Jordi Angusto: Espanha mais desigual e a troika ataca novamente

Como se não bastasse já ser o segundo país mais desigual da Europa, a troika [Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional] nos ajuda a escalar ao primeiro posto, recomendando mais cortes de salários e menores indenizações pelos despedimentos. Má fé, ou ignorância? A meu ver, as duas coisas.

Por Jordi Angusto*

25S Manifestações na Espanha - 25s

Por um lado, a má fé derivada deste costume tensionado de jogar terra no olho alheio e não no próprio; ou seja, de seguir considerando que toda a culpa desta crise é dos perdedores.

Da Espanha, neste caso, e dentro da Espanha, de uns trabalhadores que pretenderam, sem conseguir, que a todo incremento de preços se seguisse um dos salários.

Pelo contrário, nem a implantação do euro, sem medidas corretoras, nem o dumping salarial alemão tiveram culpa alguma dos desequilíbrios que nos levaram a acumular déficits comerciais, primeiro, e dívida externa, depois. Nem, tampouco, a bolha com que se inflamavam aqui os preços foi financiada por “eles” com o superávit.

“Eles”, inocentes e nós, culpados. Este é o seu veredito. Por tanto, para nós, a penitência. E, pelo visto, ainda não basta para eles o nosso sofrimento. Se aguentamos até aqui, por que não mais um pouco?

A justificativa é a de sempre: com menores salários, mais empregos. E como sua regra não funcionou, posto que os salários e os empregos diminuíram concomitantemente desde o início da crise, então é preciso aumentar a dose.

E aqui é onde entra o jogo da ignorância. Porque, se abaixados os salários, não aumenta a ocupação, mas os benefícios, e se estes não supõem um aumento da demanda, e não podem supor isso quando os que mais benefícios acumulam não sabem mais o que consumir, a ocupação acaba diminuindo. Isso é o que temos visto em todo este episódio de crise, ainda que haja, todavia, quem negue a evidência.

No melhor dos casos, uma redução dos salários pode “atrair” e “deslocar” trabalho; da empresa que não os abaixar para as que o fizerem, ou de um país que não os reduza para os que o façam.
Este é todo o seu deprimente poder: contrair a demanda e o emprego global, deslocando o trabalho para onde se contraiam mais os salários, o que faz com que eles sejam contraídos por todos os lados, que isso contraia ainda mais a demanda e que se retroalimente a espiral depressiva.

E nisso estamos. Sobretudo na Europa. Impulsionando bastante uma espiral depressiva que inevitavelmente deprime os países emergentes e, por isso, a sua desvalorização recente, que só os EUA de Obama parecem dispostos a deter, aumentando salários mínimos, mas mantendo um déficit exterior cada dia mais insustentável. Até quando?

Até quando [teremos] esta Europa insensata e insensível com seus cidadãos e com os do resto do mundo? Quando se darão conta de que a única saída desta crise é fazer justamente o contrário, impulsionando os salários nos países mais superavitários para rebaixar a pressão sobre os dos outros e aumentar, ao mesmo tempo, a demanda e a ocupação global?

Em todo caso, não antes de gritarmos todos juntos à troika que nós não somos os culpados desta crise, mas que os culpados são eles.

*Jordi Angusto é membro do partido Nova Esquerra Catalana, da comunidade autônoma da Catalunha, na Espanha.
**Título originail: "A troika ataca de novo"

Fonte: Público.es
Tradução da redação do Vermelho