Carandiru: defensor diz que julgamento é político

A quarta etapa do julgamento do Massacre do Carandiru iniciou na manhã desta segunda (17) com a divulgação da nova estratégia adotada pela defensoria: negar que 12 policiais militares que compõem o banco dos réus nessa rodada sejam culpados pela morte de 10 presos antes instalados no pavimento da antiga casa de detenção, além de outras três tentativas de assassinato.

Por Cíntia Alves, no Jornal GGN

Fotograma do filme "Carandiru", de Hector Babenco de 2003

Minutos antes de entrar no plenário do Fórum da Barra Funda, em São Paulo, o advogado Celso Vendramini sustentou que não há indícios suficientes para incriminar os oficiais. “Não existe prova nenhuma que eles mataram algum preso. Efetuaram disparos sim, mas que tenham acertado algum, não há provas", declarou.

O defensor ainda argumentou que as famílias das vítimas devem processar o poder público por omissão no esclarecimento dos fatos, já que nunca houve a realização de exame balístico, o que, em sua opinião, configura uma falha processual. "Eles que processem o Estado por não terem tomado as medidas cabíveis", acrescentou.

Segundo Vendramini, por conta da repercussão, o julgamento do Massacre do Carandiru ganhou caráter político, e isso pode comprometer o trabalho do Judiciário. Ele alega que há forte pressão do governo e de outras instituições para que a prisão dos militares seja decretada.

O Massacre do Carandiru ocorreu em outubro de 1992, a partir de uma rebelião gerada após uma briga entre grupos de detentos. Foram contabilizadas as mortes de 111 presos e outros 87 ficaram feridos durante a operação policial.

Por envolver um grande número de réus e de vítimas, o caso foi desmembrado. A divisão foi feita seguindo o roteiro do que teria ocorrido em cada um dos pavimentos do Pavilhão 9.

Etapas anteriores

No mês passado, durante a terceira etapa do julgamento do Carandiru, Celso Vendramini reclamou da atuação do juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo – o mesmo que decretou a prisão dos policiais ouvidos no segundo júri – e deixou o plenário.

O ato culminou na suspensão do julgamento e, consequentemente, em multa aplicada ao defensor no valor de 70 salários mínimos (mais de R$ 50 mil). A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) recorreu da multa e Vendramini não descartou, na manhã desta segunda, a possibilidade de abandonar o plenário novamente. Tellini, entretanto, já nomeou outro defensor público para assumir o lugar de Vendramini, caso ele leve a ideia a cabo. O júri vai até o final desta semana.

Na primeira etapa do julgamento, em abril de 2013, 23 policiais foram condenados a 156 anos de reclusão, cada um, pela morte de 13 detentos. Na segunda etapa, em agosto do mesmo ano, 25 policiais foram condenados a 624 anos de reclusão, cada um, pela morte de 52 presos que ocupavam o terceiro pavimento do Pavilhão 9.