Profissionais da saúde protestam por ocasião dos 50 anos do Golpe

Representantes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, seção Ceará (CTB-Ceará) e do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará (Sindsaúde) realizarão protesto Na manhã desta quinta-feira (03/04), em frente ao Hotel Oásis Atlântico, onde estará ocorrendo o Congresso Internacional de Direito Sindical.

A mobilização soma-se aos diversos protestos que repudiam os 50 anos do início do Golpe Militar no Brasil, em 31 de março de 1964. Durante o protesto, as organizações apresentarão manifesto em repúdio às perdas sociais e humanas da sociedade à época da ditadura: estima-se que 70 mil pessoas foram presas e perseguidas, 437 mortas e desaparecidas. O Estado interveio em 432 sindicatos e cassou o mandato de dez mil sindicalistas em todo país.

Representante da CTB-Ceará, Ana Paula Brandão destaca a necessidade de apagar os vestígios da ditadura, assegurando a democracia. “Exigimos a revisão da Lei da Anistia, localização e identificação dos corpos dos desaparecidos políticos; identificação e punição dos culpados, entre outras medidas. Devemos isso ao nosso povo, inclusive para acabar com a herança maldita da ditadura”, afirma.

No mesmo sentido, a presidente do Sindsaúde, Marta Brandão, lembra que o sindicato, criado em 1941, enfrentou duas ditaduras, Era Vargas e Ditadura Militar e não pode estar à margem da luta por justiça. “Conseguimos superar o período da ditadura e estamos aqui hoje para contar a história e exigir, junto com toda a sociedade, que as injustiças sejam reparadas”, reforça.

O ato político soma-se à realização do II Congresso Internacional de Direito Sindical, que ocorre até a sexta-feira, 4, promovido pelo Ministério Público do Trabalho.

Manifesto

Prova de amor pelo Brasil nunca foi tão difícil desde o dia 31 de março de 1964. Perdemos muitas Marias e Wladimires, mas jamais deixamos de lutar pela independência política de nosso país, nem que isso nos pudesse custar a morte.

O movimento sindical não escapou à fúria repressora. Sofremos forte repressão com o governo Getúlio Vargas, enfrentamos novamente um período de chumbo à época da ditadura: articulamo-nos como era possível e conquistamos vitórias, apesar do fechamento de 432 sindicatos, postos na ilegalidade e a ferrenha perseguição contra cerca de 10 mil sindicalistas.

Aos corajosos foi tirado sangue e até a vida. Mais de 70 mil pessoas foram presas e perseguidas, 437 mortas e desaparecidas. Esse número pode chegar a milhares se olharmos o extermínio de indígenas a mando dos governos militares. Para nós, não dá para dizer que essa foi uma Ditabranda, como teve a infelicidade de declarar um jornal da “grande” imprensa.

Uma vida vale uma vida e jamais esqueceremos as atrocidades cometidas nesse período. Aliás, é difícil esquecer quando a cultura da ditadura segue tão presente. Se naquele momento os assassinatos de militantes da resistência à ditadura eram acobertados por versões falsas de suicídios, atropelamentos ou mortes em tiroteios, hoje praticamente o mesmo ocorre com moradores da periferia, como o caso de Amarildo Silva, um Silva dentre tantos que sentem na pele a truculência das abordagens policiais, legalizadas pelo poder público. Ou o que dizer da repressão às manifestações desde junho de 2013, com armas ditas não letais, pessoas mortas “sem querer” pela Polícia, a mando do Estado?

Lutar contra a herança da ditadura é também lutar contra as propostas de reformas legislativas conservadoras, como a Lei Antiterror e a Portaria denominada “Garantia da Lei e da Ordem” que ressuscitam o vocabulário e a legislação ditatorial e restauram a figura do “inimigo interno” contida na Lei de Segurança Nacional.Por tudo isso, queremos a democracia legítima, garantida pela união da classe trabalhadora.

Exigimos a revisão da Lei da Anistia, localização e identificação dos corpos dos desaparecidos políticos e esclarecimento das circunstâncias e dos responsáveis por suas mortes; Que sejam identificados e punidos os torturadores, estupradores, assassinos, mandantes, financiadores e ocultadores de cadáveres; Abram-se enfim todos os arquivos da ditadura, em especial da polícia técnico-científica do estado de São Paulo.

Devemos isso ao nosso povo e só assim extirparemos a herança terrível da ditadura, fortalecendo a democracia e cerrando de vez as oportunidades de novos episódios fascistas.

Fonte: Assessoria do Sindsaúde