Operação militar contra civis no leste da Ucrânia aumenta tensões

O Exército da Ucrânia, com ordens do governo interino, enviou tropas para um aeroporto próximo a Slovyansky, no leste do país, nesta terça-feira (15). O novo governo, que tomou o poder de forma inconstitucional, mas foi prontamente reconhecido pelos EUA e pela União Europeia, diz ter lançado uma operação militar “antiterrorista” contra os manifestantes que pedem a federalização ou que têm reivindicações separatistas, enquanto acusa a Rússia de interferir na questão.

Ucrânia - Maurício Lima / The New York Times

Diversos manifestantes, que a mídia internacional tem classificado de forma generalizante como “pró-russos”, ocuparam prédios governamentais em distintas cidades e províncias, com reivindicações entre a federalização da Ucrânia – que o governo disse considerar para um referendo – e a independência, com a possibilidade de integração à Rússia.

Ainda na terça-feira, uma coluna de veículos militares de transporte com bandeiras ucranianas aproximou-se de Slovyansk vinda do norte, segundo Andrew E. Kramer, enviado especial do jornal estadunidense The New York Times, para instalar um posto de controle na estrada.

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A cidade seria a mais completamente “tomada” pelos manifestantes, diz o jornalista, referindo-se à ocupação de edifícios do governo e à instalação de barricadas em 10 cidades diferentes no leste do país. Assim, o governo justifica o envio de tropas e o lançamento de uma operação militar contra os manifestantes, que classifica de “terroristas”.

Grande parte da mídia internacional tradicional reproduz a narrativa ocidental sobre uma confrontação entre o Ocidente e o Leste, como se tratasse do contexto de Guerra Fria. A Casa Branca saudou a opção militar do governo ucraniano interino, cujas forças apoia desde a sua expressão, nas ruas, contra o governo de Viktor Ianukovic e a favor da adesão à União Europeia, apesar da escalada exponencial das tensões nos protestos e das tendências golpistas, em detrimento das opções pelo diálogo político.

Aumento da agressividade e ameaça à diplomacia

O presidente da Rússia, Vladmir Putin, e o seu chanceler, Serguei Lavrov, vêm condenando a intensificação da retórica de confronto e das acusações contra o governo russo, enquanto continua instando as partes, EUA, UE, Ucrânia (e todas as suas forças políticas domésticas) à diplomacia.

Além disso, Putin disse ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que esperava uma “condenação clara” das movimentações internacionais na região, com um aumento verificado da presença militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), provocativa e agressiva.

Lavrov advertiu que qualquer uso de força por parte do governo ucraniano no leste poderia prejudicar as negociações sobre a crise envolvendo UE, Rússia, EUA e Ucrânia, que deverão ser iniciadas em Genebra, Suíça, na quinta-feira (17). "Você não pode enviar tanques contra seus próprios cidadãos e ao mesmo tempo realizar negociações", disse ele, durante visita à China.

Noticiando sobre o lançamento da operação militar na Ucrânia, na terça-feira, a televisão russa anunciou: “o governo ilegal e criminoso de Kiev desencadeia uma guerra contra o seu próprio povo.” Perto de uma base aérea em Kramatorsk, retomada pelos militares, também foram relatados os casos de diversos membros dos grupos de protesto feridos nos confrontos diretos com soldados ucranianos. Estima-se que quatro manifestantes morreram, embora outros participantes dos protestos no local tenham negado a informação.

O general ucraniano Vasily Krutov advertiu os cerca de 500 manifestantes para que dispersassem, mas eles não se cumpriram a advertência. Em declarações aos jornalistas no local, o general disse que “eles precisam ser avisados de que se não baixarem as armas, serão destruídos.”

Os manifestantes que ocuparam a base aérea explicaram aos repórteres que não reconheciam a autoridade do novo governo da Ucrânia e que buscavam o direito de decidir o seu próprio caminho.

Depois dos protestos que tomaram contornos violentos na capital e em outras cidades, e que resultaram na derrubada inconstitucional do governo – com o respaldo direto dos EUA e da UE – “o leste da Ucrânia sentiu-se fora do processo político”, disse Vyachislav Filken, um dos manifestantes citados pelo New York Times. “Eles quiseram definir o presidente [interino, Olexander Turchynov] e não nos consultaram.”

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações das agências de notícias e do New York Times