Mary Castro:“Sem mudanças, continuamos na fantasia da democracia”

O 3º Fórum do Pensamento Crítico, que acontece em Salvador desde a última segunda-feira (24/3), encerrou os debates nesta sexta (28), com uma discussão sobre os avanços e limites da democracia no Brasil. O encontro, organizado pela Secretaria Estadual da Cultura, tem debatido Autoritarismo e Democracia, em memória dos 50 anos do golpe militar (1964-2014).

 
Entre os convidados da mesa do último dia, estava a socióloga e integrante da União Brasileira de Mulheres (UBM), Mary Castro, que apontou algumas necessidades para se efetivar a democracia no país. Uma das urgências, segundo ela, seriam as Reformas de Base que ainda não se realizaram, principalmente a política, além da democratização da mídia e da desmilitarização da polícia.
Um destaque foi dado à militarização e Mary lembrou os recentes casos de Amarildo e Cláudia, que foram assassinados por militares do Rio de Janeiro, para ilustrar o despreparo dos policiais para lidar com a população carente. Ela criticou a ocupação militar das favelas e a justificativa do Estado para as ações dos órgãos de Segurança (a atuação é justificada como uma política de combate ao tráfico de drogas).

“Essa guerra às drogas é, na verdade, uma guerra aos pobres. É uma contradição que um governo democrático tenha uma outra face da violência, do Estado que violenta. Sem essas mudanças [apontadas no segundo parágrafo] , vamos todos continuar vivendo nessa fantasia da democracia”, afirmou Mary Castro.

A socióloga lembrou, ainda, que acontecia justamente naquele dia o aniversário do 28 de março de 1968, data em que aconteceu o Dia Nacional de Luta dos Estudantes. O movimento era contrário à repressão e em homenagem ao estudante Edson Luís, que havia sido assassinado durante os protestos pelo fim do autoritarismo.

O discurso de Mary foi dedicado aos comunistas Pedro Castro e Loreta Valadares, que integraram o movimento de resistência à ditadura militar. A justificativa da homenagem, segundo ela, é a uma “preocupação com a amnésia e uma gratidão porque aprendi muito com eles”.

Além da socióloga Mary Castro, também fizeram parte do debate o jornalista Emiliano José, o integrante do MST João Pedro Stédile e os economistas Pedro Henrique de Almeida e Fernando Pacheco.

De Salvador,
Erikson Walla