Expansão arrisca locais históricos do Islã na Arábia Saudita

As autoridades da Arábia Saudita iniciaram o desmantelamento de algumas das seções mais antigas da mesquita mais importante para o Islã, parte de uma expansão controversa e altamente controversa, que custará bilhões, de acordo com o jornal britânico The Independent. Imagens obtidas pelo jornal de ativistas sauditas contrários ao projeto mostram escavadeiras mecânicas e perfuradoras que destroem seções otomanas e abássidas, do lado leste da Mesquita Al-Haram, em Meca.

O edifício, que é conhecido como Grande Mesquita, é o local mais sagrado para o Islã porque contém a Kaaba, o ponto para o qual todos os muçulmanos do mundo se viram ao rezar. As colunas são as últimas seções remanescentes da mesquita, que datam de centenas de anos e formam o perímetro interior da área de mármore à volta da Kaaba.

As novas fotografias, tiradas nas últimas semanas, causaram alarme entre arqueólogos e, ressalta o jornal britânico, foram reveladas durante a visita do príncipe Charles do Reino Unido, realizada também num momento controverso, quando autoridades sauditas dispararam contra sete homens em público na mesma semana, apesar das preocupações graves com seus julgamentos e com a idade de alguns deles, que poderiam ser menores de idade no tempo do crime de que são acusados.

Muitas das colunas otomanas e abássidas em Meca eram inscritas com caligrafia árabe intrincada, marcando os nomes dos companheiros profeta Mohamed e momentos-chave da vida dele. Uma das colunas, que os ativistas dizem já ter sido removida, marcava o local onde os muçulmanos acreditam que Mohamed começou sua jornada em um cavalo alado, que o levou a Jerusalém e ao paraíso.

Para acomodar o número crescente de peregrinos visitando os locais sagrados de Meca e Medina todos os anos, as autoridades sauditas iniciaram um projeto massivo de expansão. Bilhões de dólares foram investidos para aumentar a capacidade da Mesquita Al-Haram (ou Masjid Al-Haram) e da Masjid na-Nabawi, em Medina, que marca onde Mohamed está enterrado.

O rei Abdullah colocou o clérigo wahabita e imã da Grande Mesquita, Abdul Rahman Al-Sudais, a cargo da expansão, enquanto o grupo saudita Binladin, uma das maiores companhias do país, ganhou o contrato de construção.

Os críticos têm afirmado que o projeto não leva em consideração a herança arqueológica, histórica e cultural dos dois locais mais sagrados para o Islã. Na última década, Meca foi transformada de uma cidade de peregrinação empoeirada pelo deserto em uma metrópole de arranha-céus com diversos centros comerciais, apartamentos de luxo e hotéis de cinco estrelas.

Mas o custo da transformação, diz o Independent, citando o Instituto Golfo, foi o da demolição de 95% dos edifícios milenares de Meca nas últimas duas décadas. Mas há sinais de que o rei teria ouvido os apelos contra a destruição dos locais históricos, com a aprovação de novos planos que mudaram os anteriores, com a expansão programada para acontecer em uma direção diferente, que não destrua tanto.

Entretanto, locais importantes continuam em risco, como uma área em que se acredita ter estado a casa onde Mohamed nasceu, Beit al-Mawlid, que teria de ser movida a menos que os planos mudassem.

Da redação do Vermelho,
Com informações do The Independent