Em artigo, Everaldo Augusto critica transporte público da capital

Eleito como um defensor da mobilidade urbana, o vereador de Salvador Everaldo Augusto (PCdoB) tem feito duras críticas ao tratamento que a gestão do prefeito ACM Neto dá ao trânsito e ao transporte da cidade. Neste artigo, publicado na edição desta quinta-feira (27/3) do jornal A Tarde, o edil denuncia a existência de um caos de mobilidade na capital baiana. Confira.

Apagão no transporte público de Salvador

*Everaldo Augusto

O que era caro, lotado e demorado, agora sumiu. Estou falando do sumiço dos ônibus na cidade de Salvador, cuja população já está exaurida de reclamar contra a indigência do transporte público.

O fenômeno do sumiço pode ser observado facilmente na demora de uma, duas, três horas de espera pelo ônibus que não vem. Nos engarrafamentos da cidade não é raro se vê apenas um ou dois ônibus solitários no meio de centenas de carros parados. Também pudera, Salvador tem uma das piores proporções de ônibus por habitante: um para cada grupo de 1.106 pessoas. Apesar de a cidade ter uma população maior que Recife, cerca de 1 milhão a mais, neste quesito, a capital baiana está atrás da capital pernambucana, cuja proporção é um ônibus para 518 habitantes.

Depois de vários paliativos, a prefeitura radicalizou e fez o que ninguém esperava: passou a extinguir as linhas de transporte coletivo de vários bairros. Muitos dos quais eram servidos pela única linha agora extinta. Diante do protesto geral, gestores municipais disseram que a extinção veio para melhorar o transporte nestes bairros. Estranha lógica esta dos prepostos da prefeitura, que os órfãos de buzu, com razão, não entendem. Além disso, o prefeito anuncia a extinção de linhas de origem nos bairros populares com destino ao bairro da Barra, habitado reconhecidamente por segmentos sociais com maior poder aquisitivo. A criação destas “ilhas” sem transporte é uma clara medida de segregação contra a população pobre. O que ninguém sabe é se a mesma iniciativa está prevista para outros bairros nobres, ampliando mais ainda o “apartheid baiano”.

Estas, e tantas outras ações pontuais, que mais complicam do que resolvem a situação, comprovam apenas que a crise no transporte público se insere no contexto de uma crise de mobilidade urbana da cidade, cuja saída passa longe de meras decisões organizativas do trânsito. A persistir esta política a cidade nem mesmo se beneficiará de ações positivas, como a construção de alças, viadutos e duplicação de avenidas, ou mesmo de algumas ações desenvolvidas pelo próprio município, por meio da Transalvador.

Enquanto a cidade continua imobilizada e a prefeitura abre a caixa de maldades contra quem precisa de transporte público, Salvador continua com poucos e caros ônibus, metrô que nunca entrou nos trilhos, trem do subúrbio sucateado, inexistência de transporte marítimo, escassas ciclovias, calçadas inexistentes e privatização da Estação da Lapa.

Estas e tantas outras evidências demonstram, em primeiro lugar, a dimensão de catástrofe que da crise no transporte público de Salvador, cujo sistema foi pensado há quarenta anos, para uma cidade de um milhão de pessoas, baseado em um único modo de transporte. Em segundo lugar, este contexto de caos demonstra a urgência de uma resposta para a crise de mobilidade urbana na capital baiana.

Diante deste quadro de apagão, sobre o qual a prefeitura toma estas medidas de baixíssima eficiência, a Câmara Municipal deve pautar sua atuação em 2014 em cobrar do poder executivo uma solução global para o transporte público através da proposta de um Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PDMU), como exige a Política Nacional de Mobilidade, (Lei 12.587), que estabelece diretrizes e torna impositiva a participação popular, através de suas legítimas representações, na construção do Plano Diretor, além de condicionar à existência deste a liberação de verbas federais destinadas a obras e ações de mobilidade.

Este Plano Diretor de Mobilidade deve dotar Salvador de um sistema intermodal (ônibus, metrô, trem, bicicletas etc), com o incentivo aos deslocamentos à pé e sobre duas rodas. O resultado será um trânsito melhor, um transporte público de qualidade e confiável, que promoverá melhoria da qualidade de vida, mais convívio social e porá fim ao martírio diário da população, que precisa do transporte coletivo, e não acha.

*Everaldo Augusto é o líder do PCdoB na Câmara Municipal de Salvador (CMS).