Publicado 19/11/2013 12:19 | Editado 04/03/2020 16:27
A Ação Penal 470 foi, desde o seu início, um grande espetáculo circense. Desfilaram por este palco platinado, armado para convencer o povo de que a justiça, enfim, alcançava também os ricos, desde o sósia de um comediante conservador até o dublê de um super-herói sombrio e atormentado. O plim-plim da varinha mágica que já foi capaz de transformar um jornal em um império das comunicações com tentáculos internacionais, foi também a batuta a reger o coro afinado de juízes da mais alta corte, prefaciadores de obras imortais de imortais jornalistas a soldo da mesma vênus que conduzia o espetáculo.
A imagem do mais alto magistrado do país trabalhando em um feriado (uma sexta-feira!!!) fazia parte do Grã Circo Supremo, com a data, a proclamação da república brasileira, escolhida a dedo.
Do início ao fim (será que chegamos ao fim?), a Ação Penal 470 foi, repito, um grande espetáculo.
O procurador sósia de comediante foi célere na denúncia dos réus do “mensalão petista” enquanto escondia sob o seu assento a montanha de evidências do “mensalão mineiro-tucano”; a face sombria e conservadora presente no supremo cacarejou ruidosa e alegremente pela oportunidade de aparecer frente às câmeras de televisão e nas primeiras páginas dos outrora jornalões; por fim, um herói acima do bem e do mal (e da lei também, é bom que se diga) assumiu a condução do processo como um deus raivoso, um minúsculo deus enraivecido e destemperado, sonhando, quem sabe, com Brasília ou Miami.
Nas redes sociais, os cães arreganham os dentes, comemoram, citam reinaldos, augustos, olavos e outros cérebros menores ainda. Mas há, tristemente, aqueles que os acompanham sem muito pensar, influenciados pelo ainda enorme poder de convencimento da mídia conservadora. O perigo mora exatamente aí, nos que creem inocentemente que a justiça foi feita, sem perceber que, desde o início, a justiça foi enxotada deste processo para dar lugar aos escusos interesses da direita brasileira.
Aos cães hidrófobos da direita (como os denominou a insuspeita e impávida Miriam) fazem companhia alguns esquerdistas de plantão, prontos a invocar o costume bíblico do apedrejamento, ansiosos por outra inquisição (menos santa ainda que a primeira), paladinos da ética ao lado de Demóstenes (o goiano, não o grego) e outros de mesmo quilate.
Não nos enganemos, o espetáculo ainda não terminou. A justiça e a democracia ainda não foram de todo pisoteadas. Essa turma aparentemente heterogênea não sossegará com meia dúzia de prisões. Eles pensam alto e veem mais longe.
*Joan Edesson de Oliveira é membro do Comitê Estadual do PCdoB do Ceará