Cláudio Ferreira Lima: Fortaleza 2040

Por *Cláudio Ferreira Lima

Em 1968, durante palestra na Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre Liberal de Castro retornou ao século XVII para indagar: “Qual, dentre aqueles aventureiros (…), teria imaginado que três séculos após suas correrias por estas bandas, aqui haveria de florescer um dos maiores conjuntos urbanos do País?” (Fatores de localização e de expansão da cidade de Fortaleza. Fortaleza: UFC, 1977, p. 9).

No momento em que a prefeitura de Fortaleza inicia o processo de construção do Plano Fortaleza 2040, é oportuno entender essa transformação, a fim de traçar, a partir daí, as perspectivas para os próximos 25 anos.

Pois bem, a formação econômica do Ceará começou no século XVII com a Civilização do Couro, e Fortaleza ficou à margem. Nessa fase, a cidade primaz era Aracati.

Mas, em 1799, coincidindo com o declínio da pecuária, a Capitania tornou-se autônoma e passou a fazer comércio direto com Lisboa, através preferencialmente de Fortaleza. De 1808 em diante, com a abertura dos portos, o intercâmbio estendeu-se às nações amigas e, em especial, à Inglaterra. Assim, Fortaleza ganhou a primazia e a consolidou como centro exportador de algodão e também de couro, peles, café e cera de carnaúba.

No começo do século XX, na faixa do Centro à Barra do Ceará, já havia modesto parque industrial formado por ramos tradicionais. Nos anos 1960, o Estado, com o apoio dos incentivos fiscais da Sudene, intensificou a industrialização. A nova indústria, porém, localizou-se em Maracanaú; depois, em Horizonte e Pacajus, e hoje, com o Complexo do Pecém, em Caucaia e São Gonçalo do Amarante.

Fortaleza firmou-se mesmo foi como economia do comércio e serviços; 79% do PIB e 80% do emprego provêm daí. Mas ela reúne ainda duas outras marcas.

A primeira, a concentração demográfica e da renda, ou seja, 29% da população e 48% do PIB do Estado. E a segunda, a enorme desigualdade, haja vista que, acolhendo, ao longo do tempo, o contingente expulso do interior pela seca, pela estrutura fundiária e pela derrocada da velha economia rural, a cidade, já apartada de nascença, só viu ampliar-se o fosso social.

Ao se lançar um olhar para o futuro deve-se ter, pois, em conta que, afora capital do Estado, Fortaleza firmou-se como cidade do comércio e dos serviços. Por sua posição geográfica privilegiada, a rede urbana sob o seu comando, segundo o IBGE (Regiões de Influência das Cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2008), é a terceira em população do País. Tal condição a credencia a desenvolver-se como cidade do lazer e da hospitalidade, dos festivais, das feiras, das compras, das confecções, do fashion. E mais: cidade tecnológica, polo de saúde e educação, sem contar o rico espectro do turismo e da indústria da criação.

Mas nada prosperará sem desenvolvimento espacialmente equilibrado no Estado e sem intenso e contínuo esforço de qualificação das pessoas, para se ter qualidade de vida para todos e se romper de vez com as fronteiras que hoje dividem e segregam a cidade e conduzem à violência que tanto nos oprime.


*Cláudio Ferreira Lima é economista

Fonte: O Povo

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