O bandeirante do futebol

Por Aldo Rebelo*

 
Ao celebrarmos os 460 anos de São Paulo não faltam heróis na galeria de homens de Estado que contribuíram para a grandeza desta cidade-epicentro da construção, consolidação e progresso do Brasil. Fundada pelo padre-estadista Manuel da Nóbrega a partir de uma escola, marco de sua gênese sob o signo da cultura, justamente no dia do santo que foi um apóstolo da civilização, São Paulo de Piratininga tornou-se uma catapulta geopolítica. Lançou às fronteiras e ao cerne do País, bandeiras como a de Raposo Tavares para desbravarem o território nacional, germinou o ideal da Independência arquitetada por José Bonifácio, forjou a burguesia que incentivou a República e ainda plantou o fecundo ciclo do café, e a seguir a industrialização, e abrigou os imigrantes italianos de orientação anarquista que politizaram as lutas trabalhistas.

Mas neste 25 de janeiro seria injusto homenagear os homens de Estado e ignorar um jovem estudante que não se enquadra nessa categoria porém merece ser celebrado como herói nacional. O paulistano Charles Miller (1874-1953) legou um patrimônio cultural logo consolidado do Oiapoque ao Chuí ao introduzir em São Paulo o futebol que aprendeu a jogar numa escola da Inglaterra.

Em 14 de abril de 1895 organizou o primeiro jogo disputado segundo as regras que já eram usuais na Europa. Na areia da Várzea do Carmo, no bairro do Brás, o futebol brotou viçoso para ser uma paixão nacional.

Se o pontapé inicial foi dado pela aristocracia britânica, imediatamente o esporte foi apropriado pelas camadas mais humildes da população. Que nem ocorreu na Inglaterra, onde forjou a semana inglesa de cinco dias para que os operários pudessem jogar no sábado e guardar o domingo, o jogo da bola popularizou-se no Brasil a ponto de entranhar-se na formação social como um elemento da identidade nacional.

Charles Miller foi um bandeirante do futebol.

Aldo Rebelo é ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB-SP

Fonte: Diário de S. Paulo