A FMLN se consolida como primeira força política de El Salvador

A Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) ratificou-se em El Salvador como a força política mais pujante do país centro-americano, com o qual reafirmou o contínuo avanço das forças populares na América Latina e o Caribe em seu avanço rumo à definitiva independência.

Por Joaquín Rivery Tur, na Prensa Latina

As previsões que mostravam as sondagens deram a razão aos que afirmavam que nenhum partido venceria nas eleições do domingo 2 de fevereiro; mas a Frente chegou ao fim com uma vantagem muito ampla sobre Norman Quijano, candidato neoliberal da Aliança Renovadora Nacionalista (Arena), da direita, que ficou uma dezena de pontos abaixo da esquerda, apesar de toda a sua ofensiva na mídia, numa tentativa desesperada de recuperar o governo que perdera nas eleições de há cinco anos.

Agora Quijano terá como adversário, em 9 de março, um aspirante de muito prestígio como Salvador Sánchez Cerén, um dos dirigentes históricos da esquerda, assinante do pacto de paz entre o exército e a guerrilha, há duas décadas e impulsionador, sobretudo, de transformações no sistema de educação, a favor das camadas mais pobres salvadorenhas.

O secretário das Comunicações do partido, o deputado Roberto Lorenzana, assegurou que a FMLN teve um crescimento de mais de 300 mil votos e conseguiu uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre seu mais próximo opoente (48,68 por 38,93%), enquanto o partido Arena sofria um declínio de 10 pontos em relação com o ano 2009.

Lorenzana estimou que a assistência às urnas pode ter estado em torno de 60%, próxima da registrada nas eleições presidenciais de 15 de março de 2009, quando foi de 62,91%.

No último trecho da campanha, a direita retomou e acirrou sua linguagem extremamente anticomunista, que não lhe serviu de nada, e agora se prontifica a buscar aliados para tentar frear o avanço da Frente.

Em terceiro lugar ficou a coligação Unidade, cujo candidato foi o ex-presidente Elías Antonio Saca (2004-2009), quem parabenizou Sánchez Cerén. O candidato da Frente agradeceu a congratulação e adiantou que entabulará negociações com a Unidade.

A Prensa Latina noticiou que Rodrigo Cabezas, membro do Parlamento Latino-americano, afirmou que em El Salvador se reafirma a onda de mudanças progressistas que percorre a América Latina, depois dos resultados das eleições de domingo 2 de fevereiro.

"Está assinada, selada, a vitória da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional e no segundo turno, sem dúvidas, haverá um grande triunfo popular", assinalou, se referindo aos 10 pontos percentuais de vantagem que atingiu o partido da esquerda acima da direita no escrutínio.

Cabezas ligou o triunfo da FMLN à recente Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e explicou que a situação atual é uma luta contra o neoliberalismo, o qual já não pode ser imposto pelo Fundo Monetário Internacional aos governos latino-americanos, como acontecia anos atrás.

Ainda, enfatizou, "instalou-se uma consciência de união e integração como se acaba de verificar na histórica Cúpula que acaba de efetuar-se na capital cubana.

Na Costa Rica

O outro país centro-americano que viveu no domingo 2 de fevereiro uma jornada eleitoral presidencial foi a Costa Rica, testemunha das eleições mais atípicas de sua história e que terá que repetir a assistência às urnas, no próximo dia 6 de abril, porque nenhum candidato atingiu 40% dos votos, como estipula a Constituição.

Depois da jornada eleitoral, ficarão para disputar a presidência no segundo turno, o aspirante da oposição, Luis Guillermo Solís, do Partido Ação Cidadã (PAC) e Johnny Araya, do Partido Libertação Nacional (PLN), do governo, que foram desafiado, ao longo da campanha, pela ameaça de José María Villalta, da Frente Ampla, da esquerda, o qual esteve o tempo todo na luta pelo primeiro lugar, segundo as sondagens efetuadas.

O mesmo Araya ficou surpreendido com os resultados da contagem, quando tinham sido contabilizadas 90% das urnas e se deparar com que apenas havia obtido 29,6% dos sufrágios.

No lado contrário Solís, acadêmico e historiador, de 56 anos, com seu discurso antineoliberal se encontrava na quarta colocação nas sondagens, mas foi avançando e deu a surpresa a seus contrários, que não duvidavam do triunfo do PLN, e obteve 30,8% dos votos. Villalta, entretanto, obteve 17,1% dos sufrágios.

De todas as formas, o próximo presidente da Costa Rica se encontrará com uma Assembleia de Deputados dividida em parcelas de diferentes partidos e lidará para conseguir que suas propostas legislativas passem através do filtro de um órgão legislativo fragmentado, pois não terá maioria.

Temos, portanto, duas eleições presidenciais centro-americanas que terminaram sem definição do novo mandatário e será preciso esperar um segundo turno, em ambos os casos, para verificar.

O triunfo de um partido da esquerda com a trajetória da FMLN adquire uma relevância muito intensa, pois vem a constituir um reforço da onda progressista em vigor na América Central e toda a América Latina e o Caribe.

A vantagem de Solís é por causa do descontentamento pelas políticas econômicas restritivas dos governos anteriores, que quebraram a tradição socialdemocrata que tinha a Costa Rica.

Definitivamente, o caso da Costa Rica, com o tom de moderação que tem na sua tradição histórica, está mostrando uma transformação séria no seu sistema político, onde o bipartidarismo parece ter definhado, por causa das práticas neoliberais, desgastadas pelos avanços populares, acompanhando assim o contexto político que continua sendo preponderante na América Latina.