Encontro de Jovens Feministas da UJS reúne militantes em Brasília

Aconteceu, no último fim de semana, de 13 a 15 de dezembro, em Brasília, o I Encontro de Jovens Mulheres Feministas da União da Juventude Socialista (UJS).

O objetivo do encontro foi aprofundar a elaboração e ativismo para conquistar mais direitos para as jovens mulheres brasileiras. A abertura do evento, que foi realizado na UNB, teve o ato político "Meninas no poder – Reforma política já!", e contou com a presença de várias lideranças do movimento de mulheres. O encontro reuniu jovens militantes da UJS, homens e mulheres, que debateram amplamente.

Na véspera de completar seu 30° aniversário, a UJS convocou o conjunto de sua militância para o combate pela emancipação da mulher e a construção do socialismo. Maria das Neves, diretora da UJS, reafirmou a importância da luta pela reforma democrática, em especial, pela reforma política.

"O machismo culturalmente se fixa na sociedade e se estrutura em vários espaços, e no parlamento não é diferente. Infelizmente, as mulheres brasileiras, apesar de serem maioria do eleitorado e apesar de termos hoje uma mulher como presidenta da República, ainda somos sub-representadas no Congresso Nacional. É preciso destacar que a eleição de uma mulher para presidência desse país muda a história das mulheres brasileiras, que agora podem sonhar em ser professoras, advogadas, médicas, mas também podem sonhar em estar no cargo máximo da nação. É essa realidade – das mulheres nos espaços de poder – que nós queremos construir", disse.

A secretária da SPM-Rio, Ana Rocha, foi uma das palestrantes do encontro em duas mesas. Em uma falou sobre as diversas correntes do feminismo, com destaque para a corrente emancipacionista. Na outra apresentou o tema "Mulher e o mundo do trabalho". Para a secretária, o trabalho é fundamental para a formação do ser social e a volta da mulher ao espaço público, ao mercado de trabalho formal, representa um dos mais importantes avanços na luta pela igualdade de direitos. Ainda sim, Ana Rocha marcou que esse retorno foi, e é, marcado pela desigualdade, pela sobrecarga doméstica, em função da dupla jornada – no espaço público e doméstico – onde exerce as funções de cuidadora e provedora. A secretária também apresentou o perfil da jovem mulher brasileira, mostrando que ampla fatia dessa população ainda está fora do ensino e do trabalho formais. Essa geração é classificada pelo IBGE como "nem-nem". Segundo dados do instituto, o número de jovens de 15 a 29 anos que não estudava nem trabalhava chegou a 9,6 milhões no país no ano passado.

A pesquisa aponta ainda que essa geração é formada em sua maioria pelas mulheres, que totalizam 70,3%. A incidência é maior no subgrupo formado pelas pessoas de 25 a 29 anos, onde as mulheres representavam 76,9%. No subgrupo de 18 a 24 anos, por sua vez, as mulheres representavam 68%. Entre essas jovens, 58,4% já tinham pelo menos um filho, e 41% declararam que não eram mães.

"Mulheres continuam sendo super-representadas entre os pobres e sub-representadas na política", destacou a secretária. "O círculo vicioso da desigualdade gerada pela obrigatoriedade social do trabalho doméstico explica a sua ausência na política e nos espaços de decisões em geral(…) "É necessário articular a vida profissional com a privada para homens e mulheres, com a criação de creches e escolas integrais", defendeu. A redistribuição do trabalho total (produtivo, reprodutivo, remunerado e não remunerado) ainda é um horizonte, a ser alcançado."

A delegação da UJS Rio de Janeiro que foi ao encontro contou com uma importante participação de 41 jovens, entre homens e mulheres, que seguiram para Brasília para contribuir com esse debate fundamental.

Bia Lopes, estudante da UFF e dirigente da UJS Rio de Janeiro, falou com entusiasmo sobre o Encontro e destacou a participação da bancada fluminense em Brasília:

“O encontro foi bem construtivo, foi a primeira vez que reunimos a militância da UJS para pensar uma opinião uníssona sobre o feminismo, sobre a emancipação da mulher; já discutimos bastante isso mas de forma informal. Agora fizemos o Encontro para conseguir sistematizar essas opiniões. A banca do Rio foi uma das maiores, foi bastante participativa, tivemos participantes de várias regiões, de Petrópolis, Sul Fluminense, Campos. Uma bancada bem representativa. Praticamente todas as meninas que participaram se filiaram à UBM. Todos saíram muito animados para continuar construindo o movimento feminista”, finalizou Bia Lopes.

Ao final do Encontro, foi lançado um manifesto pelos participantes. No documento, defendeu-se a democratização da mídia, que reproduz cotidianamente os esteriótipos e valores hegemônicos de patriarcado e do machismo. Outro trecho destacou ainda que o machismo é uma das vertentes da luta de classes e que a tarefa da juventude é ocupar os espaços de poder, pois esse é um elemento que pode determinar o avanço da luta emancipacionista no Brasil.

O Encontro também realizou homenagens, como à senadora comunista Vanessa Grazziotin. A secretária Ana Rocha também foi agraciada com o diploma de Honra do Mérito "Dinalva de Oliveira Teixeira", pela luta em defesa da democracia pela emancipação da mulher e contra toda forma de agressão.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social da SPM-Rio

Confira o documento produzido no Encontro:

A Carta de Brasília: combater o machismo, emancipar as mulheres e construir o Socialismo!

Nós meninas e meninos, jovens socialistas ombreados no I Encontro de jovens feministas da UJS, nos orgulhamos de realizar este espaço que alça a luta emancipacionista das mulheres ao centro da nossa construção do socialismo no Brasil.

A história da exploração sexual do trabalho, em que foi relegado às mulheres o confinamento ao mundo privado, o mundo dos cuidados à família e o não reconhecimento de nossos direitos civis e políticos, potencializa a própria exploração de classes ao qual os trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo estão submetidos.

O Capitalismo, que vive desde 2008 sua maior crise sistêmica, tem como um dos pilares do seu aparato ideológico de dominação a propagação de modelos de sociedade baseada nos valores de individualismo, do consumo desenfreado, mas também do machismo, através do estabelecimento da divisão sexual do trabalho, dos esteriótipos de beleza, de comportamento alinhados ao padrão cristão de civilização, rebaixando o papel das mulheres na sociedade.

No ano em que a UJS inicia as comemorações dos seus 30 anos, precisamos contar não só nossa história pela lente do protagonismo juvenil, mas principalmente, dar visibilidade ao protagonismo feminino que é tão presente nas nossas raízes.

Nossa herança mais forte, a da Guerrilha do Araguaia, teve nas suas fileiras a bravura das mulheres comunistas, que no coração do Brasil, em Xambioá, aliou ao combate à ditadura, a luta pelo socialismo e a luta pela emancipação da mulher brasileira. E por isso, não só morreram, mas tiveram seus corpos duramente violentados, como uma tentativa de não deixar legados de questionamento à sociedade patriarcal. São as nossas heroínas Elza Monerat, Dinalva Oliveira Teixeira, Helenira Rezende, Maria Lúcia Petit, Dinaelza Santana Coqueiro, Luzia Reis, Suely Kanayama, Lucia Maria de Souza, Luiza Garlippe, Criméia Schimidt de Almeida, Áurea Valadão, Maria Célia Correa, Edilena da Silva Carvalho, Lúcia Regina Martins, Jana Barroso e Telma Regina Correa.

O ano de 2013 também entrará para nossa história, pois imensas foram nossas conquistas em que as mulheres também estiveram na linha de frente. A vitória da revogação do aumento da passagem de ônibus em centenas de cidades brasileiras mostra a força da juventude nas ruas. Conquistas históricas como a aprovação de 50% do Fundo social do Pré-sal e 75% dos royalties do petróleo para a educação e a aprovação do estatuto da juventude, foram lideradas pelas meninas presidentas da UNE, UBES e ANPG. Essas vitórias foram impulsionadas pelas ruas de junho e reforçam a convicção do papel decisivo que tem a juventude na luta pelo Brasil dos nossos sonhos.

A luta pelo socialismo com a cara do Brasil, no entanto, depende ainda da superação de muitos entraves que só poderão ser vencidos se avançarmos em reformas mais profundas, democráticas e estruturantes. Com centralidade para uma Reforma Política, que torne a política mais representativa do povo e das mulheres, assegurando o fim do financiamento privado de campanha, a garantia da paridade de mulheres nas listas partidárias e cotas de 50% de mulheres e alternância de gênero em todas as casas Legislativas do Brasil.

A democratização da mídia, que reproduz cotidianamente os esteriótipos e valores hegemônicos de patriarcado e do machismo. Nossa luta pela verdade e pela justiça passará por, nos marcos dos 50 anos da ditadura que se dará em 2014, assegurar a Revisão da Lei da Anistia, a punição dos torturadores e a devolução dos restos mortais dos nossos guerrilheiros e guerrilheiras do Araguaia.

A nossa luta feminista deve ser transversal em todas as lutas e bandeiras levantadas pelo nosso povo. Não é possível construir uma sociedade sem classes e socialista, sem libertar metade da população mundial das opressões simbólicas e físicas constituídas historicamente.

A dominação do corpo da mulher se constituiu como mecanismo estruturante da manutenção do sistema de dominação e para a manutenção dele o machismo deve ser reproduzido permanentemente.

A cultura cristã ocidental que nos enquadra entre os esteriótipos de pecadoras na figura de Eva ou de puras e castas como Maria, mãe de Deus, não permite expressar nossa diversidade de ser e de amar. Não somos putas nem santas!

Nesse padrão não cabem meninas que amam meninas, não cabem meninas que não tenham na maternidade seus principais objetivos de vida, não cabem profissionais das áreas de ciências aplicadas e altas tecnologias, não cabem meninas ocupando postos de poder.

Precisamos romper com esses símbolos que impedem o avanço de lutas importantes como o direito pleno ao corpo, a legalização do aborto, o avanço de políticas pelo fim da violência contra a mulher como a Lei Maria da Penha, a garantia de creches nas universidades e locais de trabalho e políticas que tirem da carga de trabalho da mulher as horas de trabalho doméstico, desse trabalho excedente não remunerado ao qual somos submetidas.

O machismo é uma das vertentes da luta de classes e só será superado no socialismo, quando romperemos com as amarras culturais que oprimem, mutilam e matam as mulheres. Nossa tarefa primeira sem dúvidas é ocupar os espaços de poder. Esse é um elemento que pode determinar o avanço da luta emancipacionista no Brasil, e portanto da luta pelo socialismo.

Agora é a hora das meninas e o povo no poder.
Esse I Encontro de jovens feministas pavimentaram um caminho sem volta. A UJS deve somar sua energia na luta das feministas brasileiras. Ninguém segura mais as meninas da UJS e essa energia vibrante que será decisiva para os desafios que se avizinham em 2014.

Brasília, 15 de dezembro de 2013.
I Encontro de Jovens Feministas da UJS.