Oposição em Moçambique adia a paz para "o próximo ano"

Em local desconhecido desde outubro, o líder da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), Afonso Dhlakama deu uma entrevista nesta quarta-feira (11) ao semanário Canal de Moçambique, em que afirma que o país não está em guerra e que a normalidade será reposta no início do próximo ano. Integrantes da Renamo tinham entrado em confronto com as forças do governo da Frente para a Libertação de Moçambique (Frelimo) e analistas previam o retorno ao conflito armado no país.

Moçambique - Grant Lee Newnburg / Reuters

"Este ano pode não ser, mas em janeiro ou fevereiro vamos ter paz", garantiu o líder do maior partido da oposição, em declarações ao semanário, citado pela agência portuguesa de notícias Lusa. "A guerra dos 16 anos durou muito porque não havia investimento estrangeiro", acrescentou Dhlakama, aludindo à guerra civil moçambicana, entre 1977 e 1992.

Afonso Dhlakama não aparece em público desde 17 de outubro, quando as Forças Armadas ocuparam Satungira, a principal base da Renamo, no centro do país.  O líder acusa a Frelimo de ter orquestrado o ataque à sua base com o objetivo de assassiná-lo."Guebuza queria me matar" é a manchete do Canal de Moçambique, numa referência ao presidente de Moçambique, Armando Guebuza.

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Na entrevista, Dhlakama diz aceitar negociar um cessar-fogo nos confrontos do centro do país. "Eu gostaria que declarássemos cessar-fogo entre Muxúnguè, Chibabava, minha terra, até ao rio Save, porque aquilo não significa nada; é só um negócio sujo, não serve para nada", afirmou.

Guebuza convidou Dhlakama para negociações ainda antes das eleições autárquicas de 20 de novembro, mas a Renamo recusou, alegando como motivo supostos ataques ao seu líder. Moçambique está há meses enfrentando uma crise política iniciada pela recusa da Renamo em participar nas eleições autárquicas, em protesto contra a lei eleitoral.

A Renamo, que combateu com armas o governo da Frelimo durante 16 anos, até 1992, contesta a legislação eleitoral, e antigos rebeldes ameaçam dividir o país. Eles foram acusados pelo governo da autoria de vários episódios de violência ocorridos nos últimos meses e, segundo a mídia moçambicana, militantes pressionaram Dhlakama a não permitir a realização das autárquicas com a atual legislação eleitoral.

A Frente Revolucionária de Libertação de Moçambique (Frelimo) resulta do grupo que lutou por uma década contra Portugal e libertou o país, que conquistou a independência em 1975, seguida de um período de governo de inspiração marxista e 16 anos de guerra civil, com a Renamo como uma de suas principais rivais.

Com informações do Público,
Da redação do Vermelho