José Mujica: “Aos que gostam de dinheiro, fiquem longe da política”

Um dos chefes de Estado mais admirados ao redor do mundo nos últimos anos, José Mujica completa 79 anos nesta terça-feira (20). Ele vive em uma pequena fazenda na região de Rincón del Cerro, uma área rural nas redondezas da capital de seu país. A proprietária da fazenda na verdade é sua esposa. Seu nome é José, mas é chamado por todos de “Pepe”.

Por Vinicius Gomes, na Revista Fórum

Maconha uruguaia será cultivada em terrenos das Forças Armadas - EFE

Possui um salário que chega a mais ou menos 28 mil reais. Guarda para si menos de 10% desse valor e o resto doa para pequenas empresas e ONGs ligadas a projetos de habitação. Além de sua casa no pequeno sítio, seus únicos patrimônios são um Corsa, dois tratores e um Fusca de estimação de 1978 avaliado em pouco mais de mil dólares. Tem também uma outra companheira: uma cadela de três patas chamada Manuela.

“Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo porque para viver não preciso muito mais do que tenho… Minha maneira de viver é consequência da evolução da minha vida. Lutei até onde é possível pela igualdade e equidade dos homens” – diz ele. “Se tivesse muitas coisas, acabaria por ocupar-me delas. A verdadeira liberdade está em consumir pouco.”

Leia também:
Mujica assina decreto e Uruguai cria 1º mercado legal de maconha
Mujica destaca importância do sindicato dos trabalhadores rurais
José Mujica oferece refúgio a crianças e mulheres sírias

De liberdade – e, principalmente, da falta dela – Pepe entende bem: décadas atrás lutou contra a ditadura militar no Uruguai, e por isso passou 14 anos como preso político. Perdeu sua liberdade individual lutando pela do seu país. Diz que nessa época conversava com rãs e formigas para tentar não enlouquecer e que por muitas noites, tudo o que mais desejava era um colchão. Talvez por isso tenha dito há pouco tempo que “o mundo está prisioneiro hoje da cultura da sociedade de consumo e o que está se consumindo é vida humana, em quantidades enormes”, pois se perdeu a capacidade de desfrutar o tempo e a ideia de que “estar vivo é um milagre”.

Hoje, ele é diferente, claro. Não mudou, mas não é o mesmo. Tem ideias muito distantes do marxismo que defendia nos tempos de juventude, no entanto, salienta: “Continuo sendo socialista porque sou inimigo da exploração do homem pelo homem”.

Culto e inteligente, ainda bem. Pois esses dois adjetivos só funcionam bem se andarem lado a lado, especialmente em sua linha de trabalho. “A política não é um passatempo, não é uma profissão para se viver dela – é uma paixão com o sonho de tentar construir um futuro social melhor; aos que gostam do dinheiro: fiquem bem longe de política”, sentencia o velho Pepe.

Esse homem que prega não a “valorização da pobreza”, mas sim a “sobriedade do viver”, é um chefe de Estado: o presidente do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano. Ele completa hoje 79 anos, é admirado internacionalmente e, restando dez meses de deixar a presidência do Uruguai, a sensação é de já estar deixando saudades quando deixar o cargo e se dedicar a – segundo ele – plantar tomates, acelgas e ensinar jovens de famílias com poucos recursos o amor pela terra, pois afinal, “o poder não muda as pessoas, apenas revela o que elas verdadeiramente são”.

Em tempo, ele utiliza um iPad para ler as notícias de manhã. Parece que às vezes o jornal não chega até sua vizinhança.