proletariado
O rock ‘n rool por essência é rebelde e crítico, mas para defender causas justas é preciso ter consciência e visão classista da sociedade. Sem consciência e visão classista, o rock pode tornar se alienante e difusor das ideias conservadoras e retrógadas das oligarquias da sociedade.
Quando encerro minha fala, nossa viagem vai chegando ao final. Ouvimos quando o barulho do motor do barco é reduzido, enquanto a foca singra suavemente as águas barrentas do rio mucuruçu em direção ao pequeno trapiche na orla de Barcarena. Da popa do barco, a garotada da banda Coveiros do Capital, vislumbram a igreja e a praça da matriz e me dizem: Ozzy, é lá que a nossa banda vai tocar; a gente que te ver por lá. Respondo que sim, irei prestigiar o concerto da Coveiros do Capital em Barcarena.
Da popa do barco, todos vemos a cidade e sua orla cada vez mais próxima, a foca vai chegando em Barcarena enquanto a forte brisa sopra sacudindo nossos longos cabelos tremulando ao vento. A garotada da banda brinca comigo e sorrindo me falam: Ozzy, repara só que os passageiros do barco olham muito para nós aqui na popa, devem pensar que tu és o líder e vocalista da nossa banda. E enquanto damos boas risadas da brincadeira, a foca atraca no trapiche, me despeço temporariamente abraçando um a um dos integrantes da Coveiros do Capital e confirmando, levantando o polegar para cima, vou lá na apresentação de vocês. Não demorou muito, e uma van chega, ajudo-os a colocarem as duas guitarras e um baixo para dentro do veículo, além de um violão. A banda entra no veículo e segue seu rumo. Por minha vez, estou bem próximo de meu destino, vou caminhando até a casa do Pedro Barcarena que é o secretário de organização do PCdoB de Barcarena. Juntos, participaremos de um seminário na associação de moradores da pedreira, onde falaremos sobre o tema: O Brasil precisa avançar nas mudanças. O curioso é que na viagem de Belém até Barcarena, as letras das músicas da banda de heavy metal Coveiros do Capital tem tudo a ver com o tema de avançar nas mudanças no Brasil e na América Latina. A bordo da foca, parecia que conhecia a garotada do heavy metal de muitos anos, nossa conversa fluía prazerosamente e toda essa troca de ideias entre nós, iniciou antes mesmo de entrarmos no barco.
Próximo a escadinha do Ver o Peso, observo os tripulantes da foca ultimando os preparativos para zarpar rumo a Barcarena. É uma típica embarcação amazônica, o barco é charmoso e seguro e batizado inusitadamente de foca, animal estranho a fauna da nossa região. O tempo nublado prenuncia chuva, me vem um friozinho na barriga vendo estas nuvens e a imensidão da baía do Guajará, logo estaremos navegando. Meu devaneio é interrompido pelas vozes ruidosas de um grupo de jovens que caminha em minha direção. De camisetas, bermudas e mochilas a turma para perto de mim, logo percebo que carregam instrumentos musicais devidamente encapados; enquanto o violão está nos braços de uma jovem que tira algumas notas aleatoriamente. Um dos jovens, que parece o mais velho da turma, chega até mim, com uma camiseta preta e uma gigantesca estampa do inconfundível Edie hunter. Ele vem e me pergunta amigo já fez esta viagem alguma vez?
Respondo afirmativamente e ele pergunta novamente quantas horas leva a viagem? Respondo que na foca em três horas estaremos em Barcarena. Fico cercado pelo grupo, e a jovem do violão logo emenda, amigo, e o visual da viagem até Barcarena é legal? Explico o trajeto: cruzaremos a baía do Guajará, navegaremos entre riachos ribeirinhos das ilhas com uma visão paradisíaca, e novamente a baía e por fim o grande rio que nos conduzirá até Barcarena, a turma vibra só de imaginar a viagem.
Um dos tripulantes da foca passa perto da gente; pergunto a ele em quanto tempo o barco sairá? Ele me responde, daqui a quarenta e cinco minutos; então retruco, valeu a informação parceiro ! O Vlad, um dos mais jovens da turma, com a camisa da Legião Urbana, para um ambulante e compra umas latinhas de cerveja, distribui para a turma e me oferece uma; eu agradeço a oferta. O jovem da camisa preta, com a imagem do Edie, me pergunta: o amigo não bebe? Respondo, bebo sim, e vou acompanhar vocês agora. Me abaixo, abro minha mochila e tiro um cantil e um copo metálico, abro o cantil e encho meu copo e a turma cai na risada, ao ver meu avantajado cantil cheio de vinho.
Enquanto a foca não zarpa, bebericamos e falamos descontraidamente. Em certo momento, Tainá, a moça do violão me interroga: Amigo, esse seu visual é de gente que curte heavy metal, estou certa ou errada? Esboço um leve sorriso e respondo: Gosto e sou apreciador da boa música em geral, inclusive dos clássicos, isto é, da música clássica dos grandes gênios como Mozart, Tchaikovsky, Beethoven etc… Mas gosto e aprecio demais o bom e velho Rock ‘n Rool especialmente o heavy metal clássico. Percebi que a última parte da minha declaração causou regozijo e um certo orgulho na moçada. Ela emendou, a gente já tinha comentado entre nós que o seu visual é de rockeiro; comecei a ri junto com a turma, fiquei pensando, estereótipo é uma coisa incrível mesmo. A Tainá me disse: a gente te viu aqui na escadinha e o Alex falou, olha lá galera, lá está o Ozzy Osbourne, vamos dar uma chegada lá com ele. Falei para a turma, mas o Ozzy não tem barba e bigode, o Vlad me respondeu: tu és o Ozzy de barba e bigode e se tirar será o próprio Ozzy. Tá bom galera, então sou o Ozzy do tucupi. A foca encosta e começamos a embarcar. O capitão liga o motor e o barco lentamente se afasta do Ver o Peso, observamos Belém se distanciando e logo a cidade desaparecerá de nossas visões, dando lugar, a fantástica paisagem em que veremos unicamente o encontro do céu com as águas da baia do Guajará.
Com a foca cortando a baía, nos levantamos dos nossos acentos e vamos para a popa do barco, aproveitando o tempo nublado e a brisa gostosa vinda do atlântico. Bebericando meu vinho e a turma na cerveja. Nos sentamos no piso da popa. Sentimos a gostosa brisa e apreciamos a vastidão e imponência da baía, ficamos em silêncio por alguns minutos. Mas logo, o silêncio é quebrado, me dirigindo à moçada pergunto: o que deu origem, qual a ideia, para esse nome de banda Coveiros do Capital? Tainá logo responde, a ideia foi do Alex, eu indago, então Alex como foi isso? O Alex então explica: Queria que o nome da banda tivesse a cara do heavy metal. Um rock que denúncia a podridão do sistema, que combate um inimigo comum e que deboche do poder econômico. Pensei então, juntando tudo isso, esse rock rebelde contra um inimigo comum ( o poder econômico ) será um rock para sepultar o poder econômico e poder econômico é do capitalista; quem faz o sepultamento é o coveiro. Então refleti, taí. o nome da banda, será Coveiros do Capital. Falei então, para ele, tu foi muito feliz no conceito e leitura da sociedade que te levou ao nome da banda e também os demais componentes do grupo que tem a mesma sensibilidade tua e concordaram com a proposta.
Quanto tempo tem a banda Coveiros do Capital? Novamente Tainá responde: a banda tem três anos, e tamos na batalha para gravar o primeiro trabalho que tem quatorze músicas, só após gravar esse trabalho, é que lutaremos para gravar o segundo que igualmente possui quatorze faixas. Tainá, como a banda funciona nas apresentações e criação das letras e melodias? O Vlad toma a frente e responde: bom nas apresentações: eu toco o baixo, na bateria é o Eduardo, nas guitarras e vocal é o Alex e a Tainá. Na criação, as letras são da Tainá e do Alex e na melodia e nos arranjos nós três.
No balanço gostoso do barco, com gosto de vinho na boca, peço à banda que me mostre um pouco das suas canções. O Eduardo, baterista da banda, tira do bolso um pendrive com todas as músicas da banda. Falo para ele, não Eduardo, esqueça o pendrive mp3 ou coisas do gênero; eu quero um acústico de vocês aqui e agora na popa da foca e a moçada cai na risada. A moçada da um gole na cerveja e se prepara. Tainá pega o violão e diz, o nome dessa música é: O Brasil do ABC Vencerá. E quando os quatro começam a cantar, embalados pelos lindos acordes saídos do violão de Tainá, não somente me entusiasmo com a bela canção, como também as outras pessoas no barco. É uma canção linda e de esperança, e então, fico a imaginar esta música sendo executada com acompanhamento das duas guitarras, baixo e bateria em ritmo bem metal pesado. As vozes da Tainá e do Alex, são realmente a dos grandes vocalistas de uma ótima banda.
A letra e canção falam dos operários do ABC paulista, suas lutas e seus sonhos. Falam de um líder que saiu das fábricas para começar a mudar o Brasil. A música tem um apaixonante refrão e trechos inspiradíssimos como:
Somos mais que uma banda de rock,
nós somos do povo e vivemos nas periferias
estamos com o novo Brasil
Nós somos o Brasil operário e popular…
Um operário presidente
Fez história, fazendo os rumos da pátria mudar
Inclusão, desenvolvimento, soberania e democracia
A pátria deve seguir este caminho
O Brasil do ABC vencerá…
Refrão:
Sempre vamos lutar, as mudanças aprofundar
A pátria desenvolvida e de paz
O Brasil do ABC vencerá
Quando a moçada da Coveiros do Capital termina de cantar, aplausos ruidosos dominam o barco. Quando o aplauso silencia, uma música chamada: Doze anos rumo ao futuro, é a faixa sete do segundo trabalho da banda, tem uma letra altamente politizada e avançada. É uma música que fala de doze anos de um Brasil que experimenta oito anos com um operário governando e mais quatro com uma mulher no governo.
Tainá, segura o violão e começa a cantar com o grupo.
Os abutres carniceiros
Todos os lobos em pele de cordeiro
O latifúndio e o vil banqueiro
Eles querem
Com nossos sonhos e esperança acabar…
Nosso sonho apenas começou
De Lula a Dilma
São doze anos rumo ao futuro promissor
Refrão
De Lula a Dilma nosso sonho apenas começou
De Lula a Dilma
São doze anos rumo ao futuro promissor…
Novamente os aplausos dominam o ambiente na foca. É gente, vocês tem talento e trabalho incomum, estão todos de parabéns e vida longa a banda de vocês. A turma agradece e concorda sobre a vida longa. Ficamos todos em silêncio por alguns momentos.
Indago ao grupo, vocês tem algum envolvimento partidário? Todos respondem que não. E politicamente como se definem vocês? Tainá, fala: a gente é contra o capitalismo, essa ordem social podre que é o mundo capitalista. Se vocês são contra o capitalismo, são todavia, anticapitalistas e portanto vocês são objetivamente de esquerda. A turma concorda e se classifica como esquerda. Qual partido no Brasil vocês se identificam mais ? A resposta a minha pergunta é imediata e unânime. Todos se identificam e simpatizam com o PT de Lula e Dilma. Digo a eles que o conteúdo e mensagem da arte deles de certa forma é uma militância política, mas é fundamental e necessário se definir e vincular a um partido político. Eu tenho definição ideológica e militância política. O Alex logo retruca: Tu és do PT, és um petista, não é mesmo. Apesar de apoiar o PT e os governos do PT eu não sou petista. O Vlad fala para a turma: Vocês não se ligaram no broche que tem na camisa do Ozzy; já falei meu nome verdadeiro e a turma insiste em me chamar de Ozzy. E Vlad continua, a imagem que está no broche do Ozzy é a figura do Lênin. O Alex: é o líder da revolução socialista russa de 1917. A Tainá rindo: o broche é vermelho e pensei que fosse do PT.
Disse para a turma: Sou um militante comunista, sou marxista leninista e militante do Partido Comunista do Brasil o PCdoB. Gostaria muito que vocês conhecessem mais sobre o PCdoB. E principalmente que conheçam o nosso programa socialista para o Brasil. Fazendo isto, vocês verão que as mensagens das músicas de heavy metal compostas pela Coveiros do Capital, tem tudo a ver com o nosso programa socialista para o Brasil. Essas canções onde a banda fala em defesa de um poder popular no Brasil. Fala das conquistas sociais e demais conquistas neste ciclo de doze anos; quando vocês falam e defendem esta América Latina popular que enfrenta e desafia o imperialismo norte americano. Estas mensagens de vocês é como dar forma musical ao nosso programa socialista para o Brasil. A música de vocês faz ode à um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento para o país; quando em suas canções abordam temas estruturais como a realidade urbana, a luta dos sem terra, a injustiça tributária, a luta pela educação, as criticas a política viciada e a denúncia feita contra o monopolista império midiático manipulador. Vou entregar a cada membro da banda um exemplar do nosso programa socialista para o Brasil.
Da foca, vemos já ao longe, a orla da cidade de Barcarena, estamos quase chegando a terra do abacaxi. Então falo, Tainá, estamos quase desembarcando, leva aí na viola a última música para a gente se despedir da foca. Tainá, que música tu quer? Toca aquela que denúncia os monopólios midiáticos. Tainá, certo, queres ouvir a: Mídia Maléfica
Eles pensam
que são os donos do mundo
que são os donos da nossa consciência
Querem pensar por nós
E contra nós
nós perseguem e nos criminalizam
Assim é a mídia maléfica
Monopólios e impérios midiáticos
A mídia maléfica manipula
A mídia maléfica desinforma
A mídia maléfica embrutece
A mídia maléfica tem ideologia
Ela que nos conduzir como gado
E quer nos transformar em mulas sem cabeça
A mídia maléfica tem ideologia
Não se deixe iludir
Não vire uma mula sem cabeça
Tenha muito cuidado
Com a grande mídia monopolista.
Que beleza de canção Tainá. Vamos desembarcar, a foca tá encostando no trapiche. Chegamos a Barcarena…
(*) Militante do Partido Comunista do Brasil PCdoB