Iemenita preso em Guantânamo é "avaliado para transferência"

Um advogado de Abdel Malik Ahmed al-Rahabi, um homem iemenita detido há 12 na prisão militar mantida pelos Estados Unidos em Guantânamo, sem julgamento, pediu a um painel militar que fosse recomendado para ser enviado para casa, onde planeja lecionar e ter uma produção de leite e mel, ou trabalhar na alfaiataria do seu pai. Mas o perfil que o Exército fez dele adverte que Abdel é “provavelmente” um membro da rede terrorista Al-Qaeda.

Guantânamo - AFP / Getty Images

Os militares estadunidenses insistem em que enviar Al-Rahabi de volta para casa, depois dos 12 anos sem julgamento, é “arriscado”, já que ele teria sido, “quase com certeza”, um guarda-costas do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, antes da sua captura por tropas paquistanesas, em 2001, e que seu irmão é um “extremista proeminente” em sua região.

Leia também:

Detidos em Guantânamo podem ser transferidos lentamente
Acordo pode facilitar saída de presos de Guantânamo
Para Obama, o mundo conta com a "liberação" agressiva dos EUA

A alegação dos militares é a de que o ambiente “inseguro” no Iêmen seria propício para que o iemenita “reintegrasse” a rede Al-Qaeda – ainda que não tenham apresentado evidências do envolvimento de Al-Rahabi no grupo, pretendem mantê-lo encarcerado.

As declarações foram feitas na terça-feira (28), antes do novo sistema militar do Painel de Revisão Periódica. O governo estadunidense estabeleceu este sistema para avaliar os casos dos detidos, para averiguar se ainda são considerados “perigosos demais” para serem liberados ou transferidos para a detenção em outros países que não necessariamente os seus.

Al-Rahabi, representado por um advogado e dois oficiais militares, foi o segundo detido – nestes 13 anos de manutenção de uma estrutura criminosa de detenção, violadora dos direitos humanos mais básicos dos “suspeitos” – a ser avaliado. O iemenita não falou, entretanto, mas foi vestido com um uniforme branco, sinal de que cumpre “as regras da prisão” e que poderia viver em uma habitação comum, de acordo com o jornal estadunidense The New York Times.

Mesmo que ele fosse recomendado para a transferência, entretanto, não deixaria a prisão tão cedo, necessariamente. Há outros 56 iemenitas em Guantânamo que já foram indicados, alguns há mais de quatro anos, mas o governo estadunidense alega “condições securitárias fracas” no Iêmen para continuar a mantê-los encarcerados.

A primeira avaliação feita pelo painel, em novembro de 2013, do caso de Mahmoud al-Mujahid, também iemenita, resultou positivamente, e al-Mujahid foi indicado para transferência, mas nas mesmas condições.

Entre os documentos divulgados pelo Exército depois da primeira audiência, de acordo com o New York Times, estava uma transcrição com diversos trechos censurados. Entretanto, afirma o jornal, um erro na digitalização tornava o documento disponível para consulta na internet completo.

Uma das frases censuradas, diz o artigo, era a afirmação de Mujahid de que ele planejava, como parte de qualquer vida depois de Guantânamo, escrever um livro “advertindo as crianças contra os perigos da jihad.”

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações do New York Times