Carmona: Programa Socialista para o Brasil e rumo estratégico

Na Plenária do 13º Congresso Nacional do PCdoB, realizada entre os dias 14 a 16 de novembro de 2013, Ronaldo Carmona, recém-eleito membro da direção do Comitê Central, em sua intervenção fez uma reflexão em torno da situação brasileira e sua relação no mundo. 
 

Leia a íntegra da intervenção:

Gostaria de propor uma breve reflexão em torno da situação brasileira, tendo em vista o programa do Partido. De fazer um balanço de onde estamos, tendo em vista onde queremos chegar.

Devemos observar os nexos, as linhas de continuidade, entre as decisões do último Congresso – que definiu as linhas programáticas, tática e estratégica dos comunistas para a revolução brasileira – e os temas em debate neste Congresso. A questão que se coloca é observar em que medida avançamos no delineamento de um novo projeto nacional de desenvolvimento no último período. Penso que demos passos na constituição inicial das bases deste novo projeto.

Afinal, neste último decênio tomamos, como país, decisões estratégicas que criaram bases, alicerces para o novo projeto, para uma terceira inflexão do povo brasileiro em relação aos desafios de realizar plenamente as enormes potencialidades nacionais.

Começamos a alterar a estatura do Brasil no mundo, inicialmente com decisões tomadas logo nos primeiros momentos do governo de Lula, como foi, por um lado a rejeição a ALCA, e por outro, a definição mais nítida de priorizar nosso entorno estratégico, as áreas geográficas que nos circundam, especialmente a América do Sul, mas também o Atlântico Sul e a África.

Também foi estratégica para abrir caminho a um novo período, a decisão de buscar alianças, como os BRICS, que melhor permitisse criar condições exógenas a realização de nosso projeto nacional de desenvolvimento – no quadro de um mundo cada vez mais hostil a projetos nacionais autônomos.
Devemos também valorizar as definições em torno de nossa Estratégia Nacional de Defesa, que já completa cinco anos.

Da mesma maneira, nos últimos dez anos, tomamos a decisão de alargar nosso extenso mercado interno, através de políticas de distribuição de renda e promoção do emprego foram decisivas para começar a superar nossas históricas desigualdades e para dar base social ao aprofundamento do atual ciclo político.

Entretanto, a despeito do balanço positivo do decênio, não podemos desconsiderar que, como país, ainda temos um déficit em termos de rumo estratégico, acumulamos impasses em torno de grandes definições nacionais relacionadas a dar passos mais sólidos em relação ao futuro.
Relacionadas, por exemplo, ao arranque de um novo ciclo de industrialização, baseado no conhecimento, na inovação, na utilização de nossos ativos estratégicos tendo como objetivo retomar a capacidade de crescermos a altas taxas, como ocorreu no século XX, quando fomos o país do hemisfério ocidental com maior expansão. Entre 1920 e 1980, por exemplo, a cada 20 anos, dobrávamos nosso PIB per capita.

Em termos de rumo estratégico, de grandes objetivos nacionais, necessitamos lograr maior unidade e coesão nacional em torno de nossos desafios como civilização brasileira.
Temos, na memória coletiva de nossa civilização, dois grandes momentos em que ensaiamos projetos nacionais cujo sentido era a busca da realização das potencialidades nacionais – mas ambos, por circunstâncias distintas, foram derrotados.

O primeiro vem do momento da conquista de nossa independência nacional, há quase dois séculos, com o projeto de José Bonifácio de Andrada e Silva. O outro deflagrado a partir da revolução de 1930, com o presidente Getulio Vargas.

O Programa Socialista do PCdoB é a contribuição dos comunistas brasileiros as definições deste rumo estratégico, ao projeto de uma nova inflexão histórica dos brasileiros, que a medida que se aprofunde e se afirme, abrirá caminho para a transição ao socialismo brasileiro.

Precisamos realizar a luta de ideias no interior do amplo bloco político e social que sustentaram os três governos deste ciclo e que serão a base da quarta vitória, para a necessidade de delinear com maior nitidez nosso rumo estratégico, definições necessárias para renovar os grandes objetivos nacionais e possibilitar uma nova arrancada a partir da 4º vitoria do povo em 2014.

*Ronaldo Carmona é membro do Comitê Central, eleito no 13º Congresso.