Coalizão propõe plano sem pedir deposição de Assad na Síria

A Coalizão Nacional Síria (CNS), que se afirma como representante da oposição ao governo na conferência internacional “Genebra 2”, apresentou nesta quarta-feira (12) a proposta mais detalhada sobre a transição política no país. A novidade é a ausência da reivindicação de destituição do presidente Bashar Al-Assad, em um processo que deve ser decidido pelo povo sírio, não pela conferência internacional ou através da ingerência estrangeira.

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No plano de 24 pontos apresentado pela CNS, durante a segunda rodada da conferência, iniciada na segunda-feira (10), o foco principal são os requisitos sobre os direitos humanos e a justiça no futuro da Síria. A primeira reunião entre as delegações dos dois lados, na segunda rodada, aconteceu na terça (11), mas foi qualificada de “uma largada lenta” pela mídia internacional.

O principal ponto de impasse nas negociações, que têm se arrastado desde a primeira conferência internacional “Genebra 1”, em junho de 2012, era a exigência da deposição de Assad, com o apoio do Ocidente, em sua política invasiva de “mudança de regime”. Esta reivindicação foi também o que atrasou em vários meses a segunda parte da conferência e levou à mesa de negociações uma “oposição” fragmentada.

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A mudança do cenário no país tem causado reviravoltas frequentes na política internacional a respeito do conflito na Síria. Embora os Estados Unidos insistam em “manter sobre a mesa” a opção de uma agressão, ou uma “intervenção militar”, o compromisso do governo com a diplomacia, o diálogo político e a destruição do seu arsenal químico têm significado desafios cruciais à opção belicosa.

Além disso, os grupos armados que dizem integrar a oposição, com o apoio direto e destrutivo do Ocidente e de vizinhos regionais, agora combatem contra a brutalidade extrema dos movimentos islamitas radicais, sobretudo provenientes da Arábia Saudita, como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, ligado à rede terrorista Al-Qaeda.

Assentar o terreno para o diálogo nacional

A política de desestabilização e a tentativa de derrubar o governo sírio saíram do controle, enquanto o terrorismo e o extremismo voltam a se espalhar por toda a região. Há quem pondere, entretanto, que era este o objetivo, embora os EUA e alguns europeus venham ressalvando que o seu apoio é apenas aos grupos laicos, os "moderados", como a sua linguagem politizada os define.

Não deixa de significar uma ingerência grave e de total desrespeito pela vontade do povo sírio, entretanto, que deve ir às urnas para as eleições presidenciais, novamente, em junho deste ano.

Entre as posições principais da delegação do governo nas negociações estão justamente a denúncia da ingerência estrangeira, a disseminação intencional do terrorismo, a brutalidade da ação dos grupos armados, e a urgência do combate ao terror como passo primordial para possibilitar um processo político de transição, com Assad na presidência e com respeito à vontade popular.

Um dos pontos principais do documento apresentado pela CNS nesta quarta é a definição de um Corpo de Governo Transicional (CGT), que deverá monitorar a implementação do acordo a ser alcançado para encerrar todas as formas de violência no país, para a condução do processo político, conforme defendido pelo governo.

No mesmo sentido, a delegação do governo conseguiu o reconhecimento do combate ao terrorismo como uma prioridade, durante a reunião com a delegação da coalizão e com o enviado das Nações Unidas para a questão, Lakhdar Brahimi.

De acordo com a agência síria de notícias, Sana, os enviados do governo enfatizaram que não é possível dirigir qualquer ponto sem antes finalizar a discussão sobre o contraterrorismo e o acordo sobre os artigos relativos à implementação do Comunicado de Genebra, conforme definido na primeira rodada das negociações, há duas semanas.

A insustentabilidade da atual situação pode ter levado a CNS (que além de não representar a oposição que está na Síria e que dialoga com o governo em um processo nacional, está fragmentada na conferência internacional) a finalmente desistir da exigência de deposição do presidente Assad, enquanto manifestações massivas no país demonstram apoio ao governo.

Da redação do Vermelho,
Com informações das agências