Bartolomeu Basto

Bartolomeu Basto não gostava de quando, na infância, o apelidavam de Bartolomeu Bosta. Mas também, né? Como um pai e uma mãe dão um nome deste para um filho? Como se já não bastasse o sobrenome os progenitores ainda quiserem se meter a poetas e promoveram este arremedo de rima. Não podemos pensar que fizeram isto de pilhéria com a pobre cria. Mas pelo sim, pelo não, jogaram nas mãos dos bulinadores uma verdadeira piada pronta. Pobre Bartolomeu, comeu o pão que o diabo amassou.

Por Andocides Bezerra

Se ainda fosse nos dias de hoje vá lá, mas na década de 1970, sem chance para o goleiro. Naquele tempo não existia o politicamente correto e os mais fracos na escala "escolar" pastavam de verde e amarelo.

E assim foi seguindo a vida de nosso personagem que, para galgar seu espaço, inconscientemente, ou não, acabou partindo para pequenos subterfúgios, pequenas armações, coisas poucas que o beneficiava e, por vezes se saia melhor do que seus opressores. Estas perseguições e a tentativa de escapar delas foi despertando uma inteligência a parte no garoto que resolve, devido às condições econômicas da família, abandonar a escola. O padrasto, que também vivia de bicos e trambiques não persuade o enteado, pelo contrário, vê neste gesto uma mão a mais no bolso dos otários. Pobre Bartolomeu Bosta, digo Basto. Saiu da escola para a esmola. Sem chances na vida o que lhe restava era fazer a vida.

Vendia balas nos ônibus, trens e metrôs. Levava tapa na orelha na rua porque pedia dinheiro e em casa porque não o trazia. Enquanto isto o pai, que de trabalhador não tinha nada, aproveitava o moleque para eternizar suas férias.

Bartô cresceu, diminuiu o nome para ver se levava mais sorte na vida e incorporou o apelido de infância à personalidade. Conseguiu um trabalho, uma namorada e com ela uma família interamente nova para ir treinando sua arte.

Durante o namoro e noivado era um amor, tratava a todos com muita simpatia e educação. No dia das mães, presentinho para a sogra, no dia dos pais, cerveja com o sogro, no dia do primeiro encontro com a noivinha, flores e por aí adiante. Não é que depois de casado Bartolomeu tenha mostrado as garras, ele não faria isto, já era crescido, tinha berço e sabia como agir. Manteve-se uma seda, atencioso, mão aberta quando tinha dinheiro sobrando e assim foi ganhando a confiança de todos. Aplicava seus golpes, mas sempre nas empresas onde trabalhava. Por isto não parava em empregos. Mas, se mostrava atencioso, conversador, participava de todos os assuntos. Como os familiares eram mais limitados em grandes discursões, Bartolomeu surfava tranquilo e até na política dava seus pitacos. Claro que todos na linha conservadora, guiado pelo que diziam os grandes jornais e os programas de TV de quinta categoria. "Na política só tem ladrão, vivem do dinheiro público, tiram da saúde e enfiam nos seus bolsos. Vai lá no hospital público para ver como é". Assim era a cantilena de nosso personagem.

Enfim chegou o tempo do Bartolomeu atuar na própria família. Depois de conseguir a confiança dos seus, forjar documentos, vender carros e não entregar o dinheiro, viver às custas do sogro e do cunhado foi muito fácil. Por mais que fizesse, sua sogra, inocente, o apoiava dizendo: mas ele é um ótimo pai. Ou: ele é um bom marido, nem bate na nossa filha. E por aí a diante. Depois de tomar a casa da família, Bartolomeu Basto partiu para a política e, mesmo dizendo que não era político, ingressou em um partido conservador. Hoje, Bartolomeu Bosta como é chamado pelos cidadãos de bem, é um político "honesto" e vive, muito bem, em sua mansão adquirida com dinheiro público.