Fortaleza: Livro retrata memórias da Ditadura e da resistência

Uma noite para rememorar e resgatar a história do Brasil para que fatos como os acontecidos durante o período da Ditadura não voltem a acontecer. Foi com este sentimento que a Fundação Maurício Grabois em parceria com a Associação 64/68 Anistia, relançaram, na noite da última sexta-feira (25/04), no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, duas publicações que resgatam opiniões, história e depoimentos relativos aos 50 anos do Golpe Militar.

A edição 129 da Revista Princípios apresenta uma coletânea de artigos e entrevistas que resgatam a história e analisam os significados do Golpe de 1964. Já o "Livro Negro da Ditadura Militar" é um livro-denúncia inteiramente pesquisado, escrito, impresso e distribuído na clandestinidade, pela Ação Popular (AP), em 1972, no período de repressão e agora reeditado pela Editora Anita Garabaldi.

Bernardo Joffily, um dos responsáveis por sua publicação à época, participou do relançamento do livro em Fortaleza. “Ainda era estudante, tinha 21 anos de idade. Ajudei a escrever 3 ou 4 capítulos”. O jornalista destacou a relevância da publicação, em 1972, num dos piores anos de repressão. “O livro foi a primeira publicação a reunir denúncias dos crimes, torturas e assassinatos. Trata-se de uma verdadeira autopsia daquele cadáver chamado repressão”.

Sobre a sua reedição, Joffily convida a todos que leiam o livro. “Ele está exatamente como publicado inicialmente. Até a ortografia é a mesma usada na época, os erros de datilografia não foram corrigidos. A publicação é um testemunho, é uma voz de 1972 que está falando em 2014”.

Além dos relatos, o jornalista destacou ainda a capa. “A caveira com o quepe de General representa a síntese da Ditadura, que contou a participação de civis, mas foi essencialmente, historicamente e politicamente liderada pela cúpula das forças armadas”.

Em sua intervenção, Bernardo Joffily contou sobre a “ousadia e audácia” que, naquele ano, o grupo teve para imprimir e distribuir o material na total clandestinidade. “A gráfica foi montada de forma ultra escondida, num sítio alugado no interior de São Paulo”, revelou.

Debates sobre os 50 anos do Golpe

A passagem dos 50 anos do Golpe, segundo o jornalista, deu ao fato uma importância enorme. “Não recordo de algum outro fato histórico ter sido tão debatido como este. Talvez ainda não tenhamos a dimensão de quantos debates, como o desta noite, foram realizados do Oiapoque ao Chuí”

“Mas por que será todo esse interesse?”, questionou Joffily. Para o jornalista, “todo país que enfrenta acontecimentos de grandes dimensões precisa digeri-lo, e esta é uma tarefa que não se esgota em uma geração”. “Precisamos entender melhor o que foi o Golpe. Ainda falta aprofundar o que aconteceu naquele 1º de abril de 1964, quando os militares resolveram que daquela vez tinham chegado para ficar, e ficaram por 21 anos, o período mais tenebroso da história do nosso país”.

Em contrapartida, destacou Bernardo, nestes meses em que o Golpe voltou ao centro dos debates, quase não se viu apoio a ele. “Minha alegria, depois de cinco décadas, foi ver que quase ninguém comemorou o fato, mesmo que hipocritamente. Os que reeditaram a tal ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’, reuniu inexpressivo número de pessoas nas capitais onde foram realizadas”.

O fim negociado da Ditadura, “seu apodrecimento em vida”, e os encaminhamentos na luta pela democracia com a campanha das Diretas Já, trouxe para o país novo sentimento. “Ainda temos muito o que amadurecer no nosso processo democrático mas, com todos os defeitos, o nosso tempo é o primeiro que combina liberdade e democracia”, ratificou Joffily.

De Fortaleza,
Carolina Campos