Comunistas da Ucrânia denunciam ingerência e ação fascista

A direita da Ucrânia rejeitou uma medida de anistia aos participantes dos protestos violentos na capital, Kiev, aprovada pelo Parlamento nesta quarta-feira (29), devido à demanda de abandono dos prédios governamentais ocupados. Os líderes da oposição direitista exigem anistia incondicional e prometem continuar os protestos, enquanto os comunistas denunciam, em carta aberta, a intensificação da violência dos movimentos fascistas e a ingerência ocidental na crise ucraniana.

Ucrânia - Reuters / Gleb Garanich

Caso a medida seja ratificada como lei, uma anistia geral será garantida a todos os participantes dos protestos contra o governo, à exceção daqueles suspeitos de crimes mais graves, como assassinato e sequestro.

A contrapartida é a de que os manifestantes deixaram todos os prédios governamentais e administrativos no país, assim como algumas ruas. Isto não inclui os locais onde os protestos são pacíficos, como a Praça da Independência e a Praça Europeia de Kiev. A medida estabelece um prazo de 15 dias para que a oposição a acate.

O Partido das Regiões governista foi o promotor da medida, apoiada por 232 dos 450 membros do parlamento unicameral da Ucrânia; a anistia é a terceira maior concessão dos últimos dias em resposta às exigências da oposição, segundo o partido.

“Isto se chama comprometimento. Mas se eles não cumprirem a sua parte das obrigações, a lei morre e nenhuma anistia acontecerá. Centenas de pessoas serão punidas por violarem a lei, a culpa será completamente dos [líderes da oposição] Klitschko, Yatsenyuk e Tyagnibok,” explicou Mikhail Chechetov, um parlamentar do Partido das Regiões.

Mas, apesar desta medida e de outras concessões feitas pelo governo, que incluem cargos políticos à oposição, esses líderes, Vitaly Klitschko, da Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma (Udar), Arseniy Yatsenyuk, do Partido da Pátria (“Batkivshchyna”) e Oleg Tyahnybok, do Partido da Liberdade (“Svoboda”), todos de direita e da extrema-direita nacionalista, recusaram o acordo. Eles rechaçam as “precondições” e alegam que a anistia faria “aumentar as tensões”, ou que serviria para acabar com os protestos.

Comunistas denunciam tentativa de golpe fascista

O primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da Ucrânia (PCU), Petro Simonenko divulgou uma carta aberta aos comunistas ucranianos e internacionais sobre a crise política e as investidas violentas da direita nacionalista.

Simonenko denuncia a violência extremada dos protestos, e afirma que os “acontecimentos recentes têm destruído o mito de que na capital ucraniana se manifesta uma oposição ao ‘regime criminoso’, composta por ‘euromanifestantes pacíficos’."

“Os acontecimentos que se desenrolam em si representam um golpe. Isto é confirmado por recentes ações da ‘oposição’, destinadas a criar instituições paralelas de poder em nome do povo, por atos, alimentando ainda mais o confronto na Ucrânia e forçando as autoridades a cada vez mais radical medidas inconstitucionais.”

E continua: “Merece atenção a atividade crescente da ultradireita política, ultranacionalista e neonazista culpada de atos de violência e injustiça.”. Simonenko ressalta que o Comitê Central do PCU informou o movimento comunista, os trabalhadores e a esquerda mundial sobre o vandalismo quando os neonazistas destruíram a estátua de Lênin e monumentos da era soviética em atos cometidos até mesmo contra os monumentos aos heróis da luta contra o fascismo.

“Torna-se evidente o envolvimento contínuo da Ucrânia em uma escalada ainda maior de violência. Com o apoio de informação política e uma série de embaixadores dos países ocidentais na Ucrânia, bem como os políticos da Europa Ocidental, está se tornando cada vez mais claro quem está por trás do acirramento do conflito no país,” afirma o comunista.

Ao mesmo tempo, continua, o Departamento de Estado dos EUA exige constantemente que as autoridades cheguem a negociar com a oposição, a retirar todas as forças de segurança de Kiev e a dar a oportunidade à oposição para assumir a sede do governo, bem como a cancelar as leis recentes "antidemocráticas e ditatoriais", aprovadas pelo Parlamento da Ucrânia.

“No entanto, essas leis são totalmente compatíveis com os padrões democráticos ocidentais, são, na verdade, a tradução, são idênticas às da legislação em vigor na União Europeia e nos EUA,” ressalta Simonenko. Ele explica que, por exemplo, de acordo com as novas leis, “as organizações sociais ucranianas financiadas a partir do exterior, que muito contribuíram para a ampliação do conflito, são obrigados a registrar-se como agentes estrangeiros. Na legislação dos EUA, esta disposição está em vigor desde a década de 1930 (…) e as regras da lei aprovada que proíbem manifestantes pacíficos de esconder o rosto são idênticas às da UE.”

O secretário do PCU retoma as propostas feitas antes pelos comunistas para o Referendo na Ucrânia: “sua implementação teria eliminado completamente a base do descontentamento popular e teria permitido que o povo ucraniano determinasse a direção futura do desenvolvimento.”

“O PCU declara a necessidade de acabar com o uso da força para garantir a não interferência nos assuntos internos da Ucrânia de Estados estrangeiros e seus representantes, e de retomar as negociações. Ao mesmo tempo, qualquer tentativa de criar estruturas de poder paralelas e inconstitucionais só vão fortalecer os confrontos e criar uma ameaça real para a escalada do conflito em uma guerra civil. Uma parte da população vai apoiar o governo atual, e o outro vai apoiar a chamada ‘oposição’ autoproclamada, e isso conduzirá inevitavelmente a uma divisão final da Ucrânia.”

Da redação do Vermelho,
Com informações das agências