Na contramão mundial, EUA pedem à Europa mais gastos militares

Chuck Hagel, secretário de Defesa dos EUA, instou os membros europeus da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a aumentarem seus gastos militares, ignorando apelos mundiais contrários, e em defesa de maiores investimentos em políticas sociais. Em abril, o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri) lançou sua avaliação dos gastos globais no setor militar em 2013: foram US$ 1,7 trilhões (R$ 3,8 trilhões).

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

OTAN - Reprodução / Otan

Ao contrário do posicionamento massivo contrário ao aumento dos gastos militares – acompanhados dos cortes em políticas sociais, tanto nos EUA quanto na Europa –, Hagel defendeu, na sexta-feira (2), que os membros da Otan aumentem o orçamento no setor de Defesa, usando o pretexto da suposta “iminência da intervenção russa na Ucrânia”, o que definiu como um “momento esclarecedor para a aliança.”

Há anos, a aliança belicosa aumenta seu escopo de atuação e abrange seu conceito securitário para "justificar" a sua continuidade, após o fim da Guerra Fria. Desde a declaração de independência da Crimeia em relação à Ucrânia para a reintegração à Rússia, os termos agressivos e de ofensiva contra o país foram propagados pela mídia internacional convencional a partir dos discursos das potências ocidentais. A indústria da guerra precisa ser alimentada e pretextos novos para a extensão da lógica retrógrada, neste sentido, são constantemente alavancados.

Leia também:
Gastos militares vão contra justiça social e democracia, diz ONU
Otan: Aliança militar e maior ameaça à paz completa 65 anos
Europeus buscam fortalecer ações anti-imperialistas e pela paz

Segundo o jornal estadunidense The New York Times, Hagel disse que os secretários da Defesa norte-americanos têm pedido, há anos, que os aliados europeus aumentem seu orçamento militar, e que o compromisso estadunidense estava se tornando “exponencialmente desproporcional”. O secretário afirmou que o gasto militar dos EUA é três vezes maior do que a somatória dos gastos dos outros 27 membros da Otan, e convocou os ministros europeus das Finanças para uma discussão sobre o orçamento da aliança.

Dados da própria Otan demonstram que os seus gastos militares totais dobraram em apenas uma década: passaram de US$ 504 bilhões (R$ 1,12 trilhões), em 1990, para US$  1,08 trilhões (R$ 2,4 trilhões), em 2010. Os EUA, sozinhos, arcavam com mais de 50% dos gastos totais da aliança nas duas pontas do período, enquanto as sociedades civis de países europeus líderes nos orçamentos militares, como a Espanha, pressionam seus governos a reduzir a porção de seu produto interno bruto (PIB) direcionada ao setor.

Foto: Associated Press  

Além de contradizer o movimento mundial – inclusive das vítimas diretas da ocupação e das invasões dos EUA e da Otan – contra o belicismo e pela redução dos gastos militares, em geral, o apelo de Hagel contradiz os protestos de inúmeros cidadãos europeus contra o orçamento do setor de Defesa dos seus países, sobretudo no período de crise econômica e financeira.

(Estudantes universitários protestam contra a atuação dos EUA e da Otan
no Paquistão, rechaçando a presença militar no país.)

Embora o gasto militar global tenha caído quase 2% entre 2012 e 2013, de acordo com o relatório divulgado em 14 de abril pelo Sipri, os EUA ainda lideraram no orçamento do setor, investindo US$ 640 bilhões (R$ 1,4 trilhões) em 2013, com uma queda de 7,8% atribuída pelo instituto à redução do gasto em operações militares pelo mundo. Novamente, apesar da ligeira redução no orçamento global do setor, a tendência crescente vinha sendo constatada desde o fim da década de 1990, o que significa quase 15 anos ininterruptos de aumento dos gastos.

Hagel exige o aumento do gasto na área enquanto os trabalhadores europeus sofrem as consequências das políticas opressivas de arrocho, com cortes sociais profundos e empobrecimento exponencial, impostos através das medidas formuladas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para os chamados “resgates” financeiros bilionários dos próprios responsáveis pela situação atual.

No início do ano, um debate acirrado girou em torno do orçamento do Departamento de Defesa dos EUA, cuja redução, assim como a redução do orçamento do Departamento de Estado, o chanceler norte-americano John Kerry classificou, em fevereiro, de “política de nação pobre”, que poderia “limitar a influência dos Estados Unidos sobre o mundo.” Naquele mês, também se discutia a redução das Forças Armadas em termos de efetivos. Como uma verdadeira empresa, a “eficiência” do setor foi traduzida por Hagel com a proposta de despedimentos em massa, mas o corte de gastos com equipamentos militares e bélicos não foi explorado.