Cadernos do Terceiro Mundo é tema de debate sobre comunicação
A lembrança do papel informativo e de formação política da revista Cadernos do Terceiro Mundo emocionou muitos participantes do 19º Curso Anual de Comunicação do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que ocorreu na última quarta-feira (20).
Publicado 22/11/2013 10:29
A jornalista Beatriz Bissio, uma das fundadoras, diretoras e editoras da revista, fez uma apresentação com base na experiência da publicação, que existiu de 1974 a 2006 e foi pioneira na inversão dos fluxos comunicativos, promovendo uma aproximação e um conhecimento mútuo entre os “países do Sul” – da América Latina, da África e da Ásia. Bissio participou da mesa “A mídia da burguesia, a nossa e a formação das ideias” ao lado do também jornalista Gilberto Maringoni.
“Cadernos do Terceiro Mundo marcou um jornalismo de combate às ditaduras, mas era uma revista carregada de todo um ideário que queria contestar não somente as próprias ditaduras, mas sobretudo a forma como chegava a nós – e continua chegar – a visão de mundo”, apontou a jornalista. Ela lembrou o contexto dos anos 1970 em que, no marco do movimento dos países não alinhados, passou a ser discutido o tema da eliminação das assimetrias dos fluxos informativos e se fortaleceu a crítica à falta de pluralidade das agências de notícias dos países ricos.
Este cenário foi detectado por meio de uma pesquisa extensa, ratificada pela Unesco em 1980 com a publicação do Relatório MacBride “Relatório MacBride – um mundo, muitas vozes”. O texto já destacava a importância de que países da África, América do Sul e Ásia pudessem mostrar as suas visões de mundo para que houvesse diversidade de informação. “O relatório é uma referencia com a qual ainda podemos trabalhar, não precisamos reinventar a roda”, apontou, lembrando que ainda é extremamente necessário democratizar as comunicações no Brasil e no mundo.
A mídia da burguesia e a disputa pela democratização
Em sua exposição, o jornalista Gilberto Maringoni fez uma análise sobre a mídia da burguesia e discutiu o atual estágio da luta pela democratização da comunicação. Ele apontou que a mídia burguesa tem grande capacidade de produzir sua comunicação, tanto porque tem recursos financeiros para isso, como também por ser detentora da imensa maioria dos veículos. “Eles passam a impressão de que estão defendendo a sociedade inteira quando de fato estão defendendo os interesses da burguesia”, avalia.
Maringoni lembrou que há programas de grande qualidade informativa em alguns veículos desta mídia e que isto acontece justamente para que ela possa se legitimar e, ao mesmo tempo, impor uma linha editorial sem que fique explícito para a maior parte da sociedade que ela está defendendo os interesses da classe dominante. O jornalista apontou, ainda, que não existe mídia burguesa sem o Estado, que concede financiamentos, isenções fiscais e ainda investe em publicidade nesses veículos. “A mídia privada no Brasil vai muito bem porque os governos sempre deram todo o apoio a ela”, disse.
Apesar deste contexto, Maringoni avalia que vivemos hoje uma janela de oportunidade para avançar na luta pela democratização da mídia. Ele explica que a queda de audiência da televisão e da tiragem dos veículos impressos, os meios comerciais estão trilhando uma grande disputa por verbas que pode virar uma oportunidade para ampliar as mídias populares e abrir a discussão da democratização da comunicação. Mas o protagonismo da sociedade civil, no entanto, é fundamental para que isto ocorra. “Se formos contar com Paulo Bernardo ou Helena Chagas a democratização da comunicação não vai adiante. Precisamos fazer a campanha sabendo que não vamos contar com o apoio do Estado”, alertou.
Fonte: Núcleo Piratininga de Comunicação