Moradores da Liberdade denunciam abandono da Praça Nelson Mandela

Em 1991, a população da Bahia convidou Nelson Mandela, um dos maiores nomes da luta pela igualdade racial no mundo, para uma visita ao estado. Mandela, que tinha acabado de sair da prisão, onde permaneceu por 27 anos, aceitou e levou para a Praça Castro Alves, no dia 3 de julho daquele ano, mais de 150 mil pessoas, que foram ao local para reverenciá-lo.

Em sinal de gratidão à visita, os baianos batizaram uma praça na Liberdade – bairro mais negro de Salvador -, com o nome do líder sul-africano. Na Praça Nelson Mandela, que fica na entrada do Plano Inclinado, há um busto do homenageado, feito em bronze, pela artista plástica Márcia Magno.

Com a notícia da morte de Mandela, na última quinta-feira (5/12), a equipe do Vermelho visitou a praça, em busca de homenagens. No entanto, diferente do que acontece em outros monumentos do ex-presidente da África do Sul pelo mundo, não havia uma flor sequer no busto, apenas queixas dos moradores, que acusam a prefeitura da capital baiana de esquecer o local.

“Nós [moradores] nos sentimos privilegiados por ter um espaço de homenagem a Mandela aqui, mas apenas construir não basta. Ele está abandonado e precisa de mais cuidado. Quem, às vezes, faz uma limpeza é o pessoal da própria comunidade”, conta o instrumentista cirúrgico Ramon Santana, de 35 anos, morador do bairro há 24.

Ramon explicou que, naquele momento, a praça não estava tão maltratada por conta da festa de Santa Bárbara, que aconteceu no local, na última quarta (4). A organização do evento exigiu e a prefeitura fez uma pequena limpeza.

Desinformação

Para a comerciante Rosa Silva, que trabalha em um quiosque dentro da praça, além do descuido, o local sofre também com a falta de visitantes. Pelo fato de estar próximo à entrada do Plano Inclinado, as pessoas não se dão conta do verdadeiro nome do espaço, chamando-o apenas de Praça do Plano Inclinado.

“Muita gente nem sabe que o nome dessa praça é Nelson Mandela e por isso que ninguém vem aqui visitar. Só está chegando gente hoje por causa da morte dele”, contou a comerciante.

Orgulho

Apesar dos problemas, Ramon Santana, que é negro, afirmou que é um orgulho e um privilégio para a Liberdade abrigar a homenagem da Bahia a Nelson Mandela. A notícia de que o líder estava mal de saúde e que corria risco de morte, deixou a comunidade triste, disse ele.

“Agora, com a morte dele, ficamos tristes, mas já esperávamos. Sabemos que a história dele não morre junto. Ela vai se perpetuar”, finalizou o instrumentista cirúrgico.

De Salvador,
Erikson Walla