Ministra diz que Governo estará em alerta para o racismo na Copa

A ministra Luiza Bairros, da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), esteve em Salvador, na última quarta-feira (26/3), participando do 3º Fórum do Pensamento Crítico e, em uma breve entrevista, falou ao Vermelho sobre os casos de racismo no futebol. Os recentes atos de discriminação racial em campo contra o jogador Tinga (Cruzeiro) e o árbitro Marcio Chagas levantam uma questão: E na Copa?

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O Brasil, que sedia o megaevento esportivo em junho, tem uma população de maioria negra – Salvador, uma das cidades-sede, é considerada a cidade mais negra fora da África – e tem no futebol uma expressão desta composição social. Grandes ídolos mundiais do esporte são negros brasileiros, a exemplo do Pelé e de Neymar, que também já enfrentaram o racismo no gramado dos estádios. É por isso que a proximidade da Copa do Mundo tem criado um estado de alerta no Governo Federal.

Segundo a ministra, algumas medidas já estão sendo tomadas, como a criação de um número de telefone fácil para denúncias e a mobilização de instituições ligadas ao futebol, à Justiça e ao movimento negro, que terão o objetivo de promover um evento marcado pela harmonia entre toda gente. “Que nós possamos aproveitar essa oportunidade para também pensar o futebol como aquele espaço onde a diversidade racial se realiza”, afirma Luiza Bairros. Confira a conversa. 

– Como tem acompanhado os recentes casos de racismo no futebol?

Os casos de racismo no futebol não estão separados do racismo que é praticado na sociedade como um todo. Considero que esses episódios ganharam uma relevância maior, em primeiro lugar, porque o Governo Federal resolveu se manifestar em relação a isso, através da presidenta da República [Dilma Rousseff]. Isso fez com que o perfil dos casos aumentasse, fez com que a população brasileira percebesse mais diretamente o absurdo de nós termos esse tipo de manifestação no futebol brasileiro e, portanto, criou também a possibilidade de nós discutirmos o racismo que acontece nas diversas áreas da sociedade.

– O Brasil, que tem uma população de maioria negra, vai sediar a Copa do Mundo de futebol daqui a poucos meses. A discriminação racial nos estádios tem sido uma preocupação?

Nós temos feitos várias incursões em instituições públicas, a exemplo das defensorias públicas, dos ministérios públicos estaduais, chamando esses setores para se colocarem em alerta para receber essas denúncias de racismo. Na Seppir, funciona uma ouvidoria que também acolhe essas denúncias e encaminha para as demais instituições, provocando que essas instituições cumpram o seu dever porque já existe uma legislação antirracista no Brasil bastante sólida. A questão agora é de se aplicar a lei nesses casos. Nós estamos, também, em ralação ao futebol, promovendo em breve uma reunião com todas as federações de futebol aqui no país, de maneira que elas também se coloquem junto conosco, com o Governo, com o movimento negro, e somem a essa luta contra o racismo.

– A Bahia, onde a população negra é mais expressiva, estuda adotar uma cartilha com informações sobre legislação e postos de denúncia de racismo durante a Copa. É importante também que os governos municipais e estaduais se envolvam no combate a essa prática?

Sem dúvida alguma, todos os entes federados têm um papel dentro disso. A produção de cartilhas é importante porque dissemina no interior da população não só a informação sobre a legislação, mas os lugares que a população pode procurar, no caso de assistir a um ato racista e no caso das pessoas que sofrem o racismo. Nossa intenção é, até a Copa, já ter em funcionamento um número [de telefone] com três dígitos para que as pessoas possam acessar com a rapidez necessária e fazer a sua denúncia.

– O que a secretaria espera da realização dos jogos no Brasil?

Nós esperamos que a Copa do Mundo se realize com uma participação positiva da população brasileira, uma sociedade caracterizada pelo gosto que tem pelo futebol. Que nós possamos aproveitar essa oportunidade para também pensar o futebol como aquele espaço onde a diversidade racial se realiza. Com a diversidade racial, o futebol brasileiro conseguiu produzir excelência. Isso significa que se a sociedade como um todo for diversa, nós também conseguiremos produzir mais e melhores resultados para a vida de todo mundo.

De Salvador,
Erikson Walla