Gonzaga do fundo da alma

Luiz Gonzaga do Nascimento revive no coração de seu povo. Assim escreveu Audálio Dantas. A presença indelével foi apreendida por Tiago Santana em imagens que retratam as terras e gentes do Araripe. O texto do primeiro e as fotos do segundo compõem a obra O céu de Luiz, lançamento da Editora Tempo D´Imagem em parceria com o Sesc.

Por  Christiane Brito  

Luiz Gonzaga (desenho)
O menino que tocava sanfona “como o cão” fez fama longe de casa. Mas seguramente deixou o coração em Exu, onde nasceu e de onde partiu aos 17 quase 18 anos para fugir de um amor proibido. Histórias como essa, com detalhes menos conhecidos e mais poesia do que caberia em uma biografia, estão no texto de Audálio Dantas sobre o rei do baião. 
A mesma eloquência poética pode ser encontrada no ensaio fotográfico de Tiago Santana, que refez o percurso de Gonzaga em meio ao sertão do Cariri pelo menos três vezes durante o processo de criação de O céu de Luiz, obra que Dantas e Santana assinam, reeditando a parceria premiada de O chão de Graciliano (2007).
O céu de Luiz rende justa homenagem ao homem que, nas palavras de Dantas, “mostrou ao Brasil uma nova música, o baião que tinha um quê que as outras músicas não têm: na verdade, sons trazidos do fundo da alma do povo nordestino…”.
Para ver e tocar



Premiado em 2013 com o Jabuti e o Juca Pato por As duas guerras de Vlado (Civilização Brasileira), Dantas dispensa aqui o rigor jornalístico e conta uma história que incorpora a linguagem figurada.
É obra para ser folheada ao acaso, na doçura do enlevo.
 
As fotos em preto e branco de Santana definem ângulos desconcertantes, são figuras e objetos entre luz e sombra, exigentes de um segundo ou terceiro olhar até engendrarem a afável familiaridade que todo brasileiro tem com o sertão. 
 
As paisagens retratadas envelheceram mais de 100 anos desde a madrugada de 13 de dezembro de 1912, quando uma estrela cadente apareceu para o velho Januário com jeito de quem anuncia profeta, um menino “cheio de luz” que cumpriu a missão de levar o ritmo da terra até longínquas fronteiras, inclusive o Japão, do outro lado do mundo.  
O tempo passou, mas Luiz Gonzaga continua, como prega Gilberto Gil na apresentação do livro: “…creio que por muito tempo, ou para sempre, escutaremos sua voz trovejante e veremos seu semblante altivo toda vez que andarmos pelos lugares do Brasil.”
 
Serviço
O céu de Luiz – 100 anos de Luiz Gonzaga, Tiago Santana e Audálio Dantas. São Paulo, Editora Tempo D´Imagem em parceria com Edições Sesc (2014)