A legião estrangeira

 Por Aldo Rebelo*

Celeiro de neologismos, o futebol deu um novo sentido à palavra estrangeiro – definindo também o jogador que atua no exterior. Mas a acepção original no dicionário (“o que é de outro país”) está a cada ano mais presente nos gramados verde-amarelos. Maior exportador de craques para deleite do mundo, o Brasil é agora também um dos principais importadores, a ponto de a balança pender do lado dos que entram: em 2013, saíram 656 e ingressaram 746 atletas, contando-se entre estes um punhado de nacionais repatriados.

Por pressão dos clubes, a CBF aumentou de três para cinco o número de estrangeiros que podem estar em campo ao mesmo tempo num time brasileiro. Segundo os dados divulgados pelo repórter Gonçalo Júnior, os altos salários pagos no Brasil atraem jogadores da América do Sul. Se em 2012 a Série A do Campeonato Brasileiro tinha 15 estrangeiros nas vinte equipes participantes, em 2013 eles foram 37 e nesta temporada de 2014 já somam 45 – quatro times e um reserva.

A legião estrangeira nos clubes é um efeito da globalização do futebol que já abre debate acerca de sua presença nas seleções nacionais. Na brasileira, estrangeiro ainda é o natural que joga no exterior. Dos 19 listados na última convocação do técnico Luiz Felipe Scolari, em fevereiro, nada menos que 16 estavam fora do Brasil. Até nossa 12ª. Copa, a de 1982, a CBF não convocava quem atuava fora.

Se ainda é insignificante no Brasil, a porcentagem de naturalizados começa a incomodar no Exterior. Na Copa de 2010, 26 das 32 seleções tinham 75 atletas oriundos de outros países. A Fifa já discute se não é hora de reservar as seleções exclusivamente para os nativos. A questão é que a maioria dos naturalizados adota outra nacionalidade por influência das ligas apenas para disputar a Copa. Não são emigrantes que escolheram nova pátria para viver e nela fizeram uma trajetória de cidadania integrada à nação.

*Aldo Rebelo é ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB-SP

Fonte
: Diário de S. pAULOI