Cláudio Ferreira Lima: Sobre 2014

Por *Cláudio Ferreira Lima

Que esperamos de 2014? Em princípio, sabe-se que o cenário será tomado por dois acontecimentos: a Copa do Mundo e as eleições federais e estaduais.

A Copa, de 12 de junho a 13 de julho, apesar de Mr. Blatter, junto com o espetáculo dos jogos, poderá favorecer o turismo e, graças à visibilidade que dará ao país, trazer investimento externo. Enquanto isso, os grupos de comunicação e os patrocinadores serão os grandes ganhadores.

Não esqueçamos de que o financiamento das arenas (de retorno demorado e duvidoso) aumentou a dívida pública e diminuiu os recursos para áreas prioritárias. De todo jeito, a infraestrutura urbana será um bom legado, e que ótimo! se o Brasil for hexa.

As eleições serão em 5 de outubro (1º turno) e 26 de outubro (2º turno). Sonhamos com a campanha em nível elevado, com a discussão de temas relevantes como a gestão, as reformas e, sobretudo, o rumo estratégico para os Estados e o país. E nada de moralismo udenista e promesseiro vazio. Mas, infelizmente, a realidade é que a maioria do eleitorado, com múltiplas carências, quer ouvir sobre o aqui e agora. E isso gera um círculo vicioso que temos de quebrar,

A esses dois acontecimentos irão juntar-se alguns ingredientes que darão o tom de 2014. É o caso das manifestações, que devem voltar com força às ruas; do comportamento da inflação e da economia (e se os EUA aumentarem os juros?); do desempenho do Brasil na Copa; e do que São Pedro reserva para o Nordeste.

O que me preocupa mais é se esse mix resultará em boas ou más notícias para 2015. Que presidente teremos? Qual a política dele para o Nordeste? Pois, se ela não mudar, estaremos fritos.

Ora, primeiro, a política regional foi trocada pelos programas sociais, que são necessários, claro, mas nem de longe a solução. E, segundo, o governo federal retomou o investimento, especialmente em infraestrutura, e como não há poupança pública para financiá-los, recorreu ao regime de concessões, que depende do retorno financeiro. E é evidente que o Nordeste, por esse critério, não tem como concorrer com o Sudeste. O caso das rodovias é exemplar: o mapa de concessões apenas tangencia a Bahia, não penetra no Nordeste. O mesmo ocorrerá com as ferrovias (a Transnordestina no ritmo que vai, só em um século!).

E, se considerarmos que, daqui a pouco, a roda da economia mundial voltará a girar? Isso significa que o Nordeste ficará cada vez mais para trás. Que fazer?

Que governadores teremos? O Nordeste precisa de unidade política para, em um planejamento de longo prazo, definir as infraestruturas estratégicas. Mas de onde tirar os recursos? Só resta uma saída: a tão adiada quanto urgente reforma fiscal, que se interessa não apenas em saber de onde vem a receita (reforma tributária), mas também de que forma ela será gasta. É hora de estancar a sangria dos juros da dívida. É hora de questionar a qualidade da despesa. Um trabalho de Hércules, sem dúvida, mas não impossível, se a sociedade, organizada, assim o exigir. A começar por eleger bons governantes. Amém.

*Cláudio Ferreira Lima é Economista

Fonte: O Povo

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