Livro conta história de pernambucana torturada durante ditadura 

 

A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara promove, na quinta-feira (05.12), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco, o lançamento do livro:Réquiem por Tatiana, da ex-presa política pernambucana, Sylvia de Montarroyos. A obra apresenta as memórias de guerra e de vida da autora. Ela aos 17 anos foi presa por pertencer ao movimento de resistência ao golpe de Estado. “Fugi na primeira noite, estive escondida por alguns dias, fui recapturada e barbaramente torturada a ponto de enlouquecer, por me recusar a falar e denunciar os companheiros”, relembra.

O drama e a experiência de Sylvia de Montarroyos são detalhados no livro que faz parte do primeiro volume da Trilogia da América Latina (Tempestade em Tegucigalpa e Vagas Estrelas da Ursa Maior, ambos ainda por publicar). No dia 2 de novembro de 1964, a estudante participante do movimento de resistência à ditadura militar que se instalara no país, foi, depois de presa, fotografada na Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco. Fugiu da prisão nessa mesma noite. Um cartaz, com a tal foto, foi distribuído pelos aeroportos e fronteiras do Brasil. Sylvia foi recapturada e passou por torturas tão violentas que perdeu, temporariamente, a razão sendo internada no Hospital Psiquiátrico da Tamarineira.

A “perigosa terrorista” era uma estudante ativista dos direitos humanos e da justiça social. “Fui internada, no manicômio, pelos militares, em coma e em estado lastimável. Pesava 23 quilos. Só pele e ossos, e com marcas de feridas e queimaduras por todo o corpo. Sofri outro tipo também terrível de torturas, as do tratamento psiquiátrico da época, que incluía choques elétricos, tal como me haviam dado nos quartéis”, conta.

Sylvia era estudante de Direito da Universidade Católica e de Teatro. A fuga, depois da prisão, foi noticiada no Pravda, de Moscou; no Le Monde, da França; no El País, Uruguay e na Rádio La Habana, de Cuba. A notícia virou manchete em muitos jornais do Recife, Rio, São Paulo e outras capitais do país: Perigosa terrorista fugiu da polícia; Tatiana: Beleza Também Conspira; Bela Guerrilheira Fugiu da Polícia. “Houve muitos protestos e manifestações a meu favor, sobretudo por parte dos universitários. Até Dom Hélder Câmara e o Vaticano intervieram por mim”, diz.

Quando finalmente restaurou a sanidade, entrou para a clandestinidade, refugiando-se primeiro na América Latina – onde foi cantora de barzinho, baby-sitter, tradutora, garçonete, professora de teatro, coreógrafa, desenhista de moda, perfumista e trapezista de circo – e depois na Europa, onde concluiu diversos cursos superiores. Viajou pelos cinco continentes em atividades humanitárias e
hoje mora em Lisboa.

O título Réquiem por Tatiana é uma referência ao codinome que usou na clandestinidade. Conta sua história de forma romanceada e tem como subtítulo “Missa em Si Menor”. Os capítulos estão divididos em partes que compõem uma Missa de Réquiem. Tatiana figura na obra como símbolo de toda uma geração que foi perseguida, presa, torturada e que viveu o inferno desagregador da clandestinidade e do exílio, quando não foi morta pela ditadura. Com sensibilidade, Sylvia de Montarroyos narra não só as aventuras e desventuras como ativista política e humanitária, mas também recria toda uma época, com uma riqueza de detalhes vívidos, numa narrativa fluida e bem construída. Mostra, também, como uma pessoa de aparência tão frágil pode superar imensos desafios e terminar vitoriosa na vida.

Fonte Blog do Jamildo