Chefes de Estado e personalidades dão adeus a Mandela

O mundo despertou mais triste nesta sexta-feira (6), após a morte de Nelson Mandela, aos 95 anos. O ex-presidente da África do Sul foi um dos maiores expoentes da luta contra o apartheid. Madiba, como era chamado em seu país, celebrou a sociedade livre e democrática na qual as pessoas pudessem viver em harmonia e com oportunidades iguais. Seu legado foi ressaltado por personalidades e líderes mundiais, que se pronunciaram a respeito dessa inegável perda da humanidade. 

Nelson Mandela - The Guardian

Mandela passou 27 anos preso por defender suas ideias. Saiu da cadeia (1990) para apertar as mãos de Frederik Willem de Klerk, o mandatário do regime de segregação racial – gesto que rendeu a ambos um Prêmio Nobel da Paz (1993). Assim começou a decadência do apartheid e o processo de transição da África do Sul. Em 1994, Madiba foi eleito à Presidência e, finalmente, o país pode “enterrar” esse período de desigualdade.

A trajetória do líder africano foi lembrada e reverenciada pela presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que divulgou nota oficial na qual diz que Mandela era a “personalidade maior do século 20” e que “seu combate transformou-se em um paradigma, não só para o continente africano, como para todos aqueles que lutam pela justiça, pela liberdade e pela igualdade”. Assim também afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ressaltar que Mandela “será sempre o maior símbolo mundial na busca pela paz, pela democracia e pela inclusão social”.

O mundo se despede de Mandela

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, afirmou, por meio do Twitter, que o ex-presidente sul-africano era “um gigante pela justiça e uma inspiração humana com os pés no chão”. Ele completou dizendo: “Ninguém fez mais em nosso tempo para avançar os valores e aspirações das Nações Unidas”.

Leia também:
Trajetória de lutas revolucionárias marca homenagens a Mandela
Unegro lamenta perda de Nelson Mandela
Emir Sader: Mandela contra a escravidão
Presidentes africanos falam sobre Nelson Mandela

O herói da libertação africana tinha um espírito conciliador e foi um exemplo de luta, com sua moral inabalável e sua capacidade de moderação. Mandela pode ser comparado a poucos, mas estará sempre ao lado de gigantes da paz mundial. O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, se referiu a ele desta maneira, como “um gigante da estatura de Mahatma Ghandi”.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, declarou um dia de luto oficial e disse que Mandela ficaria para sempre com a "Palestina e com todos os palestinos". "Mandela é um símbolo de liberdade contra a colonização e ocupação. Os palestinos perderam um pai e um apoiador. O povo palestino jamais esquecerá de sua declaração histórica de que a revolução na África do Sul não atingiria seus objetivos até que os palestinos se tornassem livres", declarou Abbas.

Mandela visitou Israel e os Territórios Palestinos em 1999 e se declarou um forte simpatizante da causa palestina e um advogado pela paz no Oriente Médio. Jornais árabes destacaram o legado do ex-presidente como um homem que lutou incansavelmente pela igualdade em seu país e negociou a paz em países flagelados por guerras civis, especialmente na África.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, expressou que a visão de Mandela sobre a liberdade e a igualdade se espalhou por todo mundo. Ele também lamentou publicamente a perda do líder histórico.

O ministério chinês das Relações Exteriores, divulgou também uma nota na quinta-feira (5) por meio da qual referiu-se a Nelson Mandela como "amigo fiel do povo chinês", que "conquistou o respeito e a afeição das pessoas do mundo inteiro".

O herói da luta contra o apartheid foi o autor de uma "contribuição histórica para o estabelecimento e o desenvolvimento das relações da China com a África do Sul", declarou.

O chefe de Estado de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, classificou Mandela como um “revolucionário humanista”, um “amante da liberdade” e uma das “figuras marcantes” do século passado. Em entrevista à agência cabo-verdiana de notícias Inforpress, Fonseca disse que Mandela marcou de forma “muito relevante” a história da África e do mundo, participando “heroicamente" na luta contra o apartheid, contra a segregação racial e pela igualdade de direitos no país que governou.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o mundo perdeu “um dos seres humanos mais influentes”. Obama referiu-se a ele como um homem “valente e profundamente bom”. Ele, que recebeu duras críticas por seu Prêmio Nobel da Paz, declarou ainda que Mandela foi uma de suas grandes inspirações.

A relação dos EUA com a África do Sul é historicamente questionável. “Na verdade, a África do Sul da apartheid era um grande aliado dos EUA (junto com Israel) em todos os conflitos internacionais, além de fornecedor de matérias primas estratégicas”, lembrou Emir Sader em seu blog.

“O cinismo das potências coloniais e dos próprios EUA estava na postura de não aderir ao boicote à África do Sul, alegando que isso isolaria ainda mais esse país e dificultaria negociações políticas”.

América Latina

As condolências pela morte de Mandela também atravessaram toda a América Latina. O presidente de Cuba e líder do Partido Comunista, Raúl Castro, enviou mensagem ao presidente da África do Sul, Jacob Zuma: “Com profunda dor, lhe transmito as mais sentidas condolências pelo falecimento do querido companheiro Nelson Mandela, em nome do povo e do governo cubanos, extensivas a seus familiares, ao Congresso Nacional Africano e a toda a nação. Mandela será lembrado pela altura de seu exemplo, a grandeza de sua obra e a firmeza de suas convicções na luta contra a apartheid, e por sua inestimável contribuição à construção de uma nova África do Sul. Dedicamos a ele profundo respeito e admiração, não só pelo que fez por seu povo, mas por sua amizade provada para com nosso país”.

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disse, em nota, que "hoje, o vazio e a tristeza que nos deixa sua partida devem ser superados, convertendo seu legado em nossa própria luta em favor da democracia e dos direitos humanos, presente em cada esforço genuíno para construir um mundo mais justo e solidário".

Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro decretou três dias de luto pela morte de Madiba. O mandatário postou uma foto de Mandela em sua rede social e escreveu: "Nelson Mandela, até a vitória sempre! Líder dos povos que lutam. Da Venezuela, enviamos nosso amor". Também através do Twitter, o presidente mexicano disse: “Em nome do México, lamento profundamente seu falecimento e expresso minhas condolências ao povo sul-africano”. O presidente do Chile, Sebastián Piñera também expressou “profundo pesar”.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, manifestou "profunda tristeza" pela morte do ex-presidente da África do Sul. Em um pronunciamento, na cidade de Cochabamba, Morales falou da importância de Mandela como ativista dos direitos humanos e que ele foi o símbolo da luta mundial contra o racismo. "Ninguém se esquecerá do avanço dos povos desde a sua vitória, marcada pela queda da apartheid, tampouco de sua luta na prisão para melhorar o seu país", disse Morales.

Para Juan Manuel Santos, Nelson Mandela deixa um guia para a paz na Colômbia. "Lamentamos profundamente a morte de Nelson Mandela. Seu legado permanece como nosso guia para alcançar a paz", escreveu no Twitter o presidente colombiano.

Personalidades

A lenda do boxe Mohammed Ali, declarou que ele iria se lembrar de Mandela como um homem cujo espírito não se deixou vencer pela injustiça ou pelo peso do ódio.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, da Argentina, descreveu Mandela como "um homem que partiu, mas que nunca irá embora" e que vai permanecer "nos corações de seu povo e da humanidade".

Morgan Freeman, que interpretou Madiba em Invictus, disse que "o mundo perdeu um dos verdadeiros gigantes do século passado".

Théa Rodrigues, da Redação do Vermelho,
Com informações das agências de notícias