Ucrânia: Ocidente é responsável pela ilegalidade, diz presidente

O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que o seu país dá “apoio total” às novas autoridades da Ucrânia, que vêm pedindo reconhecimento depois da jogada que removeu o presidente e mudou inconstitucionalmente o Parlamento, na semana passada. Já nesta sexta (28), em coletiva de imprensa transmitida pela emissora Russia Today, o presidente Viktor Yanukovich lamentou a escalada da violência, mas rejeitou a nova situação política, com a "tomada do poder por uma minoria fascista."

Presidente Ucrânia - Russia Today / Vídeo

Biden afirmou o apoio dos EUA em uma conversa telefônica, nesta quinta-feira (27), com Arseni Yatseniuk, líder da oposição de extrema-direita que vinha incitando os protestos nas ruas – apesar da escalada da violência e da ação dos grupos fascistas – e que assumiu o cargo de primeiro-ministro interino também ilegalmente.

Biden disse que a Ucrânia deve “iniciar as reformas que devolvam a saúde econômica, avançar na reconciliação, manter as suas obrigações internacionais e buscar relações abertas e construtivas com todos os seus vizinhos.”

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Desde o início dos protestos, que eclodiram em dezembro, os EUA vêm afirmando apoio à oposição de direita, que convocava apoiadores às ruas mesmo enquanto o aumento da violência alarmava a sociedade internacional, e o próprio governo do presidente Yanukovich instituía processos de negociação que garantiram concessões às reivindicações da oposição, como a revisão constitucional.

Neste sentido, Yanukovich enfatizou, na coletiva de imprensa, a “responsabilidade do Ocidente”, sobretudo através da União Europeia, mas também dos EUA, sobre um acordo alcançado com a oposição através da mediação estrangeira, um dia antes da medida que substituiu ilegalmente o presidente do Parlamento que, em seguida, votou pela destituição de Yanukovich.

Na sexta-feira (21), o governo e líderes da oposição tinham assinado um acordo com a intervenção da União Europeia para finalizar a crise política e a violência no país. Enquanto estipulava cinco condições gerais, o texto não garantia à oposição o poder de impor novas leis ou nomeações sem a aprovação presidencial, mas foi exatamente o que os parlamentares fizeram. Segundo Yanukovich, inclusive, alguns dos parlamentares que votaram pelas medidas o fizeram sob pressão e ameaças.

Mesmo assim, os atores que se apresentaram como mediadores da questão negligenciaram a inconstitucionalidade das ações da oposição, ignorando a ascensão do fascismo e o seu fortalecimento nos protestos e protegendo um grupo político que promove a sua agenda, ou seja, a integração à União Europeia e à Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Voltar às negociações e não legitimar o inconstitucional

Sobre as relações com a Rússia, onde Yanukovich está atualmente, o presidente disse que o governo russo não tem interferido na situação diretamente e que ainda não se reuniu com o presidente Vladimir Putin, que vinha defendendo o diálogo político e rejeitando a ingerência estrangeira, sobretudo europeia, na crise que ganhou forças em poucas semanas.

Yanukovich também rechaçou os planos da oposição para a realização de eleições presidenciais em 25 de maio. Ao responder à pergunta de uma jornalista, ele disse que não deve se candidatar porque não reconhece o atual processo político, que classificou de um golpe de Estado.

“As leis aprovadas pela força e a violência no Parlamento nunca serão aceitadas por mim. Nunca as assinei, e isso significa que elas não podem virar ação. Essa é a prova legal que significa que eu sou o presidente legítimo. De acordo com a Constituição, se o presidente não se demitir e ainda estiver vivo, como eu estou, e se ele não foi impugnado pelo Parlamento, ele ainda detém o cargo. O show que vimos e o uso da força não pode ser chamado de um impeachment, nunca aceitarei isso.”

Segundo Yanukovich, o Ocidente, que se apresentou como garantidor do acordo assinado com a oposição, deve assegurar a implementação das suas medidas em prol do diálogo político, e não apoiar o novo governo ilegítimo.

Por isso, garantiu, “quando tiver condições e segurança garantidas, voltarei à Ucrânia o mais breve possível. Existem formas de resolver a crise, como o acordo que assinamos, mas que foi quebrado unilateralmente. O Ocidente tem que tomar responsabilidade por isso, e precisamos voltar às negociações, item por item.”

Da redação do Vermelho,
Com informações da Russia Today