Caracazo: Manifestação anti-neoliberal pioneira completa 25 anos
Há 25 anos, a Venezuela protagonizava a rebelião conhecida como Caracazo, que foi a primeira manifestação verdadeiramente popular contra o neoliberalismo no mundo. A revolta popular encerrou um ciclo histórico no país vizinho e marcou o início da chamada Revolução Bolivariana, ou Socialismo do Século 21, construído pelo ex-presidente Hugo Chávez Frías.
Por Vanessa Martina Silva, do Portal Vermelho
Publicado 27/02/2014 19:08
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Descontentes com a crise pela qual passava o país, que nas décadas de 1960/70 era chamada de Venezuela saudita pela riqueza oriunda da exploração do petróleo, em 1988, os venezuelanos elegeram Carlos Andrés Pérez pela segunda vez. CAP, como era chamado, representava a opulência petroleira, com seu crescimento econômico, altos níveis de emprego e melhoria constante no padrão de vida.
Quienes vivimos el "Caracazo" y supimos d los mas d 3mil muertos y desaparecidos, agradecemos a Chávez por encausar la paz en el país
— JDContrerasB (@JDContrerasB1) February 27, 2014
Mas, no governo, uma de suas primeiras medidas foi pactuar um conjunto de ações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), entre elas um empréstimo de US$ 4,5 bilhões que seriam pagos pela população venezuelana.
Entre elas estavam a desvalorização da moeda nacional, o bolívar, a redução do gasto público e do crédito, a liberação de preços, o congelamento de salários e o aumento dos preços de gêneros de primeira necessidade. Mas o estopim esteve no fato de que a gasolina sofreria um reajuste imediato de 100% e o transporte coletivo foi reajustado na mesma medida, gerando profunda revolta.
La Revolución Bolivariana de nuestro Comandante Chávez es hija del 27F de 1989 y hoy se proyecta hacia el Socialismo Cristiano del siglo XXI
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) February 27, 2014
“O Caracazo teve um mérito de que as massas venezuelanas romperam coletivamente com o sagrado mito burguês da propiedade privada”, escreveu Ángel Guerra Cabrera, em artigo publicado na Rádio Nacional da Venezuela.
Más de 3mil muertos del pueblo humilde,traicionado en dos siglos por una oligarquía que saqueo la Patria,elevemos una oración en su memoria.
Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) February 27, 2014
Repressão
Como resposta, o governo anunciou o toque de recolher e a suspensão das garantias constitucionais. Teve início então a repressão extremada. O governo autorizou seus corpos armados a atirarem contra civis. No bairro de Petare, as forças repressivas chegaram a disparar contra uma multidão. Apareceram franco-atiradores no alto de alguns edifícios no bairro 23 de Janeiro. Soldados armados com fuzis FAL, de vasto poder destrutivo, chegaram disparando contra os edifícios.
Estima-se que cerca de 1.500 e 5 mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas neste período no país. Dados oficiais do governo falam em 300 mortos.
Hace 25años el pueblo rompió amarras y dijo basta de neoliberalismo,fue masacrado pero no derrotado,ahí empezó esta Revolución del siglo XXI
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) February 27, 2014
Um novo Caracazo?
Jornais e sites de notícias internacionais publicaram, nesta quinta (27), matérias comparando a situação atual da Venezuela com a de 1989 para dizer que o país congrega as situações para a ocorrência de um novo Caracazo. O líder da oposição, Henrique Capriles, deu declarações no mesmo sentido.
Mas, ao contrário daquele contexto histórico, quando foram as bases sociais que realizaram a revolta que resultou na ascensão de Chávez dez anos depois, hoje são grupos de classe média que saem às ruas descontentes com a economia do país e negam as conquistas da Revolução Bolivariana.
Pueblo de Petare recuerda El Caracazo http://t.co/TZWJVn8x1i (+ imagen) pic.twitter.com/pW3W4AKgfI
— PSUV MIRANDA (@MirandaPSUV) February 27, 2014
Além disso, o atual governo pactuou a chamada Lei de Preços Justos para regular o preço dos produtos essenciais e evitar a especulação com alimentos, tal como ocorria durante o governo Pérez; empresas estratégicas privatizadas em governos anteriores foram nacionalizadas e o Banco Central da Venezuela regula as taxas de juros e cambial evitando maiores especulações econômicas no país.
Cuando una persona no tiene conciencia histórica y política, es capaz de hacer conjeturas como comparar el Caracazo con estos días…
— Yar1 (@Yar1ta) February 27, 2014
Por fim, desde o começo dos protestos na Venezuela em 12 de fevereiro, morreram 14 pessoas, como produto de violência reiteradamente condenada pelo governo e incentivada por setores da oposição. No Caracazo, a repressão foi realizada com o apoio do governo e matou mais de 1.500, de modo que a ânsia opositora e da imprensa hegemônica venezuelana e internacional não se sustenta.
Documentário llovinando cantos: