Na Venezuela, mídia privada, ao falar de paz, incita violência

Como ocorreu entre 2002 e 2003 — quando se realizaram marchas antichavistas convocadas por grupos políticos antichavistas, a cúpula empresarial e militares comprometidos com a velha política "para destituir o presidente Hugo Chávez" — os meios atribuem os fatos de violência ocorridos na última quarta-feira (12), que provocaram três mortes e dezenas de feridos a "coletivos governistas" e "motorizados".

Capas de jornais venezuelanos| Foto: AVN

A dinâmica segue sendo a mesma de 2002: os empresários sabotam a economia, os meios de comunicação privados multiplicam o descontentamento e geram medo e violência, para em seguida, apresentar os fatos violentos como se estes tivessem sido feitos por setores revolucionários. Em 2002 foram os círculos bolivarianos e agora são os coletivos e motorizados bolivarianos.

Leia também:
Maduro alerta iminência de golpe de Estado na Venezuela
Maduro convoca manifestação "pela paz e contra o fascismo"
Juan Karg: A Venezuela diante de uma nova tentativa de golpe

No El Nacional — apelidado nos setores populares como Nazional —, a linha editorial abertamente antichavista se mantém firme ao longo de quatro páginas onde são apresentadas detalhadamente as opiniões daqueles que marchavam e dos grupos políticos de direita que convocaram as atividades. No entanto, as razões parecem confusas até mesmo para seus próprios jornalistas.

Um dia antes da marcha, na terça-feira, 11 de fevereiro, a principal manchete deste jornal dizia: "Nos manteremos na rua; rua até o final do governo".

Algumas matérias dizem que a mobilização foi realizada para pedir "a libertação dos estudantes retidos", depois que grupos de choque geraram violência em Mérida e Táchira nos dias anteriores, quando inclusive atacaram a sede do governo de Táchira. No entanto, nas linhas seguintes, os mesmos participantes da marcha da última quarta (12) explicaram que buscavam "uma mudança política", enquanto outros gritavam, como também fizeram com Chávez em 2002 e 2003: "E vai cair, e vai cair, este governo vai cair".

Posteriormente, se referem a bandeiras que falam sobre "A Saída" e explicam que não havia só estudantes, mas "membros de partidos políticos da oposição” e "membros da sociedade civil", um termo amplamente utilizado pelos meios de comunicação nos dias que antecederam o golpe de Estado de 2002 e a sabotagem petroleira.

Conforme as páginas progridem, El Nacional se aventura mais e apresenta declarações do direitista Leopoldo López que afirma que a marcha tinha um único objetivo: "mudar o regime" mediante uma "saída (que) não será em um dia ou dois".

No entanto, na última página de El Nacional o discurso editorial sustentado durante quase toda a edição do jornal desta quinta-feira (13), fica confuso. Os jornalistas já não falam em "grupos governistas", nem de motorizados, e parecem justificar as ações violentas com adjetivos moderados.

"A marcha que se desenvolveu de forma pacífica se tornou violenta depois que os manifestantes mais exaltados se recusarem a deixar a sede do Ministério Público", relatou El Nacional. Em seguida, acrescentou: "Aqueles que insistiram em ficar levantaram bocas-de-lobo, fizeram barricadas com lixo e escombros nas esquinas".

Nesta última página, o jornal admite o que não pode dizer no restante de sua edição: os eventos violentos foram gerados pelas tropas de choque da direita que atacaram a sede do Ministério Público. Repórteres suavizaram as informações, tornaram fúteis as razões para a agressão: "outros optaram por armar-se com pedras e coquetéis Molotov para enfrentar as forças de segurança que tinham isolado a área".

Parágrafos depois dizem que os atacantes "optaram pelo vandalismo e decidiram destruir os veículos do CICPC [Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas]", enquanto em uma legenda na página 13 do Últimas Notícias pode ser lido "Patrulhas do CICPC queimaram em Parque Carabobo, criando caos em pleno centro" , como se o evento tivesse ocorrido sem causa aparente.

El Universal resenha uma informação onde é feito um chamado para que se evitem “os pronunciamentos que exacerbam os ânimos”, como os que foram feitos por dirigentes políticos da ultradireita através dos meios de comunicação e redes sociais. No entanto, não informam sobre os contínuos apelos à paz feitos presidente Nicolás Maduro e os diferentes órgãos estatais, nem se referem ao Plano Nacional de Pacificação, que será apresentado nesta sexta-feira (14).

Fonte: AVN
Tradução: da Redação do Portal Vermelho