públicas serão questionadas.
JF: O ministério está cumprindo seu papel de entregar a Copa com um legado social e nós o apoiamos nisso. A Copa tem que ser encarada pelo lado positivo, pelo legado que deixará para o país.

O Dia: O Pan, em 2007, teve esse discurso e pouco ficou para a cidade.
JF: Mas com o Cesar Maia é difícil. Não ficou nada, nem uma estação de metrô.

O Dia: Qual é a importância da politização da sociedade?
JF: É fundamental. Me dá tristeza perceber que parcelas da sociedade não veem na política algo positivo. Se a gente não virar o jogo, não vamos ter nunca uma renovação qualificada. Aliás, as renovações não têm sido para melhor. Há uma visão cada vez mais ligada ao assistencialismo puro ou à compra de votos direta ou ao poder econômico. A visão da política qualificada é preciso ser retomada. A sociedade deve contribuir porque foi ela quem nos colocou lá. Não dá para negar o voto. É preciso votar bem.