Violência assola crianças e adolescentes nos EUA

Os pais de Andy López, um jovem hispânico de 13 anos, estavam longe de imaginar que o filho seri vítima de disparos da polícia de Santa Rosa, no condado californiano de Sonoma (oeste do país) por portar uma réplica de um fuzil de assalto, um simples brinquedo.

Por Luis Beatón*, na agência Prensa Latina

O fato foi levado ao Birô Federal de Investigações (FBI), que abriu uma investigação sobre o caso dos dois policiais que mataram com sete disparos o garoto, apesar de as autoridades dessa localidade terem feito sua própria investigação.

O FBI tratará de encontrar provas para ver se as leis federais foram violadas, incluídos os direitos do jovem. López, de pais mexicanos, levou sete disparos, dois dos quais lhe provocaram ferimentos fatais, segundo a autópsia realizada no dia 24 de outubro.

O fato ocorreu na tarde da terça-feira (22), quando dois policiais do condado de Sonoma patrulhavam um bairro do sudoeste de Santa Rosa, quando viram López caminhando com algo que lhes pareceu ser um fuzil AK-47.

Talvez pelo ambiente criado por fatos de violência com armas de fogo, os polícias pediram reforços e ordenaram repetidamente ao adolescente que atirasse a arma ao solo, depois López, que estava de costas, virou para eles.

Nesse momento, o tenente da polícia de Santa Rosa, Paúl Henry, em um comunicado, disse que "um dos agentes descreveu que à medida que o sujeito virava, mirava a suposta arma na sua direção."

"O agente, alegou, que temeu pela segurança sua, de seu colega e a dos membros da comunidade residentes na área. Achava que o sujeito ia disparar nele ou no seu colega".

Depois de balear o menino, os agentes o algemaram para posteriormente fornecer-lhe primeiros socorros, momento em que se deram conta de que o rifle era uma réplica de um arma de assalto e que López levava ademais uma pistola de plástico amarrada a seu cinto.

O fato ainda não circulou pelos grandes meios de imprensa do país, ainda que mais de 300 pessoas da localidade fizeram um protesto em Santa Rosa pedindo justiça para López, nascido na Califórnia mas filho de imigrantes mexicanos.

Este não é um incidente isolado no país, onde os jovens são vítimas de um problema de fundo como o uso e porte das armas de fogo, tema que mantém polarizado o Congresso e a sociedade estadunidense, em especial pela interpretação dos chamados direitos constitucionais de porte de armas.

Em 24 de outubro outro caso pôs em evidência a crise quando um menino de 11 anos compareceu ante uma corte estadunidense sob suspeita de tentativa de assassinato, depois de levar à escola uma arma com 400 balas.

O suposto homicida supostamente levou ainda "múltiplas" facas à escola Frontier de Vancouver, um povoado no estado de Washington, no extremo noroeste do país.

"Um menino de 11 anos foi interrogado por detetives e depois preso sob a acusação de tentativa de assassinato", indicou um comunicado da polícia local.

Segundo meios de comunicação locais, esse foi o último de uma série de incidentes protagonizados por escolares nos Estados Unidos e que, somente nessa semana, causaram quatro mortos.

Em 21 de outubro, um menino de 12 anos disparou e matou seu professor na escola Sparks em Nevada (oeste). Também feriu dois colegas antes de se suicidar.

Na quarta-feira 23 de outubro, uma professora de 24 anos foi morta supostamente por um adolescente de 14 anos na escola secundária Danvers de Massachusetts.

Ainda que obscurecidos pelos debates no Congresso pela aplicação da lei de Saúde e as repercussões dos vazamentos da espionagem contra 35 dirigentes estrangeiros pela NSA, os incidentes atiraram ainda mais gasolina ao fogo sobre a polêmica do controle de armas.

Uma longa fila de incidentes, incluindo o massacre de dezembro de 2013 em Newtown (Connecticut, leste), onde morreram 26 pessoas, entre elas 20 crianças, não conseguem convencer os estadunidenses dos perigos das armas nas mãos da população.

Enquanto isso, o poderoso lobby da Associação Nacional do Rifle aumenta sua influência no Congresso, e argumenta que a disponibilidade no mercado de armas de fogo não é a culpada de tais tragédias.

Para eles, não são representativos massacres como a da escola secundária Columbine, no Colorado, onde os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold, mataram em abril de 1999 13 pessoas e feriram outras 23, talvez o fato mais notório de violência que envolveu adolescentes no país.

Talvez a presença em um subcomitê judicial do Senado de Sybrina Fulton, a mãe de Trayvon Martin, um jovem de 17 anos morto pelos disparos do ex-vigilante voluntário George Zimmerman, na Flórida, traga um pouco de lua aos fatos de violência, onde jovens e crianças são os mais prejudicados.

Em julho, Zimmerman foi absolvido pelo assassinato de Martin (que estava desarmado), porque a lei de Flórida autoriza a pessoa a usar força mortal se ela se sentir ameaçada e não puder evitar.

A audiência denominada "Stand Your Ground (Mantenha sua posição) Leis: Direitos Civis e repercussões de segurança pública da ampliação do uso da força letal", poderia reabrir o debate no Congresso sobre algo que polariza os estadunidenses e cuja solução está distante. O caso de López mostra que até os brinquedos atemorizam os policias, que disparam primeiro e depois averiguam o que a vítima estava portando ou fazendo.

*Jornalista da Redação América do Norte da Prensa Latina