Diretor admite que não sabe como Cantareira chegará a outubro
O engenheiro Paulo Massato Yoshimoto, diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), admitiu nesta quarta-feira (28), em audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo, ao ser questionado sobre a recuperação do Sistema Cantareira pelo vereador José Police Neto (PSD), que "o grande desafio agora é saber como chegaremos até o próximo período chuvoso".
Publicado 29/05/2014 10:50
Yoshimoto defendeu que a companhia está tomando as medidas possíveis, mas somente o início da ocorrência de chuvas vai permitir avaliar a situação.
“Nosso ano hidrológico começa em outubro e vai até março. Nesse período, a chuva enche as represas e vamos utilizar este volume no inverno”, explicou. Observada a média de queda do nível do Sistema Cantareira nos últimos meses, o nível de água adicionado pela captação do volume morto pode não durar até outubro. Desde janeiro, a porcentagem de água no sistema em relação ao total que pode ser acumulado nas represas, cai cerca de 0,2% ao dia, ou 6% ao mês.
O nível do Cantareira hoje, contando a água do volume morto, é de 25,3% do total. Pela média, esse percentual estará esgotado no início de outubro. Antes de entrarmos na primavera, que começa no dia 20 daquele mês.
O executivo admitiu ainda que não houve aprovação do uso do volume morto pelo Comitê Gestor da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Comitê PCJ). O grupo é responsável pelo acompanhamento e fiscalização das ações na bacia.
Yoshimoto, no entanto, descartou a possibilidade de secar a represa. “Nós estamos utilizando uma parte (do volume morto). Serão retirados 182 milhões de metros cúbicos (m³), dos 400 milhões contidos na reserva. Não vamos secar os reservatórios”, defendeu. Desse sistema, estão sendo bombeados 22m³ por segundo, que é o definido pela Agência Nacional de Águas (ANA – federal) e pelo Departamento de Água, Esgoto e Energia (DAEE – estadual), ante os 33m³/s autorizados antes da crise.
Segundo o engenheiro, esse montante é suficiente para manter o fornecimento de água em toda a região abastecida pelo Sistema Cantareira, com exceção das regiões agora abastecidas pelos sistemas Alto Tietê (zona leste) e Guarapiranga (zona sul).
Yoshimoto garantiu que a utilização do volume morto é segura e que a Sabesp fez testes com material do fundo da represa. “No fundo do Sistema Cantareira não existem metais pesados. Não temos indústrias instaladas na bacia da Cantareira que despejem metais pesados. Fizemos coleta do fundo das represas e, pelo padrão do Conselho Nacional de Meio Ambiente, não foi encontrado nenhum elemento perigoso, que exigisse tratamento diferente”, afirmou, em resposta ao vereador Davi Soares (PSD).
Ele admitiu também que não houve investimento para ampliar a capacidade do sistema, mas somente na ampliação do sistema de adutoras para levar água para a população. “A região metropolitana de todas as cidades cresce além dos controles possíveis. O que teve mais investimento foi para levar a água para atender à demanda que se projeta para além das regiões centrais das cidades”, disse, acrescentando que o Cantareira opera no total de sua capacidade projetada, produzindo 73m³ por segundo de água tratada.
O engenheiro negou que o problema de abastecimento tenha sido causado por falha de planejamento da Sabesp. Yoshimoto afirmou que uma condição climática muito específica impediu a formação de chuvas e a entrada de frentes frias na região.
“O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais explicou que houve um fenômeno global de formação de zona de alta pressão, surgido na Austrália e que atingiu São Paulo, provocando altíssimas temperaturas e baixa ocorrência de chuvas. No Chile, houve queimada imensa, e no Texas está havendo fornecimento somente de água de reuso, porque secaram os reservatórios”, defendeu.
Questionado sobre a existência de racionamento na capital e outras cidades da região metropolitana, Yoshimoto negou – como há tempos vêm fazendo os representantes do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) – que a Sabesp utilize a medida. “Não há redução de envio de água ao munícipe. A redução da vazão foi equilibrada pela redução de consumo da população, já que 90% da população atendida pela Cantareira o fez”, afirmou, em resposta ao vereador Paulo Fiorilo (PT).
O presidente da Comissão de Política Urbana, vereador Andrea Matarazzo (PSDB), tentou aproveitar a situação e insinuou que o governo federal é que estaria exigindo um racionamento na cidade, já que a ANA determinou a redução da retirada de água. A determinação, no entanto, é conjunta entre as agências federal e estadual, para evitar que a água do Sistema Cantareira fosse esgotada antes do meio do ano.
Exceto por essa intervenção, a sessão na Câmara Municipal foi bastante tranquila para o diretor da Sabesp. Não houve embates nem questionamentos incisivos. A maior parte das perguntas repetiu informações que já circulam na imprensa.
Já em entrevista a jornalistas, Yoshimoto foi confrontado com informações de que diversos bairros sofrem com falta de água durante a noite e disse que se tratam de questões pontuais em regiões altas. “Nós temos utilizado redutores no sistema de adutoras, que controlam a emissão de água nos períodos em que temos conhecimento de que a demanda é menor. Mas, repito, não racionamos nem fazemos rodízio.”
Utilizando a mesma argumentação defendida pelo presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, o engenheiro ressaltou que o rodízio pode prejudicar o sistema de fornecimento de água, porque o sistema tem fissuras. “Os mesmo pontos em que se perde água pode permitir a entrada de água contaminada, vinda de solos poluídos. Isso é muito perigoso”, afirmou Yoshimoto.
Ele ressaltou que a população tem realizado economias e que por isso não há necessidade de realizar racionamento. A economia de água, segundo o engenheiro, foi de 9m³ por segundo. “O mesmo que fazer um racionamento de cinco dias sem água para cada um dia e meio com água”, afirmou.
E minimizou as perdas da Sabesp, que ficam em torno de 25% do total de água tratada produzido pela Sabesp. “Comparado internacionalmente, a região metropolitana tem um índice de perda bastante adequado. A do Japão (8%) foi atingida após 50 anos de obras. Não é um processo simples”, afirmou.
Questionado sobre a ação proposta pelo Ministério Público Estadual, quanto aos investimentos em programas de redução de perdas de água, Yoshimoto afirmou que a companhia prestará todos os esclarecimentos. “Não se pode pensar que uma cidade ou estado terá recursos para trocar toda a sua rede de água em cinco anos. Temos 40 mil quilômetros de redes. É um programa de longo prazo. Vamos prestar todas as explicações ao MP”, disse.
Fonte: Rede Brasil Atual