Projeto Memória Oral debate Torturas e Casa dos Horrores

A Casa dos Horrores estava situada em um local próximo a Itapebussu, distrito de Maranguape. No local, as sessões de tortura eram ininterruptas, 24 horas por dia. Após as sessões, os torturados eram levados para uma sala comum, que parecia abrigo para animais. Muitos deles chegavam se urinando ou colocando a bílis para fora, em consequência da brutalidade recebida.

O depoimento é de Vicente Teixeira ao projeto Memória Oral por Verdade e Justiça, concedido nesta quinta-feira (03/04), no Auditório Murilo Aguiar da Assembleia Legislativa. A iniciativa é uma parceria do Instituto de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento do Ceará (Inesp) com a Associação Anistia 64/68.

Vicente Teixeira revelou ainda que foi conduzido encapuzado para o local, acompanhado de seu pai, Antônio dos Santos Teixeira, militar reformado e professor. Na época, em 1973, ele tinha apenas 16 anos, e admitiu que só não apanhou mais porque foi considerado menor pelos torturadores. Mesmo assim, revelou que ficou com traumas psicológicos, por ter visto seu pai ser torturado e ouvido gritos de desespero de outros presos.

Vicente contou que passou menos de 48 horas na Casa dos Horrores, por intervenção de parentes e amigos influentes. Apesar de não ter participado de qualquer ato terrorista, sofreu sevícias apenas por ser filho de pai declaradamente comunista. Seu pai, Antônio Teixeira, converteu-se ao comunismo quando foi preso em 1935, ao lado de outros comunistas. Até então, ele não se julgava como tal, e mesmo assim foi delatado como pertencente a órgãos comunistas, o que não era verdade, afirmou.

Nesse terceiro encontro do projeto Memória Oral por Verdade e Justiça, que trata do tema Torturas – A Casa dos Horrores, foram ouvidos ainda o advogado Benedito Bezerril e o professor aposentado Valter Pinheiro.

O projeto visa a resgatar relatos de pessoas que foram vítimas da ditadura militar, ouvindo os depoimentos de ex-presos políticos e parlamentares cassados, com o intuito de produzir um documentário e um acervo para estudos e pesquisas da população. Nas duas primeiras edições, realizadas nos dias 20 e 27 de março, o tema abordado foi o Dia do Golpe no Ceará.

As entrevistas são conduzidas pelo jornalista Paulo Verlaine e contam com a presença do conselheiro da Comissão Federal de Anistia do Ministério da Justiça, Mário Albuquerque.

Fonte: Agência de Notícias da Assembleia Legislativa