Espionagem: Prêmio Pulitzer reconhece serviço público da denúncia

O comitê de seleção do Prêmio Pulitzer deste ano reconheceu o trabalho de Glenn Greenwal, Laura Poitras e Barton Gellman pelas reportagens derivadas dos documentos fornecidos por Edward Snowden, ex-técnico das agências de inteligência dos EUA, sobre o programa global de espionagem. Os jornalistas do britânico The Guardian e do estadunidense The Washington Post receberam o prêmio por um “exemplo distinto de serviço público de mérito”.

Espionagem - AP/Eraldo Peres/Reuters/Mario Anzuoni/AP/Pablo Martinez Monsivais

O anúncio na página do Prêmio Pulitzer justifica a escolha do Guardian e do Washington Post “por sua revelação da vigilância secreta generalizada pela Agência Nacional de Segurança [estadunidense], ajudando, através de reportagens incisivas, a fomentar o debate sobre a relação entre o governo e o público em questões de segurança e privacidade.”

As revelações partiram de um trabalho investigativo sobre as dezenas de milhares de documentos fornecidos por Snowden, ex-técnico informático da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) e da Agência Central de Inteligência (CIA) estadunidenses, sobre o vasto programa de espionagem que incluía cidadãos comuns (nacionais e internacionais), organizações, empresas públicas (como a Petrobras), autoridades em geral e até chefes de Estado.

Através das ligações telefônicas e das invasões de contas eletrônicas pessoais na Internet, as agências estadunidenses conduziam o que chamam de “vigilância” das comunicações, com o consentimento de autoridades políticas, mas poucas vezes com a permissão judicial e, principalmente, sem o conhecimento dos cidadãos.

A invasão da privacidade enquanto violação de direitos civis, conduzida por um governo que se apresenta como o cruzado da democracia internacional, causou a revolta em todo o globo contra a espionagem e contra a forma antidemocrática, obscura e ilegal com que era conduzida, até mesmo segundo a lei estadunidense.

Para muitos, violou a própria constituição norte-americana e passou por cima dos procedimentos jurídicos domésticos, para não falar da violação do direito internacional, inclusive com a espionagem das comunicações de chefes de Estado e de instituições da Organização das Nações Unidas.

  Foto: Jim Lo Scalzo / EPA

   Um ônibus em Washington transporta uma mensagem patrocinada pelo Fundo de Parceria pela Justiça Civil   
  (Partnership for Civil Justice Fund). "Nós, o povo, nos opomos ao Estado de Vigilância e dizemos: Obrigado Edward
   Snowden!"

O trabalho dos jornalistas, através das denúncias feitas por Snowden, colocou os Estados Unidos em julgamento por temas já conhecidos internacionalmente, a espionagem, mas com documentos que revelavam a extensão global desta política, o seu caráter antidemocrático, com a violação de direitos civis básicos, não transparente e imperialista.

Prêmio Pulitzer ao serviço público

Por levantar o debate de forma abrangente e qualificada, através do jornalismo investigativo e dos documentos primários fornecidos por Snowden, a sucursal estadunidense do Guardian e o Washginton Post foram premiados. O evento foi comparado a outros escândalos revelados e de grande impacto na história do jornalismo e da política dos EUA, como o caso Watergate de corrupção, da década de 1970, que resultou na renúncia do presidente Rixard Nixon.

O prêmio é uma homenagem a Joseph Pulitzer, que, no final do século 19, “era o editor jornalístico mais habilidoso, um cruzado apaixonado contra o governo desonesto”, explica o portal da organização.

O anúncio formal dos prêmios, todo mês de abril, é feito após a recomendação de um comitê do Prêmio Pulitzer, pelo presidente da Universidade de Columbia, segundo a vontade do próprio Pulitzer, que estabeleceu a instituição de ensino como o assento da administração dos prêmios, a partir de uma doação de US$ 2 milhões para o estabelecimento de uma Faculdade de Jornalismo.

Do valor, um quarto deveria ser “aplicados aos prêmios ou bolsas, para o encorajamento ao serviço público, moral pública, literatura americana e o avanço da educação.” Atualmente, de acordo com o portal da administração, um painel independente toma das decisões sobre os prêmios.

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações das agências de notícias e da página do Prêmio Pulitzer.