Jandira Feghali: Ainda não acabou 

O ex-ministro da Educação Luís Gama Filho não poderia imaginar o que aconteceria com uma de suas principais criações. Em lamentável desfecho, a universidade que leva seu nome foi descredenciada pelo MEC em ação que não considerou alternativas políticas. A iniciativa coloca, a partir de agora, inmeras vidas profissionais em risco e sonhos acadêmicos desfeitos.

Por Jandira Feghali* 

Muitas frentes foram criadas e outras estão em curso durante esse processo. Após inúmeras reuniões no ministério e discussões no Congresso Nacional nos últimos dois anos, protocolamos no Ministério Público Federal um documento pedindo intervenção direta no caso.

Da abertura de inquérito sobre os crimes praticados pela mantenedora Galileo Educacional à solicitação de assistência aos estudantes e funcionários, lutamos para reduzir ao máximo os danos causados pela má gestão na Gama Filho e UniverCidade. Ao mesmo tempo, o documento pede o retorno das atividades acadêmicas, contra o fim das tradicionais instituições.

É preciso chamar a atenção sobre os impactos diretos do descredenciamento nos mais diversos setores da sociedade. Do orçamento de inúmeras famílias que dependem dos trabalhadores não realocados, aos professores sem posto de trabalho garantido, assim como à judicialização dos direitos trabalhistas não honrados. Uma via crúcis para todos.

Ao mesmo tempo, os alunos lutam para não enfrentar uma transferência pulverizada, numa tentativa de manter seus direitos resguardados. São cerca de 9 mil estudantes cursando 40 cursos na Gama Filho. Próximos ou não da conclusão dos cursos, estão todos envoltos em dúvidas sobre a continuidade de suas vidas acadêmicas. Quantas universidades no Rio poderiam receber os 1,9 mil alunos de medicina da Gama Filho de uma só vez, por exemplo?

A discussão que vai ganhando corpo é a necessidade de se debater a educação superior privada no Brasil, em que empresas vão dilapidando estruturas tradicionais em sistemas que visam apenas o lucro. É a partir deste episódio que precisamos fazer do Congresso Nacional palco de soluções para a educação brasileira, onde o atual modelo seja debatido e revisto amplamente.

Que possamos tornar viáveis novamente os sonhos de inúmeros estudantes e futuros profissionais de nosso país, assim como fazer a justiça prevalecer contra aqueles que são responsáveis por tanta revolta. A luta ainda não acabou.

*É médica, deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro e presidenta da Comissão de Cultura da Câmara.